Uma das mais importantes artistas atuantes no Brasil no último século, a nipo-brasileira Tomie Ohtake (1913-2015) teve, em vida, obras expostas em quase todas as grandes instituições de arte do país, com dezenas de mostras individuais ou coletivas. O enorme reconhecimento culminou, inclusive, na construção do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, um dos principais centros de artes plásticas da cidade, e no recebimento de vários prêmios e condecorações no País. Já no exterior, Tomie ainda não havia recebido o mesmo destaque, mesmo tendo realizado algumas mostras individuais e participado de outras coletivas, especialmente entre os anos 1960 e 1980. Hoje, cerca de um ano após sua morte, o quadro parece estar mudando.
Após ter uma sala dedicada à sua obra na feira Frieze Masters, em Londres (dedicada à arte histórica, antiga e moderna) em outubro do último ano, e trabalhos expostos em uma mostra em Hong Kong, Tomie é agora tema de exposição individual na Tina Kim Gallery, em Nova York, uma importante casa da metrópole norte-americana. Segundo o filho da artista e diretor do instituto paulistano, Ricardo Ohtake, a mostra é só a primeira de algumas que devem se seguir pelo mundo. Por enquanto, retrospectivas de Tomie estão planejadas também para a Trienalle, em Milão, e para o Museu de Arte Contemporânea de Tóquio.
“Ela já era bastante conhecida fora, mas, concretamente, tinha poucas exposições ou obras em coleções. Agora, após a morte, isso está vindo com tudo”, diz Ohtake. “Há também um trabalho nosso, mas todas essas exposições são sugestões que vêm de fora. Nós nunca fomos fanáticos para fazer a divulgação da obra dela, vamos mais ou menos respondendo àquilo que a torcida pede”, afirma.
Ohtake conta também que, para além das exposições, as obras de Tomie têm sido cobiçadas por grandes instituições e importantes colecionadores. Uma tela da artista, doada por uma colecionadora venezuelana, acaba de ser aceita pelo conselho da Tate Modern (Londres) para integrar a coleção permanente do museu. Em Nova York, na abertura da mostra na Tina Kim, estavam presentes diretores do MoMA, da American Society e do Museu do Brooklyn. Aproveitando o contexto, a galeria paulistana Nara Roesler, que representa a artista, também levou suas obras para Nova York, na recém-inaugurada filial na cidade, e também para seu estande na feira Art Basel Hong Kong que acontece de 24 a 26 março.
O maior interesse pela obra de Tomie, que nasceu no Japão e começou a produzir apenas no Brasil, vem junto a um crescente olhar para a obra de artistas orientais com trajetória semelhante – saídos de seus países para viver no ocidente –, segundo relata Ohtake. Ele conta que a galerista nova-yorkina, filha de coreanos, relatou sobre o interesse da crítica e de instituições pelas obras de alguns destes artistas ligados ao minimalismo e ao expressionismo abstrato, principalmente. O destaque certamente agrada Ohtake e outros familiares, que se dizem menos preocupados em vender as obras para colecionadores dispostos a pagar caro, e mais em inseri-las em instituições que podem exibir o trabalho de Tomie mundo afora.
*A artista já foi tema de diversas matérias na Brasileiros, entre elas As Cores de Tomie Ohtake, de Fernanda Cirenza e Hélio Campos Mello, e Foi bom conhecer Dona Tomie.
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