Com os olhos sobre Fukushima

Foto: AIEA/Giovanni Verlini
Foto: AIEA/Giovanni Verlini

À medida que a data da operação de retirada dos combustíveis nucleares do reator 4 da usina nuclear de Fukushima se aproxima – prevista para meados de novembro – muitas informações a respeito dos possíveis desdobramentos do procedimento têm se propagado na Internet. Uma das mais alarmantes é atribuída ao ativista anti-nuclear, o americano Harvey Wasserman, que afirma em texto que a operação pode ter consequências catastróficas – como contaminação do ar, do mar e explosões – e pode impactar não só a costa japonesa, mas como o mundo todo.

O procedimento faz parte de um processo de quatro etapas de um cronograma anunciado pela Tepco (Tokyo Electric Power), empresa que gerencia a usina, e que pode levar até 40 anos para a desmontagem total do complexo nuclear.  O reator 4 era o único que não estava em funcionamento quando o complexo foi atingido pelo terremoto e tsunami, em 2011. O acidente causou o pior desastre nuclear desde Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.

Em reportagem ao Common Dreams, Harvey Wasserman, disse que a retirada dos combustíveis nucleares pode ser a missão mais perigosa da engenharia até hoje e que a Tepco não é capaz de fazer o trabalho sozinha. O pronunciado dele também vem em um momento em que a Tepco tem sido associada a uma série de erros humanos e incidentes que propiciaram vazamentos de água radioativa.

Em entrevista para a Brasileiros, o pesquisador em Ciência e Tecnologia do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), e Doutor em Física Nuclear, Luís Antônio Albiac Terremoto, minimizou os riscos da operação. Segundo ele, são bastante improváveis as informações de que a operação no reator 4 pode trazer consequências apocalípticas. “A operação demanda cuidados, mas a chance de ocorrer qualquer problema mais grave é mínima”.

Segundo ele, de acordo com a literatura científica publicada até o momento não há fundamento nas afirmações de Wasserman. O pesquisador lembra que apesar da queda de destroços na piscina do reator 4 (na qual os combustíveis nucleares estão armazenados e são mantidos refrigerados), não está inviabilizada uma remoção segura dos mesmos. “Atualmente já se sabe que em nenhum momento os combustíveis nucleares contidos nessa piscina foram expostos ao ar e, portanto, nenhum acidente de grandes proporções ocorreu com o combustível nuclear naquela instalação”, salienta.

Atenção Internacional

Em outubro, a Organização das Ações Unidas, a ONU, elogiou os esforços da empresa Tepco na reparação das áreas afetadas pelo acidente nuclear. No entanto, nesta semana, segunda-feira (28), o presidente da Autoridade de Regulação Nuclear do Japão (NRA), Shunichi Tanaka, pediu durante um encontro com o principal responsável da central de Fukushima, Naomi Hirose, transparência para poder avançar na gestão da crise nuclear. Em um comunicado oficial, Hirose, pediu desculpas pelos erros ocorridos e disse reconhecer que a questão da contenção da contaminação da água é a mais urgente.

A empresa japonesa entregou à NRA um relatório no qual analisa as causas dos últimos vazamentos radioativos na usina e propõe medidas para evitar novos incidentes. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) iniciou no dia 14 de outubro uma visita ao Japão para ajudar na limpeza das áreas contaminadas pelas radiações ao redor da central nuclear de Fukushima. E informou, através do diretor do departamento de tecnologia de dejetos e ciclos do combustível nuclear, Juan Carlos Lentijo, que a comunidade internacional e a agência em particular acompanham com interesse a retomada das atividades no Japão.

Uma das grandes preocupações dos ativistas e especialistas se concentra na contaminação da água. Outro texto  recentemente publicado na internet aponta que a costa da Califórnia, nos Estados Unidos, teria sido impactada com o vazamento radioativo da usina de Fukushima.  Em agosto, a Tepco divulgou que 300 toneladas de água contaminada proveniente de tanques de armazenamento vazaram para o mar.

A água utilizada para resfriar os reatores da central e que foi lançada no Pacífico contém substâncias radioativas que podem interagir com a biodiversidade, atingindo a vida marinha e potencialmente seres humanos que consumam os produtos marinhos que tenham sido contaminados.

Já em relação à costa da Califórnia, Luís Antônio Albiac Terremoto, afirma que algum tipo de contaminação a mais é possível, mas a possibilidade de atingir a costa norte-americana é baixa “uma vez que a dimensão do oceano é muito grande. O problema maior mesmo é nas imediações, onde o nível de concentração de atividade logo após da descarga tende a ser maior”, esclarece.

Segundo o pesquisador do IPEN, há um processo de purificação – iniciado a partir de julho de 2011 – que consegue reduzir entre cem e mil vezes os níveis de radioatividade. Em entrevista ao G1, Terremoto afirma que a água não se torna potável, não podendo ser lançada de volta ao meio ambiente, mas sim reutilizada no próprio complexo.

Impactos físicos e sociais

O acidente ocorrido em março de 2011 também provocou desdobramentos sociais, forçando o deslocamento de milhares de pessoas que viviam nas proximidades da usina. Além disso, afetou a pesca, a agricultura e a pecuária locais.

De acordo com o ex-presidente do Comitê de Investigação do Acidente na Usina de Fukushima, Yotaro Hatamura, a crise nuclear no país tem causado estresse, ansiedade e perturbações psicológicas, que, em muitos casos, são piores do que um dano físico. Segundo ele, 180 pessoas morreram nos últimos seis meses devido ao acidente de março de 2011. Yotaro Hatamura é também pesquisador e professor universitário.

 


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