Vivendo o seu melhor momento na carreira desde a entrada do vocalista norte-americano Derrick Green, em 1997, o Sepultura volta a tocar em São Paulo neste final de semana após duas turnês bem-sucedidas na Europa e nos EUA nos últimos meses, quando dividiu o palco com outras lendas do thrash metal como Kreator e Testament para divulgar o seu mais recente trabalho, o ótimo Machine Messiah (2017).
Lançado em janeiro deste ano pela gravadora alemã Nuclear Blast, o 14º disco de estúdio dos brasileiros traz um Sepultura mais experimental do que nunca e com uma pegada mais progressiva, com direito a solos inspirados, baterias impossíveis, mais vocais limpos do que costume, violões clássicos, teclados e violinos.
Para o guitarrista Andreas Kisser, que está na banda há 30 anos, o álbum mostra um Sepultura de “cara nova” e marca um momento novo para o maior nome do metal do Brasil e da América Latina. “É muito chato você ficar fazendo as mesmas coisas sempre, ficar escravo de um certo modelo, de uma certa imagem. A gente nunca teve esse lance de ficar na zona de conforto”, afirma o músico, que também cita a entrada do baterista Eloy Casagrande, em 2011, como outro ponto de virada para o grupo.
“A entrada do Eloy abriu muitas possibilidades novas. Ele é um músico fantástico, um baterista fenomenal, que trouxe coisas novas para a banda. A química tem dado muito certo não só no palco, mas tambem na interação para escrever coisas novas. E a gente quer ser o mais técnico e o mais musical possível, realmente testar coisas diferentes.”
Neste caso, testar algo diferente envolveu também ir até a Escandinávia gravar com um produtor com quem nunca tinham trabalhado antes, o sueco Jens Bogren, cujo currículo inclui trabalhos com nomes como Kreator, Opeth, Paradise Lost, The Ocean e os brasileiros do Angra.
“Ele (Jens) tem esse som bem limpo, bem característico. Uma coisa realmente bem diferente do que já tínhamos feito. O Mediator (disco anterior da banda, lançado em 2013) é uma coisa mais rasgada, mais suja, bem no estilo do Ross (Robinson, produtor), né? E a pegada do Jens é literalmente o oposto. Bem limpo, bem audível – sem querer desrespeitar os discos anteriores. Mas a intenção para esse projeto era realmente isso, buscar essa claridade musical, essa pegada que, juntamente com as músicas, realmente soou muito bem”, explica o baixista Paulo Júnior, que está na banda desde o seu início em Belo Horizonte, em 1984.
Mais uma vez, a decisão de sair do Brasil e da rotina e ir para a Suécia produzir o disco se mostrou acertada, assim como já tinha acontecido com o trabalho anterior, The Mediator Between Head and Hands Must be The Heart (2013), gravado na Califórnia com Ross Robinson, responsável também pela produção de Roots (1996), álbum mais popular da banda.
“Essa foi realmente a intenção, sair um pouco fora. Porque é bem caótico você estar em casa e ficar duas horas no trânsito para chegar até o estúdio. Aí você já chega estressado para ficar naqueles horários demarcados. E depois mais duas horas para voltar para casa. Então nós tentamos realmente mudar isso nos dois últimos discos, quando pudemos ficar 24 horas a disposição do álbum. Nós ficamos nas casas dos produtores, ficamos realmente morando com eles e respirando aquilo o tempo todo. Então acaba também refletindo no desempenho geral da coisa, você acorda descansado. Isso ajuda muito.”
Documentário e nova polêmica com os Cavalera
Além dos shows em SP e Campinas neste final semana, essa breve passagem da banda ao Brasil antes de voltar para a Europa também servirá para divulgar o filme Sepultura Endurance, primeiro documentário sobre o grupo, com estreia marcada para 14 de junho no país.
No entanto, ainda não se sabe exatamente como será a versão da produção exibida por aqui, uma vez que os irmãos Max e Iggor Cavalera, fundadores e ex-membros da banda, entraram na Justiça para impedir a utilização no filme das músicas de quando estavam na banda, cujos direitos são de todos os quatro: Max, Iggor, Andreas e Paulo. A pré-estreia do filme realizada na última semana nos EUA, por exemplo, teve alguns trechos mudos justamente nas partes em que aparecem essas faixas sendo tocadas ao vivo.
“Espero que a gente consiga (usar as músicas no filme). Até porque é meio patético isso, né? A princípio, eles (Max e Iggor) nem viram o filme ainda, nem sabem do que estão falando. É uma coisa meio estranha, você ‘pré-proibir’ as coisas sem saber o que está acontecendo”, afirma Andreas, que destaca ainda que o diretor do filme, Otávio Juliano, já trabalha para reverter essa proibição.
“No filme, a gente trata da nossa história de uma forma muito respeitosa. A gente não tem intenção nenhuma de fazer um dramalhão, uma novela mexicana e dizer quem está certo ou quem está errado. Essa não é a intenção do filme. A ideia é mostrar a trajetória, as pessoas que fizeram parte da banda, os fãs e a música. Acho que o principal é a música”, explica o guitarrista.
Serviço
Sepultura em São Paulo
Quando: Sábado (27/5) às 22h
Onde: Audio Club
Banda convidada: Claustrofobia
Mais informações e ingressos em: Ticket360
MAIS
Veja o videoclipe oficial de Phantom Self
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