Liderada pelo escocês Charles Esche, curador-geral da próxima Bienal de São Paulo, a equipe curatorial da 31ª edição da mostra, realizada pela primeira vez em 1951, antecipou, ontem, 25.3, proposições de 35 artistas, de um total de 75, brasileiros e estrangeiros, que vão expor suas obras entre os dias 06 de setembro e 07 de dezembro, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, sediado no Parque Ibirapuera.
Conceitos como transgressão, trânsito, transexualidade e misticismo – não na acepção esotérica, mas transcendental, da palavra, como defenderam os curadores – deverão atribuir à jornada poética da próxima Bienal um caráter político, marcado por subjetividades características dos processos de transformação, e não por discursos panfletários.
A certa altura das apresentações, a curadora-associada Luiza Proença cunhou, meio de supetão, o rótulo “trans-Bienal”. Para alguns dos presentes a expressão deve ter soado hermética – ou mesmo exótica, como apontou um dos jornalistas –, mas Esche e a equipe de curadores consentiram que o termo é razoável para sintetizar a carta de intenções da próxima Bienal.
Além de Esche e Luiza, também estiveram presentes a israelense Galit Eilat e os espanhóis Pablo Lafuente e Nurya Enguita Mayo. Da equipe de seis curadores elencada pelo escocês, o único que não pôde comparecer foi o também israelense Oren Sagiv, responsável pelo projeto expográfico da mostra. Fato que impossibilitou antecipar como se dará a distribuição das obras em uma edição atípica da Bienal, com uma média de 30 participantes a menos que o usual (na 30° edição foram expostos trabalhos de 110 artistas).
Luís Terepins, presidente da Fundação Bienal, o curador associado Benjamin Serroussi, e Daniela Azevedo, do núcleo educativo, também marcaram presença no encontro realizado, ontem, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, o icônico prédio sede da Fundação Bienal, projetado por Oscar Niemeyer e entregue a cidade de São Paulo em 1957.
A propósito do arquiteto, morto no final de 2012, aos 104 anos, logo no início da coletiva, Esche observou que esta será a primeira Bienal desde a partida de Niemeyer. O comentário incitou as primeiras discussões sobre o que se pode esperar da próxima mostra. Para o curador associado Benjamin Serroussi, a estrutura dinâmica do pavilhão, um marco da arquitetura moderna brasileira, e o rigor funcional dos espaços criados por Niemeyer deverão estimular o público a pensar em conceitos fluídos, como jornada, percurso e trajetória, todos eles caros a proposta da equipe curatorial que, há meses, também empreende jornadas, no Pavilhão, e em capitais como Porto Alegre, Belém, Belo Horizonte e Fortaleza, onde estão sendo realizados encontros com artistas que participarão da Bienal (leia relato de Charles Esche).
Na “trans-Bienal”, além de ganharem o tratamento de projetos – com a premissa de interlocução com os múltiplos artistas e coletivos – e não de “trabalhos”, o conjunto de obras que será apresentado pelos 75 participantes não terá, desta vez, um tema unificador, mas um título geral: Como Falar de Coisas Que Não Existem. Frase estampada nas margens do cartaz da mostra, que traz o desenho de uma criatura, sem rosto e octópde, feito pelo artista indiano Prabhakar Pachpute, um dos destaques da mostra. Segundo Esche, o desenho – que remete as criações bestiais do gravador Marcello Grassmann (1925 – 2013) – sintetiza quatro ideias centrais para a equipe curatorial: imaginação, transformação, coletividade e conflito.
Ao longo da “jornada expositiva” nos corredores do pavilhão, as tais “coisas que não existem” surgirão, ou passarão a existir, a partir de estímulos à subjetividade interpretativa de cada um dos visitantes. É o que espera a equipe curatorial, que não antecipou os nomes de todos os artistas, mas garantiu: do total selecionado, cerca de 25 por cento dos artistas serão brasileiros, número que, portanto, não chegará a duas dezenas (em 2012 estiveram na Bienal 23 brasileiros, confira abaixo a lista com os 35 primeiros artistas anunciados ontem e suas nacionalidades).
Segundo o presidente da Fundação Bienal, a mostra terá um orçamento de R$ 25 milhões, R$ 4 milhões a mais do que o da 30° edição, sendo que, 85 por cento do total já foi captado. “Os outros 15, como sempre, os mais difíceis!”, brincou Terepins, que também antecipou uma bem-vinda parceria entre a Fundação Bienal e o SESC. A dobradinha resultará em uma itinerância das mostras paralelas em seis cidades do interior paulista. Outro fato comemorado pelo presidente foi a produção antecipada do material que será utilizado pelo núcleo educativo da Bienal, dirigido por Stela Barbieri (leia perfil).
Como em outras edições a mostra, deverá atrair um público médio de 400 a 500 mil visitantes – parte significativa deles, composta por professores e seus grupos de estudantes.
Os 35 artistas já confirmados para a 31ª Bienal de São Paulo
Alessandro Petti (Itália)
Ana Lira (Brasil)
Armando Queiroz (Brasil)
Ager Jorn (Dinamarca)
Basel Abbas (Chipre)
Bruno Pacheco (Brasil)
Contrafilé (Brasil)
Danic Dakic (Bosnia e Herzegovina)
Edward Krasinski (Polônia)
Etcétera… (Argentina)
Graziela Kunsch (Brasil)
Halil Altindere (Turquia)
Imogem Stidworthy (Inglaterra)
Ines Doujak (Áustria)
Jo Baer (Estados Unidos)
John Barker (Áustria)
Juan Downey (Chile)
Juan Pérez Agirregoikoa (Espanha)
Leigh Orpaz (Estados Unidos)
Lia Rodrigues (Brasil)
Lilian L’ Abbate Kelian (Brasil)
Nurit Sharett (Israel)
Pedro G. Romero (Espanha)
Prabhakar Pachpute (Índia)
Romy Pocztaruk (Brasil)
Ruane Abou-Rahme (Estados Unidos)
Sandi Hilal (Palestina)
Sheela Gowda (Índia)
Teresa Lanceta (Espanha)
Tunga (Brasil)
Val Del Omar (Espanha)
Virginia de Medeiros (Brasil)
Walid Raad (Líbano)
Yael Bartana (Israel)
Yochai Avrahami (Israel)
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