A bebida era champanhe, o local o Shopping JK Iguatemi e o assunto em pauta era a favela. A combinação, não muito harmoniosa, foi proposital. O livro “Um País Chamado Favela” expõe a realidade de dentro das comunidades sob o olhar dos próprios moradores, realidade essa desconhecida para grande parte do público que costuma frequentar as refinadas lojas do shopping que recebeu o lançamento do livro.
Antes da já famosa mesa de autógrafo e fotografia, Celso Athayde, criador da Central Única das Favelas (CUFA), e Renato Meirelles, presidente do Data Popular, autores do livro, reuniram o público no auditório da Livraria da Vila para falar um pouco sobre o estudo que resultou na obra. “No Brasil, existem 12 milhões de pessoas morando nas favelas. Se fosse um estado, seria o quinto maior do País, maior que o Rio Grande do Sul”, contou Meirelles.
O ineditismo do trabalho se deve, principalmente, à forma com que o trabalho de pesquisa foi concebido: o entrevistado é da favela, assim como o entrevistador. Moradores de cada um dos 63 complexos foram capacitados para fazer parte do projeto. “Falamos com mais de duas mil pessoas ao todo. Nossa ideia é construir pontes e destruir muros. As favelas precisam ser colocadas na pauta das políticas públicas”, colocou Renato Meirelles.
Se no passado favela era sinônimo de pobreza, hoje essa não é mais a verdade absoluta. Em 2013, mais de R$ 63 bilhões de reais foram movimentados e 94% dos moradores se dizem felizes, um número bem superior a estatística do brasileiro em geral. “Dois terços da população da favela diz que não sairia de lá nem se suas rendas triplicassem. Isso porque na favela existe uma solidariedade que é mais forte que em qualquer outro lugar. Tudo é compartilhado, existe uma condição que facilita a vida”, explicou Meirelles.
Celso Athayde, também autor do livro, é um ativista social e cresceu na favela do Sapo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Hoje dedica seu tempo e sua vida para ajudar as comunidades, dar voz a elas e dar condições para seus moradores. “Me preocupa o fato dos ‘asfaltistas’ pensarem que na favela não se cria pensamentos, só se reproduz, isso não é verdade. A miséria é um fruto da elite”, terminou o autor.
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