Cercada pela música, Olivia Genesi completa 15 anos de carreira

Cantora, multi-instrumentista, compositora, produtora musical e professora de música. É verdade, artistas com essas qualidades há vários. Mas você conhece a paulistana Olivia Genesi? No Japão e nas redes sociais muitos, mas muitos mesmo, a conhecem.  Agora que a cantora de voz delicada e autênctica completa  15 anos de carreira, com oito álbuns lançados, quatro deles autorais, não dá mais para esperar para ouvir a música que ela faz.

Fluente em instrumentos como baixo, violão, acordeão, escaleta e piano, ela lançou seu primeiro disco homônimo em 2000, apresentando influências de diversas vertentes musicais; da música clássica de Beethoven até o rock inigualável de Led Zeppelin.

Desde então, seu repertório artístico só aumentou. Em 2003, lançou seu segundo álbum, Perto, consolidando sua qualidade para criar arranjos complexos e plurais. Seu mais recente trabalho, Melodias de Sol em Pleno Azul, de 2013, tem traços marcantes de jazz e groove, com uma melodia orgânica e realista.  Em entrevista à Brasileiros, Olivia contou um pouco sobre sua carreira e como a música entrou em sua vida, além da situação do cenário independente brasileiro: “A música independente é um paralelo, não tem nada a ver com o que rola na rádio.”

A cantora também repercutiu a situação dos artistas do País no exterior, polêmica recentemente acesa em função do músico Ed Motta, que criticou os brasileiros que vão aos seus shows em outros países. “Tem muito brasileiro tocando fora do Brasil e hoje em dia não tem esse negócio de uma língua. Outra coisa é que não consigo ver o Mick Jagger falando que acha um saco tocar Satisfaction, que não quer que os fãs peçam essa música.”

Brasileiros – Como começou sua relação com a música?
Olívia Genesi: Eu não tenho lembrança de não tocar, não estudar música, por que comecei com 5 anos. A lembrança que tenho é de ficar tocando um piano imaginário, até minha mãe falar “vamos fazer aula de piano”. Comecei cantando na noite, jazz e blues. Isso antes de lançar meu primeiro disco, quando as minhas composições eram somente de piano. Com 15 anos me formei em piano e canto erudito, cantava ópera e tocava piano o dia inteiro. Nunca tive dúvida de que a música era minha vida, mas como viver disso era uma dúvida. Meu primeiro CD foi lançado em 2000, e, de lá pra cá, são 8 CDs. No Brasil é um pouco complicado você depender só da carreira e de shows. Montei um estúdio para gravação de trilhas e sou técnica de áudio, arranjadora, faço produção, produzo para outros artistas também, dou aula e sigo minha carreira. Então me cerquei totalmente para não ter tempo livre e nem ficar na angústia dos altos e baixos da carreira.

Suas músicas têm várias influências diferentes, desde Led Zeppelin até uma pegada mais bossa nova. De onde vieram estas influências?
Eu acredito que foi o que absorvi na minha vida toda. O rock dos anos 70 é basicamente uma escola pra mim, e o erudito é uma escola careta. Para mim foi exatamente isso, pois eu comecei com um grupo chamado Padre Ciço, que fazia só música experimental, só improviso, tocando em faculdades, no Teatro Faap, Teatro da UNIP e da PUC. Isso foi uma escola da abertura, como se fosse o nosso Woodstock, cada um tinha sua formação bem consolidada e na hora que a gente se juntou resolvemos improvisar. Não tinha nada marcado nada estabelecido então nós tocávamos de acordo com o que o público pedia. Pra gente foi uma experiência de palco antes de qualquer coisa.

Como você está vendo a música independente no Brasil?
Eu acho o cenário brasileiro independente muito rico, como sempre foi e acredito que sempre vá ser, por que as influências são muito ecléticas. O artista brasileiro tem muito de se colocar, não temos insegurança musical e uma escola que seja muito fechada, que não permita ousar. A gente curte essa ousadia e mistura. Acho que a mídia ainda não responde e, talvez, este questionamento de hoje, reflexo das discussões políticas, de “abaixo às grandes emissoras”, talvez crie essa liberação do aspecto independente, do paralelo porque a música independente é um mundo paralelo, não tem nada a ver com o que rola na rádio. O que falta no Brasil são lugares legais para se tocar. Aqui ou você faz um show no barzinho para vinte pessoas ou num estádio para 20 mil.

