Dados da ONU indicam aumento de denúncias, diz professora

Violência contra a mulher - Foto: Divulgação/HCUnicamp
Violência contra a mulher – Foto: Divulgação/HCUnicamp

O aumento de 21% do número de homicídios contra mulheres não é um dado alarmante. Ao contrário, reflete uma realidade já conhecida dos níveis de violência do Brasil. Essa é a análise da professora Carla Cristina Garcia, do curso de Ciências Sociais da Pontíficia Universidade Católica (PUC), que estuda o feminismo e as causas das mulheres no País. Para ela, os dados divulgados nesta segunda-feira (9) pela ONU são apenas reflexos do que os brasileiros estão acostumados a presenciar de alguma forma. No entanto, há algo para comemorar: o aumento de registros indica que tem mais gente denunciando a violência praticada contra grupos específicos, com o de mulheres.

“O número de homicídios no Brasil sempre foi muito alto. Esse dado mostra, na realidade, que há um número maior de denúncias. Talvez a repercussão da Lei Maria da Penha e o agravante do feminicídio como crime colaboraram para que mais pessoas denunciassem essas violências. A realidade do Brasil sempre foi essa: mulheres sofrem violência de pessoas conhecidas, ao contrário dos homens, que geralmente morrem de forma violenta por mãos desconhecidas”, disse ela. “O que falta para o Brasil são políticas públicas eficientes para defesa da mulher. Campanhas efetivas que concedam mais visibilidade para esse problema”, completou.

A professora também não considera estranho o fato de o Brasil figurar em quinto lugar numa lista com 83 países catalogados como violentos para as mulheres. Segundo ela, o tamanho do território brasileiro não diz nada sobre o dado. Hoje, 4.8 mulheres são assassinadas no País a cada 100 mil habitantes. “O Brasil é um país tremendamente violento. O genocídio da população negra, de índios, de mulheres não dá pra negar. É evidente. Tanto a violência urbana quanto a de grupos específicos é evidente. Somos um país racista, xenófobo e machista. Natural estar numa posição assim. Pensei que estaria até mais alto”, disse.

Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (9) pelo estudo Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres, produzido por meio de uma parceria da ONU Mulheres com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do governo federal, o número de mulheres vítimas de homicídio cresceu 21% nos últimos dez anos. Neste período, 46.186 mulheres foram assassinadas, grande parte dos homicídios causados por pessoas conhecidas da vítima, como familiares e parceiros.

O estudo mostra que, em 2003, foram registrados 3.937 assassinatos de mulheres no Brasil. Já em 2013, ano das informações mais recentes, o número saltou para 4.762. Os números foram verificados por meio de registros do Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde. Os dados revelam que o País ainda é um dos líderes quando se fala de violência contra a mulher: dentre os 83 países divulgados pela Organização Mundial de Saúde, o Brasil figura em quinto lugar, com uma taxa de 4,8 mulheres assassinadas para cada 100 mil habitantes.

E os números só pioram quando se analisa as mortes por Estado. Em Roraima e na Paraíba, por exemplo, as taxas mais que triplicaram em dez anos. Nas capitais, Vitória, Maceió, João Pessoa e Fortaleza lideram o ranking de mulheres assassinadas, com dez a cada 100 mil habitantes. Nordeste e Norte são as regiões onde mais se observou um crescimento nestas taxas: entre 2003 e 2013, o número de homicídios de mulheres subiu 79,3% no Nordeste e 53,7% no Norte.

Em relação ao perfil das vítimas, as mulheres negras são ainda mais atingidas. Nos dez anos analisados, o número de homicídios de mulheres negras cresceu 54% (saltou de 1.864 para 2.875). Já em relação às mulheres brancas, os assassinatos caíram 9,8% no mesmo período, totalizando 1.576 casos em 2013.

Os dados divulgados também fazem menção ao feminicídio, a morte causada por motivo de gênero. Dos 4.762 homicídios de mulheres, mais da metade metade (50,3%) foi causado por um familiar da vítima, o que leva ao assustador número de sete feminicídios por dia no Brasil. Deste número, 1.583 mulheres foram mortas por parceiros ou ex-parceiros, o que corresponde a 33,2% do total de homicídios naquele ano.


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