Cidades precisam compreender importância da biosfera, diz socióloga

Saskia Sassen participa de debate com o secretário de cultura de São Paulo, Nabil Bonduki - Foto: Marcos Coil
Saskia Sassen (à esquerda) participa de debate com o secretário de cultura de São Paulo, Nabil Bonduki (à direita) – Foto: Marcos Coil

A socióloga holandesa Saskia Sassen, uma das principais intelectuais de temas como a vida nas cidades e a ecologia, disse nesta quarta-feira (26) que as grandes cidades do mundo, como a metrópole paulistana, precisam se valer da biosfera possível em seus territórios para produzir mais energia. Ela abriu a Virada Sustentável de 2015, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, em um debate com o secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki.

Segundo ela, a energia solar ou a coleta de água da chuva, por exemplo, poderiam ser ter uma capacidade maior de processamento a partir de práticas não tão dificultosas. “Começamos a perceber agora como a biosfera se faz presente numa espécie de mundo invisível. Existem moléculas nessas paredes, por exemplo [aponta para os lados do auditório]. Ainda estamos distante de trabalhar com biosfera nas grandes cidades, e isso é um problema. Pensemos, por exemplo, numa rua que fica vazia durante o dia – ainda que isso seja cada vez mais difícil -, a gente pode coletar, nela, ou a água da chuva ou a energia solar. Temos que coletar energia de alguma forma o tempo todo. Essa capacidade biosférica que está incrustada nas nossas cidades é maravilhosa”, explicou ela. “Ou pensemos em rios ou lagos poluídos: a melhor forma de limpar água poluída é com algas, não com produtos químicos. Isso funciona muito bem, já sabemos disso. A questão é que a biosfera tem um ritmo de funcionamento diferente do nosso, muitas vezes mais lento do que a nossa destruição”, completou.

A socióloga também afirmou que o equilíbrio das cidades, independentemente do tamanho delas, é um processo de retorno ao que elas já foram em períodos passados da história. “Há cidades que continuam funcionando hoje mesmo depois de tantos anos. Passaram por reis, regimes, corporações, eras, enfim. Elas passaram por tudo isso numa boa. Essa mudança que me refiro, então, não seria uma revolução, mas apenas uma transformação possível. Uma reinvenção. Não quero que a cidade volte à natureza, uma visão romântica da situação, mas apenas que a gente entenda que a biosfera tem um papel determinante na vida das cidades. Precisamos trabalhar com elas, porque elas não funcionaram assim sempre: tinham um equilíbrio que foi perdido em algum momento. Hoje, cidades como São Paulo, Londres ou Nova York não têm mais essa relação”, continuou Sassen, que ainda reconheceu as dificuldades encontradas na capital paulista nesse quesito. “Existe muito trabalho a ser feito em São Paulo, mas não é preciso uma máquina gigantesca para iniciar esse processo. A cidade precisa de um reconhecimento do que ela é, de forma a procurar chegar mais próximo de um equilíbrio”, finalizou.

Nabil Bonduki, por sua vez, colocou o problema do espaço em São Paulo como central. Prédios abandonados (alguns ocupados por movimentos de moradia), e espaços centrais, como o que recentemente se tornou um mirante, na Avenida Nove de Julho, estão no mesmo território em que existem vários terrenos úteis sem nenhum tipo de ocupação. “Precisamos fazer uma mudança na mentalidade dos cidadãos que estão nessa cidade. Isso empreende mudar alguns valores, como a ‘cultura’ do automóvel, que já se tornou um valor. Considero até cafona essa coisa de ter um carrão, como aqueles do Collor, mas ainda é um valor para as pessoas. O cidadão precisa exercer seu papel transformador na sua própria casa, dentro do seu habitat na cidade. Hoje a lógica reinante é do ‘quanto mais espaço meu, melhor’”, disse.

No início do debate, um homem interrompeu a apresentação de Sassen para reivindicar as questões do Parque Augusta, no centro da cidade, e do Parque dos Búfalos, no extremo sul, que já havia sido alvo de protestos em agendas do prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT). Ele subiu em uma cadeira e gritou palavras em inglês para Sassen, mas a organização do evento pediu que ele se manifestasse após o debate.

A Virada Sustentável acontece no Auditório do Ibirapuera até o final de semana e recebe vários intelectuais da vida em cidade, como o também sociólogo norte-americano Richard Sennett, que participará de debate na noite desta quarta.


Comentários

Uma resposta para “Cidades precisam compreender importância da biosfera, diz socióloga”

  1. Avatar de Ricardo fraga oliveira
    Ricardo fraga oliveira

    Como disse antes da abertura: YOUR ATENTION PLEASE! TEORY AND PRACTICE … DISCUSSION WITH REALITY…. AUGUSTA PARK AND BÚFALOS PARK….OUR KEY SPACES!

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