Documentário exibe polêmica em torno de máquinas musicais colombianas

Picó Sibanicú, de Barranquilla, na Colômbia - Foto: Reprodução
Picó Sibanicú, de Barranquilla, na Colômbia – Foto: Reprodução

Escutar música em volume alto em festas que reúnem um número considerável de pessoas nas ruas até o amanhecer pode ser uma prática até conhecida entre nós, brasileiros, independente da região do País: o funk no Rio de Janeiro, o pagode em São Paulo, o forró em cidades nordestinas, o sertanejo no centro-oeste ou o cancioneiro tradicional do Sul, com demasiada generalização. No entanto, estamos longe de tornar esses eventos populares uma cultura enraizada e, mais do que isso, torná-los símbolos de cidades, como mostra o documentário colombiano Picó, la máquina musical del Caribe, do diretor Roberto De Zubiría, que faz parte da programação do 10º Festival Latino-Americano de Cinema, de São Paulo, iniciado na quinta-feira (30) e que vai até o dia 5 de agosto e que foi visto antecipadamente por Brasileiros.

Os “picós” são caixas de som gigantescas e ornadas com desenhos e uma pequena cabine onde DJs animam festas de rua com as músicas caribenhas tradicionais, como reggaeton e salsa. A cultura “picotera”, como se diz na Colômbia, se tornou uma tradição popular nos anos 1950 nos bairros de classe baixa de cidades da costa colombiana, como Cartagena de Índias e Barranquilla, e, no início, era apenas uma festa na rua com caixas de som comuns instaladas por um morador qualquer. Os eventos, no entanto, foram evoluindo com o tempo e ganhando competitividade: um morador duelava com o outro pela glória de ter mais músicas disponíveis para tocar, ou pelos desenhos feitos nas caixas de som ou, enfim, pelo “animador” que gravava as vozes que se intercalavam entre as canções.

Em suma, é um tipo de discoteca ambulante que reúne multidões nas ruas de bairros de Barranquilla, Cartagena e municípios vizinhos, comandados pelos donos dos picós, os chamados “picoteros”. 
Quando a tradição cresceu, tornou-se independente da indústria: os picoteros começaram a cobrar ingressos para as chamadas “batalllas picoteras” (quando um enfrenta dois ou mais representantes de outro picó). Muitos picoteros são famosos hoje, como El Coreano, El Jude e Sibanicú. 

Hoje, os picós chegam a reunir milhares de pessoas nas praças do Caribe e são parte de uma polêmica recente na Colômbia, quando brigas, tráfico de drogas e até mortes começaram a ser registradas ao redor das caixas de som. Em Picó, la máquina musical del Caribe, os diretores se ocupam de mostrar todos os passos de criação de um picó: do DNA musical que ele deve ter até a necessidade de permissão das autoridades nas festas semanais em que eles estão envolvidos, sem deixar de falar dos problemas e de certa restrição das camadas mais alta da sociedade em relação às festas.

Zubiría conta que a ideia de produzir o documentário surgiu após uma viagem por povoados caribenhos após a produção de uma série para a televisão colombiana. “Nos deparamos com essas máquinas e me dei conta imediatamente da importâncias que esses sound systems têm para o divertimento das pessoas. Entendi, mais do que isso, a importância que elas exerceram no desenvolvimento da cultura musical do Caribe colombiano”.

O documentário mostra ainda o cotidiano do profissional que se dedica a montar a estrutura de madeira dos picós, o que instala os fios elétricos e os alto-falantes, o que pinta as caixas já prontas e os que animam as festas, seja comandando a mesa de som, seja gravando mensagens entre as músicas. Em suma, é um filme excepcional para compreender a musicalidade do povo de um país tão próximo ao nosso.

Exibição no 10º Festival de Cinema Latino-Americano
Cinesesc – 5 de agosto – 17h
R. Augusta, 2075. Cerqueira César
Tel. (11) 3087-0500


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