Com três filmes brasileiros em cartaz, começa na próxima quarta-feira (2) a 72ª edição do Festival de Cinema de Veneza, considerado um dos mais importantes do mundo. O maior país da América Latina estará representado pelos longas Mate-me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira, e Boi neon, de Gabriel Mascaro, além do curta-metragem Tarântula, de Aly Muritiba e Marja Calafange.
Todos eles participam da mostra Horizontes, criada em 2004 para premiar produções de “novas tendências estéticas e expressivas”, sem distinguir gênero ou duração. Ainda que nenhum dos três esteja na disputa pelo cobiçado Leão de Ouro – o prêmio mais importante entregue pela Biennale -, o número representa um raro espaço dado pelo festival ao cinema do Brasil.
Dos mais de 40 países presentes na mostra, apenas seis contam com mais produções: Estados Unidos, México, Reino Unido, França, Bélgica e, naturalmente, Itália. “Desde 2011 nem entrava filme brasileiro em Veneza [em 2014, o curta de animação Castillo y el armado, de Pedro Harres, participou da Horizontes]. Ter três neste ano é algo para comemorar muito”, diz Anita Rocha da Silveira, que conseguiu ser selecionada logo em seu longa de estreia, Mate-me Por Favor.
Ambientada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, a obra tem como plano de fundo uma série de assassinatos de jovens mulheres e mostra como adolescentes do bairro convivem com essa onda de crimes. “Eles se fascinam, o adolescente quer sempre estar no limite”, conta a jovem diretora, formada em cinema em 2008 pela PUC Rio.
Anita foi para Veneza ao lado de mais 10 pessoas da equipe de Mate-me Por Favor, muitas delas companheiras de classe da cineasta na faculdade e também estreantes em longas-metragens. “A galera está muito empolgada, torrando as economias. Esperamos ser bem recebidos e que outros festivais também se interessem”, acrescenta.
Seu filme estreia na mostra em 9 de setembro, às 14h45 (horário local), e também será reproduzido no dia seguinte. Antes dele, na próxima quinta-feira (3), segundo dia de evento, acontece a exibição do curta Tarântula, fruto da colaboração entre Aly Muritiba e Marja Calafange.
“Foi uma surpresa, nós fizemos a inscrição do filme tentando uma chance, mas não parecia algo tangível. É um trabalho pequeno, não é pretensioso”, afirma o cineasta baiano. A obra relata a vida de uma família de mulheres que vive em um casarão isolado e é perturbada pela chegada de um homem.
O filme, como tantos trabalhos hoje em dia, nasceu graças às redes sociais. Após ter visto um teaser de uma produção de Muritiba, Marja entrou em contato com ele através da internet e os dois começaram a trocar ideias. Um dia, ela enviou uma foto intrigante que mostrava uma menina de castigo virada para a parede ao lado de suas bonecas, que também pareciam estar sob punição. A partir daí, os dois desenvolveram uma história sobre culpa, cuidado, ausência e proteção.
“Vai ser a estreia mundial do filme, seu primeiro termômetro. Ele nunca foi exibido publicamente, espero que as pessoas se conectem. Ele tem elementos do folclore brasileiro, quero ver como o público gringo vai sentir isso”, ressalta Muritiba. A mostra Horizontes concede cinco prêmios: melhor filme, melhor direção, melhor ator/atriz, melhor curta-metragem e prêmio especial do júri, que é formado por Jonathan Demme, Anita Caprioli, Fruit Chan, Alix Delaporte e Paz Vega.
Na disputa pelo Leão de Ouro destacam-se as produções e coproduções europeias, incluindo quatro italianas: Sangue Del Mio Sangue (Sangue do Meu Sangue), de Marco Bellocchio; A Bigger Splash (Um Mergulho Maior), de Luca Guadagnino; L’attesa (A Espera), do estreante Piero Messina; e Per Amor Vostro (Pelo Seu Amor), de Giuseppe Gaudino.
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