Os imperdíveis!

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Terceiro volume desta que talvez seja a empreitada literária mais importante de nossos tempos, como disse a escritora Rachel Cusk, trata das memórias do autor quando menino e a construção de sua identidade em um lar dividido entre o carinho da mãe e a tirania do pai. Com seis volumes, a série Minha Luta é um fenômeno mundial, aclamada por críticos e sucesso de público. Ao relembrar em detalhe cada momento em sua vida, mesclando descrições a digressões, o norueguês Knausgard é frequentemente comparado a Proust.

“As sombras caíram sobre o morro mais além, e pareceram tão longas e distorcidas que não tinham mais quase nenhuma semelhança com as formas que as projetavam. Como se nascessem de si mesmas, por direito, como se existissem numa realidade paralela de escuridão.”

A Ilha da Infância
Karl Ove Knausgard
Tradução de Guilherme da Silva Braga
Companhia das Letras, 440 páginas

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O livro, resultado da tese de doutorado defendida pela autora na USP, divide-se em três partes: a primeira trata do contexto em que Sade escreveu Juliette; a segunda descreve as teorias libertinas dos preceptores da heroína; e a terceira é dedicada exclusivamente a Juliette. Combinando erudição acadêmica e sensibilidade literária, a autora parte da análise minuciosa dos personagens de Histoire de Juliette, ou les prosperités du vice (sem tradução no Brasil), para refletir sobre a “filosofia lúbrica” do Marquês de Sade.

“Na Histoire de Juliette (…) a virtude é uma característica das vítimas. O mestre libertino, em contrapartida, é determinado pelas paixões fortes em seu grau mais elevado. Para se desenvolver como indivíduo, ele (…) busca excessos cada vez mais monstruosos.”

Os Libertinos de Sade
Clara Castro
Iluminuras, 312 páginas

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O livro foi publicado pela primeira vez na França, em 1992. Em seguida, foi traduzido para várias línguas, inclusive português, numa edição esgotada há tempos. Esta é uma nova tradução, com um novo prefácio assinado pelo brasileiro Löwy e o norte-americano Sayre. Os autores mostram como o romantismo expressa mais que uma corrente artística europeia do começo do século 19, e constitui, também em outras áreas (política e filosofia), um questionamento profundo da economia de mercado e da sociedade dominada por ela.

“Enigma aparentemente indecifrável, o fato romântico parece desafiar a análise (…) sobretudo por seu caráter fabulosamente contraditório (…) ao mesmo tempo (ou alternadamente) revolucionário e contrarrevolucionário, individualista e comunitário, místico e sensual.”

Revolta e Melancolia
Michael Löwy e Robert Sayre
Tradução de Nair Fonseca
Boitempo Editorial, 288 páginas

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Updike é um dos quatro grandes da literatura norte-americana dos anos 1960 e 70 (Saul Bellow, Philip Roth e Norman Mailer são os outros). Venceu duas vezes os prêmios Pulitzer e National Book. Era também contista, poeta e crítico de arte. Quando lançado, em 1976, este que é o oitavo romance de Updike foi considerado por parte da crítica como seu melhor livro. A história, descrevendo um caso extraconjugal, lembra outro grande sucesso do autor, Casais, de 1968 (também da Biblioteca Azul).

“De joelhos, ambos começaram a juntar as coisas e a ponderar as frágeis mentiras que precisariam levar para casa. Ela, sua Sally, parecia tão calma e dócil, na luz de areia (…) que ele a abraçou vorazmente, pela última vez naquele dia. Todos os abraços deles pareciam os últimos.”

Quer Casar Comigo?
John Updike
Tradução de Pedro Sette-Câmara
Biblioteca Azul, 328 páginas

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Como diz a autora, na introdução, os gregos antigos consideravam os mitos não apenas histórias contadas, muitas delas a partir dos poemas de Homero e Hesíodo, mas também como sua própria história – o maior exemplo disso são os contos em torno da Guerra de Troia. Deuses, heróis e monstros povoam esse guia saboroso de mitologia da Grécia e Roma antigas. Estão aqui todas as lendas mais difundidas, como os 12 trabalhos de Héracles e o voo de Ícaro, e também histórias menos famosas, o que só aumenta o interesse do livro.

