Aos 12 anos de idade, a paulistana Laylah Arruda aprendeu a driblar a timidez soltando a voz como solista de um coral. Aos 32, acaba de lançar Amálgama, seu primeiro álbum, depois de alguns registros avulsos bem-sucedidos, como Olhem Para África (ouça), compacto prensado na Alemanha que, em 2010, aproximou a cantora de uma rede de contatos no Velho Continente.
A repercussão internacional de Olhem Para África, ironicamente, foi impulsionada por um impasse comercial. Como Laylah não dispunha de recursos para pagar a matriz do disco, a fábrica que prensou o compacto estabeleceu que também colocaria o trabalho à venda em lojas da Europa. Tudo certo, exceto o fato de a artista ter esperado um ano para receber sua encomenda. No decorrer do processo, compradores divulgavam no extinto Orkut fotos do disco na França, na Holanda e na Inglaterra, quando ele nem sequer havia chegado às mãos de sua própria criadora. A onda de empatia motivou o grupo Alpha & Omega, um dos mais tradicionais da cena britânica de música jamaicana, a convidar Laylah para que fizesse um novo registro vocal, depois remixado pela banda (ouça).
Produzido por Lys Ventura e composto em parceria com o grupo italiano INeurologici, Amálgama é tributário da cultura sound system, surgida na Jamaica no final da década de 1950 e consolidada na transição dos anos 1960 para os 70, quando espaços públicos passaram a ser ocupados por potentes sistemas de som movidos por bases hipnóticas de reggae criadas em estúdio por produtores legendários, como Coxsone Dodd, do Studio One, e Duke Reid, do Treasure Isle, sobrepostas ao canto improvisado de toasters, como eram chamados artistas pioneiros como U-Roy e Denis Alcapone.
Formado por Paolo Chiriatti (bateria), Stefano Damiano (baixo), Matteo Minetti (guitarra), Fabio Pieri (órgão) e Giuliano Lucarini (congas), o INeurologici aproximou-se de Laylah por meio da rede de contatos construída por ela desde 2005, quando, ao lado do ex-marido, o produtor Jah Knomoh, tornou-se uma das primeiras garotas a empunhar o microfone em coletivos como Quilombo Hi-Fi, Equipe Terremoto e Leggo Violence Posse.
Integrante do trio de DJs da festa Veraneio, ao lado das amigas Laura Mercy e Rafa Jazz, Laylah também lidera a banda Santa Groove, dedicada a outros gêneros de matriz africana. Além disso, colabora com o Feminine Hi-Fi. Composto apenas de mulheres, o sound system atesta que mudanças estão em curso. “Hoje é bem diferente do que quando comecei. Lembro que quando era chamada para cantar era comum os homens largarem seus copos de cerveja e ficarem me olhando, de braços cruzados, como se estivessem dizendo ‘vamos ver se essa mina segura a onda, como os caras’. Não por acaso, eu era muito chamada para colaborações em março, Mês da Mulher.”
Com letras contundentes, em meio à predominância de frequências graves e psicodélicas, Amálgama é composto de seis temas: Mãe Preta, Humano Baldio, História Única, Madiba, Pepita e Zion. Recurso tradicional em registros de dub, o álbum tem um lado B com versões alternativas das mesmas faixas. Lançado em CD, o trabalho pode também ser baixado gratuitamente no site amalgamadub.com.
No próximo sábado (17), Laylah fará em São Paulo, na casa de shows Serralheria, o lançamento de Amálgama (saiba mais). A releitura orgânica ficará a cargo de Duane Bin Nogueira (baixo), Tiago Canzian (teclado), Felipe Guedes (bateria), Guilherme Gasa (guitarra), Rafael Franja (percussão), Nina Girassóis (backing vocal), Rafa Jazz (samples e programações) e Eduardo Bonuzzi (técnico de som). Vale conferir.
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Veja o clipe de Humano Baldio
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