Dados divulgados na última terça feira (12) pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que os planos de saúde brasileiros fazem três vezes mais cesarianas do que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), superando Chile, México e Turquia. Segundo a ANS, o Brasil é o país com maior percentual de partos cirúrgicos.
O levantamento mostra que, nos anos de 2014 e 2015, 85,1% dos 1,1 milhão de partos feitos pelos planos de saúde foram por cesáreas.
As informações estão no Mapa Assistencial, publicação que traz diversas informações sobre o atendimento prestado pelas operadoras de planos de saúde no país e as compara com os índices dos países da OCDE. Entre os dados disponíveis, estão o número de internações, consultas, terapias e exames, e ainda os custos assistenciais informados pelo setor referentes aos anos de 2014 e 2015.
Nesse período, foram registradas 15,5 milhões de internações pelos planos de saúde, totalizando 166 por 1.000 beneficiários, número também acima da média da OCDE, que fica em 155.
Os exames de ressonância magnética feitos pelos planos de saúde brasileiros também superam a média dos países da OCDE, com taxas maiores que as da Turquia, dos Estados Unidos e da França, os países com os índices mais elevados. Para a ANS, é possível que, neste caso, o indicador esteja apontando a execução de exames desnecessários.
Para a coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, os resultados são alarmantes, já que a intervenção cirúrgica expõe a mãe e o bebê a riscos desnecessários.
“Um prejuízo que a criança pode ter é ela nascer antes do tempo que estaria pronta para nascer e, portanto, pode ter dificuldade para respirar, pode precisar ir para uma UTI [Unidade de Tratamento Intensivo] neonatal, e isso é um imenso prejuízo no começo da vida, essa separação da mãe. Para a mãe, o primeiro risco é que a cesárea é uma cirurgia, e como tal tem maior chance de hemorragia, de infecção, e também a recuperação da mulher é pior na cesárea do que no parto vaginal”, comparou.
No Brasil, 28% das mulheres começam o pré-natal querendo a cesárea, enquanto a média mundial é de 10%. O dado preocupa a pesquisadora, que defende uma mudança na cultura do parto no país.
“Tem uma cultura na sociedade, muitas mulheres hoje realmente já acham que a cesárea é uma boa forma de ter parto. E para os médicos também, é conveniente para eles que a cesárea aconteça porque organiza a vida deles, marca uma atrás da outra e não fica à disposição do tempo que você não controla, que é o tempo de nascimento de cada criança. É verdade que médicos podem induzir a mulher a fazer a cesárea, mas o sistema está todo organizado de uma forma a promover isso”.
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