“Aquiles está diante dos barcos gregos e uma chama arde ao redor de sua cabeça, acesa por Atena. Por três vezes o ar reverbera seus gritos de guerra, e os troianos se dispersam em pânico, dando ao gregos tempo para retirar o corpo de Pátroclo em segurança do campo de batalha.”

Mitos Clássicos
Jenny March
Tradução de Maria Alice Máximo 
Civilização Brasileira, 560 páginas

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Poucos livros retratam tão bem o fim melancólico de uma era, seus valores e costumes. No caso, o domínio da monarquia dos Habsburgos, que se estendia até os confins da Rússia, e só terminou com a Primeira Guerra Mundial, quando os nacionalismos se impuseram.  Clássico do grande escritor judeu (1894-1939) mostra a progressiva decadência de uma família ligada ao Kaiser – o avô havia salvo a vida do líder do Império austro-húngaro em uma batalha, o filho tornara-se um burocrata e o neto um militar medíocre.

“Como alguém que estivesse acorrentado e inconsciente, ele via, pelas pálpebras semicerradas, que ela o estava despindo, devagar, completamente, maternalmente. Com certo pavor, deu-se conta de que, peça por peça, sua farda de gala desabava, murcha, no assoalho.”

Marcha de Radetzky
Joseph Roth
Tradução de Luís S. Krausz
*Mundaréu, 424 páginas

 

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Sophie Hannah é considerada o maior nome da literatura policial contemporânea no Reino Unido. Também poeta, foi a primeira escritora a obter autorização para escrever novas histórias com Hercule Poirot, famosa criação de Agatha Christie. Em julho, ela estará na Flip. Naomi Jenkins constrói relógios de sol por encomenda. Solteira, mora com uma amiga, e se encontra sempre no mesmo dia e lugar com seu amante, um motorista de caminhão casado. Até que um dia ele não aparece e ela se vê enredada numa trama cheia de reviravoltas.

“Meu agressor foi alguém que eu nunca vira antes e não vi desde então, alguém que me sequestrou à luz do dia e sabia todos os detalhes sobre mim: meu nome, meu trabalho, onde eu morava. Não sei como sabia. Não sei por que me escolheu.”

A Vítima Perfeita
Sophie Hannah
Tradução de Alexandre Martins
Rocco, 432 páginas

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Nascido na Alemanha em 1929, Habermas começou a carreira como assistente de Theodor Adorno no Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt, e ficou conhecido por seus trabalhos sobre o Estado de Direito, a modernidade e a racionalização. Coletânea publicada originalmente em 1985, reúne 13 ensaios do filósofo alemão. Todos os textos formam um corpo crítico e combativo ao novo conservadorismo, com aprofundamento teórico, mas sempre buscando o debate público.

“Quando noto que os estudantes permanecem completamente intocados, de um ponto de vista emocional, por aquilo que faço, por aquilo que fazemos em comum, fico insatisfeito porque sei que faz parte de todo aprendizado também a formação de motivos mais profundos.”

A Nova Obscuridade
Jürgen Habermas
Tradução de Luiz Repa
Editora Unesp, 392 páginas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Comentários

Uma resposta para “Os imperdíveis!”

  1. Avatar de Isadora Pietroni Veiga
    Isadora Pietroni Veiga

    Gosto muito dessa coluna de literatura da revista Brasileiros. Como gosto muito de ler, acompanho mensalmente. É bom saber que ainda existam veículos, como vocês, que privilegiam a leitura e saber. Aliás, vi no site que o editor Daniel Benevides vai mediar uma da mesas na Flip. Estou a caminho de Paraty e quero muito poder vê-lo. Parabéns à revista por preservar ao longo desses anos sua dedicação à cultura.

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