Com sonoridade experimental e pesada, banda CORTE reúne Alzira E e músicos do Bixiga 70

(Da esq. à dir.) Marcelo Dworecki, Nandinho Thomaz, Cuca Ferreira, Alzira E e Daniel Gralha
(Da esq. à dir.) Marcelo Dworecki, Nandinho Thomaz, Cuca Ferreira, Alzira E e Daniel Gralha. Foto: Divulgação

Para um olhar pouco atento, pode soar natural afirmar que o CORTE é o mais novo projeto musical comandado pela cantora e compositora Alzira E, (nome artístico de Alzira Espíndola). Afinal, é ela a autora das canções e a vocalista da banda, além de sua integrante com mais longa e reconhecida trajetória. Mas se pode soar natural, seria bastante impreciso. Formada por mais quatro membros – Nandinho Thomaz, Cuca Ferreira, Daniel Gralha e Marcelo Dworecki (os últimos três da banda Bixiga 70) –, o CORTE é muito mais um grupo de criação coletiva e funcionamento horizontal do que um projeto de Alzira. E é ela mesma quem faz questão de ressaltar: “Tem sido muito proveitoso sentir esse lugar em que eu não estou à frente. Quando faço um disco meu, tenho que olhar para toda minha bagagem, minha história, e tentar inventar algo novo”, afirma a cantora de 58 anos. “No CORTE me sinto em um lugar onde eu posso ficar à vontade, porque estou também sendo levada na influência da coisa. Sendo parte de uma banda, você deixa acontecer mais coletivamente, para formar um conceito de todos. E isso é também libertador”.

Com menos de um ano de existência, o CORTE – que se apresenta nesta terça-feira, 15, no Mundo Pensante – surgiu a partir da ideia do baixista e guitarrista Marcelo Dworecki, que já tocava com Alzira em seu último disco, “O Que Vim Fazer Aqui” (2013), e propôs a ela a criação do novo projeto. Não se sabia exatamente o que sairia dali, mas a busca era por uma sonoridade experimental, pesada, de atmosfera densa e espaço para improvisação e timbres pouco previsíveis. “Eu estava pensando mais em como a coisa ia soar do que nas canções que íamos defender. Um som mais sujo, com ruídos, umas ‘pirações’ musicais. E a Alzira captou isso muito bem, e foi atrás de músicas dela que podiam ser substrato para isso. Textos que caberiam para a gente fazer essas desconstruções que buscamos”, afirma Dworecki. No repertório, que deve ganhar disco no próximo ano, o CORTE apresenta canções de Alzira e parcerias recentes da cantora com o poeta arrudA e com o músico Tiganá Santana.

 Para completar o time, todo de músicos na casa dos 30 e 40 anos, Dworecki chamou o baterista Nandinho Thomaz, o saxofonista e flautista Cuca Ferreira e o trompetista Daniel Gralha. Os instrumentos de sopro, pouco prováveis para uma banda que busca sonoridade pesada e “pegada roqueira”, se tornaram justamente os principais recursos para cumprir este papel. Munidos de diversos pedais (como os de guitarra, que mudam os timbres do instrumento), Gralha e Cuca preenchem as músicas com temas, ruídos, texturas e sonoridades que se entrecruzam e dialogam, mas raras vezes se fundem em uma mesma melodia, como é usual nos naipes de sopros. “A ideia é mesmo buscar timbres e efeitos que subvertam a expectativa. A gente entrou nessa piração de brincar de guitarrista”, brinca o saxofonista. “A pessoa olha para o palco e começa a ouvir um som que não sabe de onde está vindo. Porque o som que sai daquele instrumento naturalmente não é aquilo que ela está ouvindo na caixa. E isso contribui para esse conceito da desconstrução, do imprevisto. E ao mesmo tempo com esse certo niilismo dessas letras da Alzira”.

 A cantora e compositora, que sempre tocou violão, assume também o baixo em parte do show, outra novidade em sua trajetória. Apesar de estar acostumada a compor a partir de linhas de baixo, como bem fazia Itamar Assumpção – seu parceiro musical de muitos anos –, Alzira nunca havia tocado o instrumento em discos ou shows. Em meio a tantas mudanças e novos caminhos, a letra da música que abre o show vem também carregada de incertezas e dubiedades, em contraste claro com o título afirmativo do trabalho anterior de Alzira, “O Que Vim Fazer Aqui”. “Cheguei, e a chegada nem é lugar”, diz a nova canção. E ela brinca: “Dizer ‘o que vim fazer aqui’ pode ser um pouco pretencioso. Porque o aqui pode não ser aqui, pode ser outro lugar. E pra mim isso ficou muito claro”, afirma. “O que vim fazer aqui, no mundo? Vim fazer som, então a afirmação continua valendo. Mas agora digo que a chegada não é lugar”. E Dworecki conclui: “Essa frase define bem a linha do que estamos fazendo. Todas as músicas tem um pouco essa atmosfera do incerto, do não lugar”. A atmosfera cortante do CORTE.

CORTE no Mundo Pensante
Rua Treze de Maio, 825 – Bela Vista
Abertura da casa: 22h; show às 23h
Entrada gratuita 


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