Correspondente do “The New York Times” aborda a celeuma política em torno de “Aquarius”

Manchete e foto de destaque do artigo de Simon Romero. Foto: Reprodução / The New York Times
Manchete e foto de destaque do artigo de Simon Romero. Foto: Reprodução / The New York Times

Com o título Política Brasileira Sufoca Ambições de Filme ao Oscar, Simon Romero, correspondente do jornal The New York Times no Brasil, aborda, em artigo publicado nesta terça-feira (27), supostas ingerências ideológicas em torno de Aquarius, segundo longa-metragem do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, do premiado O Som ao Redor (2012).

Em retrospecto, o jornalista elenca episódios que sucederam o protesto protagonizado pelo cineasta e parte do elenco e da equipe de Aquarius durante o Festival de Cannes, na França, em maio último, contra o governo de Michel Temer. Constam do texto: a campanha virtual de boicote ao filme; a tentativa do Ministério da Justiça de classificar a produção como inadequada para menores de 18 anos; o posicionamento público em oposição ao longa do crítico Marco Petrucelli, um dos membros da comissão que julgou o candidato do Brasil ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; a indicação do inédito Pequeno Segredo, de David Schurmann, para concorrer à pré-seleção da premiação.

Destacando posicionamentos opostos, Romero não aponta conclusões, mas municia o leitor norte-americano de informações que dimensionam a celeuma política em torno de Aquarius. Ele menciona, por exemplo, o constrangimento enfrentado pelo ministro da Cultura, Marcelo Calero, que teve sua presença repudiada pelo público dos festivais de Gramado e Petrópolis sob vaias de “golpista” (“putschist”, na tradução do jornal). O repórter também inclui excertos de uma crítica do jornalista Alcino Leite Neto, veiculada no jornal Folha de São Paulo, que classificou Pequeno Segredo como “um oceano de clichês e sentimentalismo”. Na sequência, Romero acrescenta um depoimento de Gabriel Mascaro, diretor do premiado Boi Neon. Na opinião do conterrâneo de Mendonça Filho, o processo de seleção realizado pela comissão escolhida pelo Ministério da Cultura para julgar os candidatos ao Oscar foi tão obscuro que tornou ilegítima a escolha de Pequeno Segredo.

Em contrapartida, o jornalista reproduz opinião de Schurmann manifestada em entrevista coletiva à imprensa brasileira. “Entendo a controvérsia, mas Pequeno Segredo é mais adequado ao Oscar”, disse. Também reverbera no artigo as palavras do cineasta Bruno Barreto, presidente da comissão que julgou os candidatos à pré-seleção do Oscar, que reiterou o argumento de adequação defendido pelo diretor nomeado pelo MinC. “Tivemos de escolher um filme que não necessariamente é o melhor, mas que tem o perfil da Academia de Hollywood, composta por pessoas mais velhas”.

Fato não mencionado no artigo de Romero, a ausência de Aquarius na pré-seleção da categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2017 tem chance real de ser ainda mais questionada com uma novidade que pode chancelar a argumentação de que as qualidades artísticas do longa-metragem foram preteridas por questões meramente ideológicas: a eventual nomeação de Sonia Braga na categoria Melhor Atriz (no início do texto, o jornalista refere-se à Clara, personagem de Sonia, como “uma mulher de meia idade que fuma maconha”).

A especulação da indicação é crescente e deve ganhar tons de campanha, como antecipou no último domingo (25) reportagem do Screen Daily. Segundo o veículo especializado em cinema, a distribuidora norte-americana de Aquarius, Vintagraph Films, iniciará, daqui a duas semanas, um movimento em defesa da indicação de Sonia ao Oscar. A ação terá início com um jantar em Los Angeles, programado para a véspera do lançamento do filme nos cinemas daquele país, em 14 de outubro. Antes, o longa terá pré-estreia no New York Film Festival. Na última semana, a propósito, com o prestígio mundial de Aquarius, que já foi vendido para mais de 60 países, Sonia e Mendonça Filho foram convidados a participar da cerimônia em celebração aos 70 anos do Festival de Cannes.              

Simon Romero encerra o artigo (leia) com o veredicto de Mascaro – que, aliás, desistiu de participar da seleção do MinC (saiba mais), em defesa de Aquarius. “É uma vergonha, mas é sintomática do momento político que estamos agora enfrentando no Brasil”.

CONTEÚDO!Brasileiros
– Em agosto, Sonia Braga foi capa da edição 3 de CULTURA!Brasileiros. Leia a reportagem.
– Na mesma edição, Kleber Mendonça Filho também foi entrevistado. Leia.
– Em maio último, o cineasta pernambucano afirmou, em entrevista ao The New York Times, que o Brasil passava por um “golpe de estado moderno e cínico”. Saiba mais.        

                                             


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