Retrospectiva de Beatriz Milhazes no Espaço Cultural Uniflor, em Fortaleza

O Moreno, uma das obras centrais da mostra Coleção de Motivos, retrospectiva de Beatriz Milhazes, no Espaço Cultural Unifor, em Fortaleza, fez com que o teto do lugar fosse, literal- mente, quebrado, para que a obra participasse da exposição. Esse esforço para receber a tela de 2005 já havia ocorrido na casa de seu proprietário, Airton Queiroz, o chanceler da universidade e, atualmente, o mecenas mais ativo do Nordeste. Em sua residência, foi o piso que precisou ser rebaixado para receber a tela de 3 m de altura.

Comprador voraz, tanto para sua coleção particular quanto para a Fundação Edson Queiroz, que administra a Universi- dade de Fortaleza (Unifor), Airton Queiroz não tem medido esforços para colocar sua cidade natal no mapa das artes do País. Antes de Milhazes, mostras de Miró, Rembrandt, Iberê ou coletivas organizadas por curadores de renome, como Paulo Herkenhoff, atestam uma rara disposição de incentivo às artes visuais. Agora, em Coleção de Motivos, alterar o teto é apenas um detalhe da mostra bem cuidada, com cerca de 50 obras, com curadoria de Luiza Interlenghi.

Exposições com esse caráter costumam ser celebradas por galeristas, mas a empolgação de Alessandra D’Aloia, da For- tes Vilaça, e Stephen Friedman, o representante de Milhazes em Londres, estava além do normal na abertura da mostra, no fim de fevereiro passado. “Acho que é uma das melhores exposições da Bia, que mais dão conta de seu trabalho, jus- tamente por apresentar seu processo de trabalho, o que faz  todo sentido em uma universidade”, disse D’Aloia, com suporte do colega.
De fato, pela primeira vez, a artista apresentou sua “coleção de motivos”, de onde vem o nome da retrospectiva, plásticos transparentes pintados e reutilizados em diversas telas. Apresentadas em mesas ao longo da mostra, essas transferências revelam o vocabulário que Milhazes desenvolveu ao longo de sua carreira.

Reconhecida especialmente por alcançar valores inéditos para artistas brasileiros no mercado de arte internacional – em 2012, sua tela Meu Limão alcançou US$ 2 milhões em um leilão da Sotheby’s –, Milhazes possui uma poética que mistura erudito e popular de forma singular. Segundo Interlenghi, a artista “revisita paradoxos que marcam a história da arte: o Brasil moderno e caipira de Tarsila, o barroco religioso e a sedução profana das festas populares”.

Na exposição, pinturas, colagens e gravuras são dispostas lado a lado, sem hierarquias, reforçando como, independentemente do suporte, Milhazes criou um repertório visual baseado em cores vibrantes e formas que lembram das volutas bar- rocas às serpentinas de carnaval.

“Repetir, repetir até ficar diferente” é um verso do poeta Manoel de Barros decalcado em uma parede logo no início da mostra. Sintético, ele resume a estratégia de Milhazes com o uso das transparências. Contudo, é repetindo com um refinado uso da cor, que Coleção de Motivos atesta a importância da artista na produção brasileira.

Beatriz Milhazes – Coleção de Motivos
Espaço Cultural Unifor – 
Até 24 de maio

*O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da Fundação Edson Queiroz


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