Contra agronegócio, MST realiza feira com produtos orgânicos e preços justos

Foto: Joka Madruga e Victor Tineo/ mst.org.br
Foto: Joka Madruga e Victor Tineo/ mst.org.br

Com o objetivo de promover um contraponto ao agronegócio e à indústria de alimentos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou nesta quinta feira (22) a 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária, no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo. Cerca de 800 agricultores de 22 Estados diferentes estão reunidos com centenas de variedades de produtos, todos orgânicos e exclusivamente produzidos em áreas de assentamento do MST. “É uma possibilidade das pessoas da cidade conhecerem a produção dos assentamentos da Reforma Agrária. Nosso objetivo é esse, estreitar os laços entre produtor e consumidor, mostrando que existe uma alternativa às grandes indústrias de alimento”, disse a cearense Débora Nunes, dirigente nacional do MST, em entrevista à Brasileiros.

Para Débora, a importância do evento transcende a mera educação alimentar, e lança luz sobre a problemática da Reforma Agrária, política de democratização de terras que, mesmo com um governo próximo ao MST, anda a passos lentos e não atende as demandas do movimento. “Além de mostrar para a sociedade que as pessoas podem consumir produtos de alta qualidade e produzidos por pequenas famílias, o evento reforça a importância da Reforma Agrária no País. A democratização das terras no Brasil está muito lenta, vivemos um momento complicado e o governo também não ajuda muito. Por isso que a feira é ainda mais fundamental, para mostrar a todos que uma outra sociedade é possível”.

Foto: Alex Tajra
Ex-presidente Lula esteve na feira neste sábado Foto: Ana Luiza Chinellato

 

A feira oferece uma variedade impressionante de produtos, desde alimentos até artesanatos, e contempla a imensidão cultural dos Estados brasileiros. O fato da primeira edição da feira nacional ser realizada em São Paulo traz uma grande visibilidade à produção dos assentados, já que na grande parte das metrópoles os consumidores não possuem a informação devida sobre a produção orgânica e associam este tipo de produto com preços altíssimos. “Aqui as pessoas aprendem que nossos produtos orgânicos podem ser consumidos por preços justos. E este preço justo, ao mesmo tempo que me ajuda a sustentar minha família, ajuda o consumidor que paga um valor honesto. As coisas aqui custam a metade do que está no mercado”, disse José Santino, que veio de Atalaia, interior de Alagoas, para vender seu tradicional inhame.

Foto: Reprodução/ Facebook
Foto: Reprodução/ Facebook

Na última segunda-feira (19), Santino colocou centenas de quilos do vegetal em um caminhão e, junto de um amigo, percorreu três dias de estradas até chegar na capital paulista. O alagoense conta que está assentado há 14 anos e que travou uma dura batalha com as autoridades para conseguir o direito à posse da terra. “Fiquei quatro anos morando em acampamentos, até que em 2001 eles concederam a terra. Essa é a importância da Reforma Agrária, permitir que as famílias possam produzir e se sustentar com um alimento ecológico e saudável.”

Já para Liel Freitas, sul mato grossense e assessor técnico do MST, o evento é uma grande oportunidade para as pessoas da capital terem contato com a agricultura familiar e com os produtos típicos das diversas regiões do Brasil, principalmente Norte e Nordeste. “Todos os produtos que eu trouxe foram produzidos por mulheres, um coletivo organizado em um assentamento de Anastácio”, conta Liel que é morador da capital Campo Grande, mas vende produtos dos assentados na feira. Além de militante pela Reforma Agrária, Liel é um grande defensor dos direitos indígenas, estes que estão cada vez mais ameaçados no Mato Grosso do Sul e em outros Estados. “Os índios estão sendo expulsos das terras deles muito em função das grandes indústrias e do agronegócio. É uma briga feia e mortes estão acontecendo.”, argumenta, mostrando como as lutas do MST e dos indígenas têm muito em comum.

Foto: Reprodução/ Facebook
Foto: Reprodução/ Facebook

Assim como José Santino, a macaibense Adriana Alves também passou três dias viajando para chegar a São Paulo. Além de Adriana, o ônibus levava 28 pessoas, sendo oito da Paraíba, e as outras 20 de diversas cidades do Rio Grande do Norte, como Macaíba, Vera Cruz e Lagoa Salgada. A agricultora faz parte de um dos assentamentos mais proveitosos do MST, que é considerado o maior produtor de mandioca do Brasil. “Foi um desafio muito grande para o Rio Grande do Norte trazer esses 28 trabalhadores e trabalhadoras rurais. Isso mostra a importância da Feira da Reforma Agrária.  A feira ajuda muito na divulgação, em mostrar para a sociedade que os assentamentos estão produzindo, apesar das dificuldades que nós passamos.”

Para Adriana, o evento é uma forma destes trabalhadores rurais se expressarem e mostrarem que estão vivos e produzindo, apesar de um grande descaso por parte do governo.  “Apesar de ainda não existirem políticas públicas eficientes para uma Reforma Agrária popular, que é o que nós defendemos, a feira mostra para todos que existem muitos trabalhadores e trabalhadoras no Brasil dispostos a levar a mesa das pessoas um alimento orgânico, de qualidade e com preço justo.”, conclui Adriana.

A 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária fica no Parque da Água Branca até o próximo domingo (25), com diversos seminários, danças e cantos típicos, atrações musicais e muito alimento orgânico. Confira a programação completa clicando aqui.



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