Após pequena pausa para um café, o seminário internacional da ARTE!Brasileiros “O Colecionismo no Brasil no Século XXI” voltou com a mesa “A formação de coleções públicas e privadas”. No bate-papo, Cecilia Fajardo-Hill curadora-chefe do Museum of Latin American Art (MOLAA), EUA, o museólogo Fábio Magalhães, Sofia Fan, gerente do núcleo de artes visuais do Instituto Itaú Cultural e Frederico Morais, crítico, historiador e curador independente.
A primeira a falar foi a britânica Cecilia Fajardo-Hill. Com descendência venezuelana, ela é uma das principais incentivadoras da difusão da arte latina na Europa e principalmente nos EUA, onde hoje é curadora do MOLAA, em Long Beach. Cecilia revelou que nos Estados Unidos, a arte latina começou a entrar, de maneira tímida, apenas em 1930 e era sobretudo proveniente do México. Diego Rivera foi um dos primeiros a chamar a atenção. Enquanto isso, a arte brasileira era muito pouco explorada nesse país. “A Europa descobriu o Brasil artisticamente muito antes do que os Estados Unidos. A arte brasileira começou a entrar de forma mais consistente apenas nos anos 1990 nos EUA através de artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica”, revelou Cecilia.
Em uma apresentação de slides, a curadora mapeou os museus norte-americanos onde mais se investe na arte latina.
Em seguida, o museólogo Fábio Magalhães deu uma apresentação macro sobre sua visão da arte. Antes de começar, ele elogiou a ARTE!Brasileiros por seu trabalho de divulgação da arte e parabenizou a revista pela recente conquista do prêmio dado pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
De início, ele resumiu o que, para ele, é o grande papel de uma coleção de arte. “Não existe uma coleção desconexa, ela precisa fazer sentido para conseguir contextualizar o momento e realidade de determinado país”, comentou. Sobre o colecionador, Magalhães brincou e disse acreditar que o colecionador, não apenas de arte, traz em si um desvio de comportamento. “Existem até casos mais graves, que chegam a ser patológicos”, brincou, sobre o fato de que não existe outra prática comparável ao colecionismo, onde você só compra e dificilmente quer vender. Apesar dessa observação, o museólogo considerou que hoje tem sido uma tendência no Brasil o desmantelamento de coleções de arte moderna por parte de colecionadores, que procuram cada vez mais formar acervos de arte contemporânea.
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Sobre o novo perfil do colecionador brasileiro, Magalhães comemorou o recente interesse de jovens pela arte. “Uma juventude de sucesso, que enriqueceu cedo no mercado de capitais está se interessando pela arte, isso é muito importante”, colocou, antes de afirmar que arte brasileira nunca esteve tão em alta. “Os primeiros colecionadores do Brasil só queriam saber de arte estrangeira. Isso mudou, não agora, acho que começou com o modernismo no início do século passado, mas hoje o colecionador brasileiro só quer saber da arte produzida aqui, e isso é bom”, terminou.
Para analisar o colecionismo no campo institucional, Sofia Fan, gerente do Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural, falou brevemente sobre o trabalho do grupo na preservação e difusão da arte brasileira. O acervo do Itaú Cultural, um dos maiores do Brasil com mais de 12 mil obras de todos os movimentos da história da arte nacional, hoje tem exposições itinerantes. Segundo Sofia, desde que começou a ser exposta com maior frequência, o acervo já rodou por praticamente o Brasil inteiro tendo sido visto por mais de 800 mil pessoas, além também de ter sido apresentado em oito países latino-americanos. A palestrante contou que o grande objetivo da coleção é fomentar um circuito de arte, e não necessariamente um mercado de arte.
Fechando a mesa, o crítico, historiador e curador independente Frederico Morais, foi logo falando que já trabalhou com a arte de forma institucional, ligada a órgãos públicos, mas que esse nunca foi o forte dele. Engajado, sua palestra foi menos uma conversa sobre o passado da arte e mais uma proposta para o futuro dela no Brasil. Foi uma espécie de memorando com uma série de itens esperando por aprovação.
Para começar, ele arrancou aplausos da plateia dendendo a democratização da arte. “A arte não pertence aos museus, as galerias, aos colecionadores… ela pertence a todos nós!”. Para ele, o papel do colecionador hoje está desvirtuado, não se trata de um desafio pessoal ou um hobby, ele é muito maior do que isso para a formação de uma sociedade cultural. Admitindo a utopia de sua proposta, Morais imaginou um cenário nacional onde existisse apenas um acervo único, sem desapropriações dos donos, públicos ou privados, eles continuariam os donos, mas essa seria uma forma de maior organização e alcance, logo, de difusão da identidade cultural brasileira.
Como uma citação de Imagine, música de John Lennon , “Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas não sou o único”, Frederico Morais disse saber que sabe que seria praticamente impossível e dependeria da boa vontade do governo junto com a generosidade dos colecionadores, dos artistas e de seus herdeiros.
O crítico alertou também para a falta de diversidade em nossas exposições com o circuito restrito que, para ele, temos hoje em dia. “Nossa arte é muito mais rica do que nossas exposições mostraram nas última décadas, mas sempre ficamos restritos aos mesmos curadores, aos mesmo colecionadores, aos mesmos acervos…”.
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