Um espetáculo sobre o genocídio armênio

Arthur Haroyan trocou a cidade de Vanadzor, a terceira maior da Armênia, país entre o Mar Negro e o Cáspio, por São Paulo para fazer teatro. Mais precisamente para compor um espetáculo que conta a história do genocídio de seu povo, como é chamada a matança e deportação forçada de centenas de milhares de pessoas de origem armênia que viviam no Império Otomano, com a intenção de exterminar sua presença, durante o governo dos chamados Jovens Turcos, entre 1915 e 1917 – até hoje, a Turquia não reconhece o massacre. Mas não por acaso a peça que leva a assinatura de Haroyan, 31 anos, leva um título curto: 1915, ano do início dessa trágica história.

O dramaturgo armênio chegou a São Paulo em 2008. De lá para cá, dedicou-se à pesquisa para escrever a peça e entender o que levou o comandante Enver Paxá a verter tanto sangue. Era preciso, inclusive, concentração para que Haroyan não se envolvesse emocionalmente, na tentativa de traduzir no palco os fatos como eles teriam acontecido.

Ele conta que, no início, não foi fácil construir a narrativa desejada, que engloba dois povos, traições e um império em disputa. No entanto, Haroyan não trabalhou sozinho. Uma de suas principais parceiras foi a irmã Milena Petrosyan, 27 anos, historiadora que vive em Vanadzor.

Por causa da distância entre eles, foram horas e horas de conversas pelo skype e infinitas trocas de e-mails. Milena apurou relatos preciosos de pessoas que tiveram contato com o conflito ou com parentes das vítimas. Mais do que reviver a história que leu em livros, Haroyan quis contá-la de forma que não parecesse um drama, mas um espetáculo que narrasse guerras e injustiças. Para o autor, essa dinâmica funciona como um documento, que leva ao público algo que está fundamentado em reações reais, não ficcionais.

Segundo Haroyan, 80% do que o público assiste na peça 1915 é fruto de declarações e documentos. “Só dessa maneira eu poderia fazer o que havia planejado para esse espetáculo.” Ele também teve a ajuda do grupo de pesquisa Arca, dirigido por Rogério Rizzardi, e apoio do Conselho Nacional Armênio-Brasil. O grupo também fez pesquisas junto a órgãos do governo, traçando perfis que levassem a personagens que pudessem falar sobre o massacre.

 

 

Serviço – 1915
Espaço Elevador – Rua Treze de Maio, 222, Bela Vista – São Paulo
(11) 3477-7732
Até 5 de julho
Sempre às sextas-feiras, às 21h, 


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