As grandes gravadoras ainda dominam o que deve ser produzido?
Vou te falar uma coisa que não sei se é boa ou ruim, mas pra mim as gravadoras não existem mais. Existe grana de empresário, grana de produtor. Se o produtor está na gravadora, aí vira grande gravadora, mas a figura da gravadora não existe mais, ainda bem, no meu ponto de vista. Não tem mais aquele conto de fadas inverso. O artista tem o sonho de entrar em uma grande gravadora, mas, quando entra, vive um terror.  Isso se repetiu tanto que enfraqueceu este poder. Tudo que derrubar esta sensação de monopólio de mídia, de artistas, pra mim é bacana.

E a internet?
É sensacional. É uma plataforma livre, aberta e sempre vai auxiliar os artistas. É lógico que se você atirar para todos os lados e se não tiver critério e ética a resposta vai não vai ser legal. O que eu vejo é que não há um cuidado do artista, do músico em respeitar a música.  Vejo muitos artistas que se colocam na frente da música. A música nunca vai ser menos importante do que uma pessoa. Pra mim este artista, quando chega neste ponto, acabou. Tem uma frase que diz que “o sucesso sobe a cabeça”, eu acho que o fracasso também sobe muito a cabeça. As pessoas começam a se sentir muito frustradas, fracassadas e pensam que precisam fazer qualquer coisa para se dar bem. 

Você acompanhou toda a polêmica do Ed Motta nas redes sociais em relação aos shows internacionais. Como você vê o artista brasileiro no exterior? Ele tem de se portar de maneira diferente?
Deste ocorrido exatamente, pela exposição e pela situação, eu achei que foi tudo uma estratégia de marketing. Sem entrar em detalhes, para mim foi tudo uma armação. O artista tem que respeitar o público e seu próprio trabalho. Tem muito brasileiro tocando fora do Brasil e hoje em dia não tem esse negócio de uma língua. Não existe mais essa de ter de falar inglês para me comunicar com o resto do mundo. Eu até acho charmoso o artista chegar e falar um ‘boa noite’ estranho em português. Isso não me incomoda já que não vou ao show de um artista internacional para ouvir ele falar, vou pra ouvir ele tocar. Outra coisa: não consigo ver o Mick Jagger falando que acha um saco tocar Satisfaction, que não quer que os fãs peçam essa música. Não consigo visualizar isso pois acho que é o seu trabalho e, se você conseguiu tudo através de uma música que não te representa, é um estímulo para fazer mais músicas que possam dar a visibilidade que quer. Se a preocupação do artista é estar sendo falado ou ser conhecido, então corra atrás disso. A música brasileira sempre teve um espaço bacana lá fora e o artista brasileiro é bem recebido em todos os lugares. Ainda acho que não nos damos conta de como produzimos coisas boas e pagamos muito pau para a Europa. Quando um artista vai viajar pra lá e toca nos saguões dos hotéis em que se hospedou todo mundo vê isso como um diferencial, e não é.

Você pensa para que público está compondo?
Acho estranho. Quando você produz algo que se diz utilizar de criatividade, aquilo tem que ser uma verdade para você. Então se não te tocar, dificilmente vai tocar o outro. Se o artista não se entrega emocionalmente, ele não consegue colocar sentimento no que ele faz. Se a música é feita para o outro, acho difícil virar. A função das músicas é tocar as pessoas, é uma linguagem que tem uma função. Eu não conheço ninguém que não ouça música. Quando se faz uma música, a verdade e o comprometimento  têm de estar na sua relação com a música.

No próximo show, que você vai comemorar 15 anos de carreira, você chamou o público para escolher as músicas. Como foi essa experiência?
Acho que aproxima o artista do público e os fãs gostam de se sentirem perto. Nós também gostamos de saber a opinião das pessoas. Tirando as mais famosas que eu tinha certeza que seriam as mais votadas, eu fiquei surpresa, porque músicas que eu não tocava mais e nem lembrava foram escolhidas. Isso é bem legal, você sabe o que as pessoas estão pensando sobre seu trabalho e são elas que fazem o show.  Para este show eu vou fazer novos arranjos para as músicas escolhidas, vou unificar a linguagem, manter a essência de cada som mas deixa-las no mesmo momento.


Comentários

Uma resposta para “Cercada pela música, Olivia Genesi completa 15 anos de carreira”

  1. Parabéns pela entrevista e pelos seus 15 anos de carreira .

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