O Museu de Arte Contemporânea da USP, em parceria com o Instituto Moreira Sales, abre hoje (28) a exposição Emancipação, inclusão e exclusão. Desafios do Passado e do Presente. A exposição reúne fotografias do acervo do instituto e de autoria de Marc Ferrez, Victor Frond e George Leuzinger, entre outros.
O registro fotográfico feito sobre negros – livres, escravizados ou libertos no Brasil, revela dois lados. De um lado as particularidades do período de escravidão no Brasil e de outro a própria fotografia, que entrou cedo no país, nos finais dos anos 1860 e com clientela certa, que incluía o imperador D. Pedro II, ele próprio um fotógrafo.
Dessa confluência resultou um registro amplo e variado. Ao todo, são 72 imagens que trazem trabalhadores por vezes tomados ao acaso, ou posando como modelos exóticos ou tipos para análise da ciência. Há ainda fotografias em que escravizados fazem ora parte do cenário, ora surgem como figuras principais. No entanto, captar o dia a dia da escravidão e do trabalho forçado não era tarefa fácil.
Grande contradição do Império brasileiro, o sistema escravista foi abordado por diversos fotógrafos, autônomos ou apoiados pela Coroa. Particularmente nos anos 1870 e 1880 proliferaram as fotos de escravizados, revelando, por sua regularidade, que o sistema era naturalizado e disperso por todo país.
Enquanto negros figuravam em cartes de visites e nos documentos científicos, eles também estavam presentes nas fotografias de paisagem e na documentação do trabalho nas fazendas de café realizadas tanto por Victor Frond nos anos de 1859 e 1860, como por George Leuzinger por volta de 1860, e Marc Ferrez na década de 1880. Em todos esses casos vemos a montagem da representação naturalizada da escravidão: tudo em seu lugar.
Nas cidades, os fotógrafos do século XIX encontraram os motivos e características de uma escravidão urbana, caracterizada pelos trabalhos de rua, com a presença de figuras urbanas marcantes como as de carregadores, vendeiras e barbeiros – libertos ou cativos. Ali estava novamente o espetáculo de uma escravidão pacífica e sem contestação. No entanto, essas fotos urbanas denunciam igualmente precariedade, indisciplina e certa ausência de controle do trabalho escravo nas cidades.
Se a crítica do olhar estrangeiro reside no sistema escravista, ela também pode ser encarada como uma iniciativa para que buscassem com estas imagens fazer eco às ideias que circulavam, naquele momento, nos círculos letrados e humanistas, a respeito da urgência do país superar a escravidão.
Emancipação, inclusão e exclusão. Desafios do Passado e do Presente faz parte de um projeto maior realizado em outubro de 2013 na Universidade de São Paulo, no escopo das atividades que comporão o seminário “Emancipações, Inclusão e Exclusão. Desafios do Passado e do Presente”, e pretende contribuir para o tema geral do seminário a partir das imagens fotográficas que registram a escravidão e seus desdobramentos no país.
Serviço
Abertura: 28 de outubro de 2013, às 18h30
Exposição: de 28 de outubro a 29 de novembro de 2013
Local: MAC Cidade Universitária
Rua da Praça do Relógio, 160
Cidade Universitária
São Paulo – SP
De terça a domingo das 10h às 18h
Fechado às segundas-feiras
Entrada franca – Classificação livre
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