Para se abrigar do frio intenso que tem atingido a capital paulista nos últimos dias, os moradores de rua contam ter recorrido a algumas estratégias como: aproximar-se uns dos outros na hora de dormir, a proteção de barracas de camping que lhes foram doadas, a improvisação de barracas com lonas pretas, a proteção de marquises que ajudam a espantar o frio ou o reforço nos cobertores e caixas de papelão. Nesta madrugada, a cidade registrou 0°C, na estação meteorológica da Capela do Socorro, na zona sul. Até agora, cinco moradores de ruas morreram na capital em decorrência do frio.
Apesar das baixas temperaturas, muitos evitam ir aos centros de acolhida à noite, e as razões são as mais diversas. Vão desde o fato da rede municipal ser insuficiente, passando pelo fato de algumas estarem muito distantes do centro da capital ou do local onde atualmente eles se encontram até o fato de as redes de acolhimento não aceitarem cachorros – suas companhias constantes.
Eles reclamam também que, nos centros de acolhida, não há um local adequado onde eles possam deixar, por exemplo, os carrinhos onde depositam os materiais recicláveis que eles vão recolhendo pelas ruas da capital e que os ajudam no sustento do dia a dia. Há também os que reclamam dos horários que são estabelecidos nos centros de acolhida.
O catador de produtos para reciclagem José Hortencio dos Santos, 41 anos, é morador de rua há quatro anos. “Trabalho o dia inteiro e um pouco de noite, até meia-noite ou 1h da manhã. Trabalho na região do centro ou em Santa Cecília. Onde posso ir, eu vou. Faço isso há dois anos já”, relatou.
José Hortencio costuma passar a noite próximo à estação do metrô São Bento. “Procuro uma marquise para não me molhar, né? No frio, a gente dá um jeito de arrumar umas cobertas e se enrolar. Visto uma blusa, duas ou três e aí dá para passar a noite”.
Santos falou que não vai para um centro de acolhida porque lá não aceitam o seu cachorro. E também porque não teria onde deixar o carrinho com os produtos de reciclagem que vende. “No albergue não pode porque tenho uma carroça para trabalhar e um cachorro. E lá não aceita”, disse o morador que, no entanto, não se queixa do auxílio da prefeitura, que inclui o lugar pra dormir e a comida. “A prefeitura já está fazendo o suficiente que é dar o pouso e a comida. Mas não é qualquer pessoa que pode ir para o albergue. Tem uma carroça ou cachorro e não tem onde deixar, aí é problema da pessoa”.
Cinco moradores de rua já morream em São Paulo em decorrência do forte frio. As causas da morte ainda estão sendo investigadas, mas a Arquidiocese de São Paulo acredita que a razão são as baixas temperaturas. Com recordes de frio, São Paulo registrou 0ºC hoje (13), às 3h30, o que deixa os moradores de rua ainda mais vulneráveis.
Segundo a prefeitura, a Operação Baixas Temperaturas, iniciada em 16 de maio, recolhe, em média, mais de 9 mil pessoas por dia. A administração municipal informou que ampliou em 1,2 mil as vagas nos 79 centros de acolhida da capital. No total, a cidade tem 10 mil vagas fixas.
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