Depois de interferir sucessivamente em vários espaços pelo Brasil, Carlito Carvalhosa finalmente chegou ao Marron Atrium do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York. Distinção concedida a alguns eleitos, o cobiçado ambiente da instituição recebe uma versão da obra A soma dos dias até 14 de novembro. O projeto foi organizado por Luis Pérez-Oramas (curador-geral da próxima Bienal de São Paulo) e pelo The Estrellita Brodsky Curator of Latin American Art. Na verdade, Sum of Days (como a obra é chamada em Nova York) é uma “recriação” do intrigante labirinto branco que o artista apresentou na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2010, com a proposta de “apagar” a visão, aguçar a audição e levar o espectador a perder referências. Ofuscantes tecidos brancos obstruem a paisagem e levam o espectador a se concentrar nos sons que, diariamente captados no local e retransmitidos sobrepostos uns aos outros, perfazem a “soma dos dias” a que o título da obra alude. As referências espaciais, conhecidas pelos visitantes que já foram ao átrio do MoMA em outras ocasiões, são totalmente interrompidas e deslocadas durante a experiência que Carvalhosa propõe. Outro elemento sonoro presente na exposição são as periódicas performances musicais de Lisa Bielawa, David Crowell e Philip Glass, entre outros. É bom lembrar que Carlito Carvalhosa não se repete. Primeiro, explica-se, porque, paulistano de origem, ele começou a carreira nos anos 1980 com pinturas gestuais de grandes dimensões; quando se radicou no Rio de Janeiro, partiu para esculturas e materiais diversos e, depois, ainda estudou em uma Alemanha fértil às investigações de suportes e suas múltiplas qualidades estéticas. Quer dizer, expandindo horizontes, ele passou por esculturas de gesso, óleo, graxa e resina sobre espelho, porcelanas; enfim, uma diversidade e tanto de experimentações.
Tamanha diversidade também resulta de outra particular vertente de seu processo criativo. Ele mesmo já disse que é o espaço que define sua obra. O que significa que são as peculiaridades do átrio no MoMA que ditam as características de A soma dos dias nova-iorquina, muitas delas não desvendadas pelo projeto. No começo deste ano, ele apresentou Qualquer direção na Silvia Cintra + Box4, do Rio de Janeiro – uma exposição com 20 trabalhos inéditos, reunindo um grupo de placas de alumínio com intervenções, um conjunto de pinturas sobre placas e uma instalação com lâmpadas fluorescentes. O artista comentou, na época, que “os trabalhos serão sempre diferentes fora daqui”.
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Tudo isso mostra que, para Carvalhosa, o que importa é sua relação com o espaço. De fato, neste ano de 2011, ele andou brincando em outras paralelas, criando contrapontos curiosos. Nos ambientes suntuosos do Palácio da Aclamação, em Salvador, Bahia, por exemplo, dentro do projeto Roteiro para a Visitação, o artista plantou enormes toras rústicas de madeira, chocando arte contemporânea com patrimônio histórico. Na Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro, o resultado de sua instalação Regra de Dois foi igualmente instigante, já que ele distribuiu pelo chão de um espaço em estilo antigo e sóbrio 202 lâmpadas fluorescentes, além de numerosos copos e taças de vidro, aproveitando transparências e reflexos.
Assim sendo, para o primeiro brasileiro a ocupar o átrio do MoMA, o convite foi o começo de um projeto que só se finaliza in loco. Suas obras somente se formam quando criadas no ambiente, nas reais condições encontradas e dependendo das escalas, ainda que previamente preparadas em maquetes. Portanto, a despeito de partir de um mesmo princípio, A soma dos dias que Nova York está tendo a oportunidade de apreciar é única. Assim como as demais incursões desse artista que já participou de importantes mostras internacionais do nível da Bienal Internacional de São Paulo, em 1985, e da Bienal de Havana, Cuba, em 1986.
The Museum of Modern Art (MoMA)
11 West 53 Street – New York, NY
Até 14 de novembro
Twitter da instituição: @MuseumModernArt
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