A Dilma Rousseff, a tua presidenta, fez tudo o que o mercado financeiro pediu. Tudo. Desde que se reelegeu, ela simplesmente rasgou o programa vencedor nas urnas. O auge foi no dia de ontem, quando sugeriu os cortes sociais, ministeriais e o cancelamento do aumento salarial dos servidores, exatamente como pedia o editorial da Folha de S.Paulo de domingo. E como os jornais amanheceram hoje? Dizendo que os cortes são eleitoreiros, insuficientes, improvisados.
Voltemos no tempo. Até petistas mais apaixonados viraram os olhos contra a peça publicitária que o guru e amigo pessoal de Dilma, João Santana, veiculou na reta final do primeiro turno das eleições presidenciais. Nela, uma família via a comida desaparecer do prato se a rival Marina Silva fosse eleita e colocasse um banqueiro do Itaú (Neca Setúbal, herdeira do banco, integrava a equipe de Marina) para comandar o Banco Central.
O recado era claro: gastos sociais estariam preservados e banqueiros não iriam meter o bedelho na área econômica. Mas no dia 1º de janeiro, o diretor-superintendente do Bradesco, Joaquim Levy, substituía o desenvolvimentista Guido Mantega.
Em pouco tempo, o período mínimo para receber o seguro desemprego saltou de seis para 18 meses, abono salarial só depois de seis meses no emprego, não mais 30 dias. Até a pensão por morte foi restringida no “pacote de maldades” que promete reduzir R$ 18 bilhões ao longo ano.
Mas como maldade pouca é bobagem, os juros subiram, a atividade econômica congelou e o desemprego bateu em 7,5%. Faltou maldade, e a deixa foi dada pelo próprio governo ao enviar para o Congresso uma previsão de Orçamento com aquele rombo de R$ 30,5 bilhões. Em questão de dias, a Standard & Poor’s retirou o grau de investimento do Brasil e a pressão voltou: era hora de cortar programas sociais e zerar o déficit.
Dilma passou o fim de semana e toda a manhã de ontem trancada em reuniões com sua equipe econômica para atender ao mercado, sob o risco de a crise política chegar às vias de fato, ao custo de um impeachment.
No fim da tarde, Levy e Nelson Barbosa (Planejamento) anunciavam tudo o que a presidenta jurava não fazer “nem que a vaca tussa”: R$ 3,8 bilhões a menos para a Saúde, corte de R$ 4,8 bilhões no Minha Casa Minha Vida. Aos servidores, nada de aumento salarial. Ela também tentou sossegar a oposição ao prometer reduzir ministérios e cargos comissionados.
Não sossegou ninguém. Candidato em tempo integral ao governo de São Paulo, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, acusou “falta de transparência” ao pacotaço, a diretora de economia da Abiqui, Fátima Coviello, o classificou de “catastrófico”, enquanto a Fecomercio paulista fala em “ausência de sensibilidade política”.
Não deu, presidenta. Seu tempo acabou? Desde que pendurou a faixa presidencial no peito pela segunda vez, a senhora se curvou ao mercado, beijou a mão de cada banqueiro e mesmo assim te cospem na cara.
O PMDB se rebela no Congresso e, depois de levar a vice-Presidência e as presidências da Câmara e do Senado, a Casa Civil também deve cair no colo do partido. Nem assim o Congresso alivia. Assim como o mercado, a base “aliada” quer tudo.
Meu conselho, presidenta? Levanta dessa cadeira, sai em defesa de quem te elegeu e, se for para ser deposta, que seja de pé, não como o poste que um dia disseram que você era.
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