O amplo debate sobre as alternativas para o desenvolvimento, que começou a empolgar o País antes da metade do século XX, empobreceu subitamente nos anos 1970, com a primeira e a segunda crises do petróleo. A discussão se restringiu a dois polos: se o desenvolvimento se daria com maior ou menor presença do estado. E prevaleceu a ideia de uma única via para o desenvolvimento, o Consenso de Washington, estabelecendo o reinado mundial do liberalismo econômico. Mas hoje os tempos são outros e volta à pauta de discussões a certeza de que há mais de um caminho para a expansão econômica e diferentes formas de distribuir seus benefícios. Para comprovar que há alternativas e que os brasileiros querem debatê-las em profundidade, a Seminários Brasileiros abriu o evento Rumos da Economia Brasileira oferecendo um cardápio variado de argumentações e posicionamentos, o que resultou em um debate elevado e com grande participação de todos os conferencistas e plateia.
O desafio do conhecimento
MARCIO POCHMAN Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do Município de São Paulo (2001-2004). Economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com especialização em Ciências Políticas e em Relações do Trabalho, doutor em Economia pela Unicamp. Desde 1995, é professor livre docente (hoje licenciado) da Unicamp. Foi diretor-executivo do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp (1997-1998), onde é pesquisador desde 1989. Foi consultor do Dieese, do Sebrae e da OIT. Escreveu e organizou mais de 35 livros, entre eles A Década dos Mitos, vencedor do Prêmio Jabuti na áreade Economia em 2002, e a série Atlas da Exclusão no Brasil. |
Conhecer muito bem o Brasil é indispensável para que sejam feitas as mudanças estruturais necessárias para garantir ao País uma posição de liderança no cenário internacional. O presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), economista Marcio Pochmann, defende essa perspectiva para eventos como seminário Rumos da Economia Brasileira, por ajudar a entender melhor o País. “Só se muda conhecendo”, afirma. E alerta que a discussão sobre os problemas emergenciais da economia – pressão inflacionária e degradação das contas externas – não pode se sobrepor ao debate com foco no desenvolvimento em longo prazo. “Nós não podemos ser prisioneiros das emergências. O que a imprensa costuma trazer é o debate sobre o curto prazo.”
Pochmann ressalta que o desenvolvimento representa uma transformação estrutural. Para ele, o Brasil está saindo de uma perspectiva unipolar – centrada nos Estados Unidos – para uma multipolar, com uma rápida emergência dos países asiáticos. Ele relaciona três pontos como necessários para a construção de uma perspectiva de desenvolvimento no Brasil que não seja a repetição do passado:
1. A necessidade da reestruturação do padrão competitivo. O plano chinês é ter 300 grandes empresas com capacidade de competição internacional e o Brasil está muito aquém disso. Outro exemplo citado por Pochmann é a dimensão das três maiores corporações globais, que movimentam o equivalente ao PIB brasileiro. Segundo o economista, essa é uma realidade que vem se consolidando. A quebra de uma dessas empresas, devido ao seu tamanho, representa riscos à economia mundial.
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