Estudantes secundaristas que ocupam a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) desde o final da tarde de terça-feira (3) decidiram que vão permanecer no Plenário Juscelino Kubitschek, o principal da Casa, até que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) seja aberta para investigar a máfia da merenda no Estado. Até o momento, 23 deputados assinaram o pedido de abertura da CPI, nove a menos do que o necessário.
Segundo o presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Emerson Santos, a ocupação teve “uma pauta muito clara”, que é a abertura imediata da CPI para investigar a máfia da merenda. “Desde o início do ano a gente vem denunciando o roubo da merenda e, até agora, a Alesp não abriu a CPI por falta de quórum, por uma indisposição dos deputados em assinar a abertura da CPI.”
Os estudantes que ocupam o plenário da Alesp são, em sua maioria, menores e participantes de entidades como a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), além da Upes.
A pão e água
O presidente da Alesp, deputado Fernando Capez (PSDB), reuniu-se com alunos durante a noite e ouviu as reivindicações dos estudantes. No entanto, Capez permitiu apenas que os alunos recebessem água e tivessem acesso ao banheiro. Alimentos não poderão ser levados aos estudantes. Capez disse que pretende fazer uma “saturação” sobre os alunos para que eles desocupem o plenário.
“O nosso objetivo é fazer uma saturação para que eles saiam. Se começar a dar um tratamento, eles não vão sair daqui. O objetivo é retomar os trabalhos amanhã”, disse. “Essa saturação não pode chegar ao ponto de deixar sem água e sem banheiro. Se você permite a entrada de mantimentos, você está estimulando a permanência. O nosso objetivo é que haja a desocupação da Casa, inclusive vamos entrar com uma medida de reintegração de posse. Fazer tudo de acordo com a lei e com calma”.
Apesar da proibição, por volta das 21h30, padre Júlio Lancellotti, conhecido pela atuação entre moradores de rua, entrou no plenário com uma caixa cheia de pães e distribuiu aos alunos. No entanto, o alimento não foi suficiente para todos os estudantes.
Investigado
Capez foi citado no esquema de propinas da merenda escolar e é um dos investigados pela Operação Alba Branca. A operação foi deflagrada no dia 19 de janeiro pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual de São Paulo. Eles investigam um esquema de fraude na compra de alimentos para merenda escolar de prefeituras e do governo paulista. Em fevereiro, Capez teve seu sigilo bancário e fiscal quebrado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em meados de abril, o lobista Marcel Ferreira Júlio, considerado um dos mentores do esquema de fraude em licitações para a compra da merenda escolar em São Paulo, disse, em delação premiada, que encontrou duas vezes com Capez em 2014. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, em um desses encontros, o lobista disse ter visto o atual presidente da Alesp ligar para a Secretaria Estadual da Educação para agilizar um contrato com a Cooperativa Agrícola e Familiar de Bebedouro (Coaf) e, logo depois, sinalizar que queria dinheiro para sua campanha.
De acordo com o lobista, os encontros ocorreram no escritório de Capez. Em uma dessas reuniões, o presidente da Alesp teria esfregado o dedo indicador e o polegar, indicando que queria dinheiro.
Hoje Capez disse ser favorável à abertura da CPI e que está empenhado em conseguir assinaturas suficientes. “A CPI é uma oportunidade para que eu possa produzir provas, dar os meus esclarecimentos”, disse. “Estou vivendo uma situação completamente inusitada. Sou membro do Ministério Público há 28 anos, entrei por concurso, tenho 62 obras publicadas, faço palestras no Brasil, em outros países, universidades de fora. Fiz uma administração aqui que nós devolvemos mais de R$ 20 milhões, fiscalizo todos os contratos e, de repente, tenho meu nome envolvido, sinceramente, com negócio de merenda. É humilhante e contrária à minha história”.
*Com Agência Brasil
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