Dois dos maiores e mais premiados escritores brasileiros da atualidade estiveram na noite desta terça (5) na FNAC Pinheiros, em São Paulo. Mediados pela jornalista Renata Megale, Milton Hatoum, autor de Dois Irmãos e Relato de um Certo Oriente, e Bernardo Carvalho, de Nove Noites e Reprodução, falaram para um público relativamente grande sobre seus livros de cabeceira. O debate foi uma prévia do programa “Livro de Cabeceira”, da Cartola Filmes, que mostra, em três a quatro minutos, as preferências literárias de autores como Fernanda Torres, Carlos Heitor Cony e Luiz Ruffato, Marçal Aquino, entre outros. O primeiro episódio, com Marcelino Freire, vai ao ar nesta quinta de manhã pelo canal do YouTube e à noite no Curta!
No debate desta terça, Hatoum, nascido em 1952, começou contando de sua infância, e de como suas primeiras influências narrativas vieram não pela leitura, mas pelas histórias que lhe eram contadas. “Manaus era então uma cidade muito mais distante e ilhada do que hoje. Não havia TV, era jornal e rádio.” E citou Graciliano Ramos, Machado de Assis e Gustave Flaubert como os autores que o marcaram mais profundamente à medida em que foi crescendo. Preocupado com os muitos jovens que não têm acesso à leitura, lembrou como é importante “ver o mundo de outras formas, ver outros mundos.”E, usando 50 Tons de Cinza como exemplo, desabafou contra “a praga do best-seller mundial”.
Carvalho, nascido em 1960 no Rio de Janeiro, contou, por sua vez, dos livros de ficção científica B e mistério que sua mãe lia para ele quando pequeno, e de como tinha medo de O Saci, de Monteiro Lobato. Explicou que escolheu O Mestre e Margarida, do russo Mikhail Bulgákov, como seu livro de cabeceira por conta da mistura peculiar e codificada de situações reais da vida do autor, a um só tempo adulado e perseguido por Stálin, e a ficção e fantasia. Ao final, lembrou de um ensaio de Cesar Aira, em que o romancista argentino elege as categorias “processo” e “resultado” para dividir os livros: os primeiros seriam aqueles que deixam transparecer as preocupações e interesses íntimos e formais do autor, e portanto mais afinados com as vanguardas do século 20, ao passo que os últimos seriam objetos prontos e confortáveis para consumo.
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