Pelé completa neste sábado (6) o seu 12º dia internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Desde o dia 24 de novembro, ele já foi diagnosticado com infecção urinária , a imprensa descobriu que lhe falta um rim desde a década de 70, foi para a UTI na quinta-feira (27), quando colocou o mundo em alerta sobre seu estado de saúde, fez hemodiálise, exames rotineiros, foi tema de homenagens, piadas e, do início da semana para cá, o hospital sempre frisa em seus boletins médicos que ele está “caminhando pelo quarto”. Pouco para um dos brasileiros (senão o brasileiro) mais conhecido no mundo, justamente, pelos arranques com a bola sobre os zagueiros e pelos longos percursos que fez em viagens, após a sua aposentadoria, para fortalecer o futebol, esporte no qual é a lenda máxima.
Dez momentos em que Edson Arantes foi Pelé
O Brasil, no entanto, não lembra do Rei Pelé apenas pelos seus imperiais com a bola nos pés ou nos felizes episódios da monarquia de Edson Arantes de Nascimento, mas também dos momentos em que ele abandonou a coroa e o trono para ser, por alguns instantes, vociferado pela massa que tanto o ama. A seguir, Brasileiros lista dez coisas que fizeram de Pelé um Edson:
COPA PARA INGLÊS VER – Logo após o tricampeonato mundial, em 70, Pelé disse que não disputaria outra Copa. Assim, foi acusado de falta de patriotismo por ter largado a Seleção e preferir ficar na arquibancada fazendo propaganda de uma marca de refrigerantes estadunidense, indo em seguida para os Estados Unidos atraído pelos milhões de dólares do Cosmos. “Ele foi endeusado e depois não quis disputar a Copa. Foi o primeiro jogador brasileiro a se recusar a servir à Seleção. Depois, apareceu lá na Alemanha usando uma camisa com escudo de uma fábrica de refrigerantes”, diz o jornalista de Vaney, no livro “As verdades sobre Pelé”. Foto: Museu Pelé
FORTALECENDO OS MILICOS – O ano era 1978. Pelé havia encerrado sua carreira um ano antes, em um jogo pelo Cosmos, de Nova York, e quatro anos depois da sua última partida pelo Santos, em 1974, contra a Ponte Preta, de Campinas, na Vila Belmiro. Começava a ser explorado pela publicidade das lojas e, por convite de uma delas, viajou a Ribeirão Preto em junho daquele ano para inaugurar a filial de uma grande varejista de eletrodomésticos. Durante a festa, foi questionado por um repórter da rádio da cidade sobre o cenário político do Brasil, que vivia um dos périodos mais duros da repressão da ditadura militar, e respondeu da seguinte maneira: “o povo brasileiro não está preparado para votar, por falta de prática e de educação. Vota mais por amizade”. Foto: New York Cosmos
MINISTRO PELÉ – Quando era Ministro do Esporte, criou a Lei Pelé, que tinha como objetivo modernizar o futebol brasileiro ao transformar os clubes em empresas. A lei até hoje é polêmica: Pelé acusa os grandes clubes de terem deturpado o projeto original, enquanto os mesmos dizem que a lei teria facilitado a saída dos jogadores de seus clubes, favorecendo as transferências para o exterior. “Foi um passo muita à frente, para o qual os dirigentes não estavam preparados”, disse à época. Foto: Dedoc
BASTARDA – Pelé foi obrigado a reconhecer a paternidade judicialmente de Sandra Regina Machado, vereadora de Santos, vitimada por um câncer em 17 de outubro de 2006. O processo foi iniciado durante os anos 90 e, durante este período, o ex-jogador foi obrigado a fazer teste de DNA, que confirmou a paternidade em 1996. Pelé recorreu 13 vezes, mas perdeu todas. No velório de Sandra, Pelé enviou flores, mas não foi. Ele já havia dito, por meio de sua assessoria, que não iria por não se sentir bem em um ambiente como aquele. Uma das coroas dizia: “À família Arantes Felinto nossas condolências, de todos os funcionários das empresas Pelé”. A outra: “Que Deus a tenha. Sentimentos da família Arantes do Nascimento”. Foto: Acervo Pessoal
POETA – Em 2005, Pelé se envolveu em uma das polêmicas mais famosas de sua vida, justamente, com outro grande jogado de futebol, ao palpitar sobre o fim da carreira de Romário, então com 39 anos, dizendo que ele deveria se aposentar. “O Pelé calado é um poeta. Nem gostaria de responder a isso, mas existem pessoas que merecem ouvir. A gente sabe que o Pelé só fala merda. Mais uma vez tem que se meter na minha vida. Não me meto na vida dele, não sei por que ele se mete na minha”, respondeu Romário, dias depois. Foto: Vasco da Gama
GORDO – Meses antes da Copa de 2006, Pelé afirmou que Ronaldo Fenômeno estava muito acima do peso e deixava seus problemas pessoais interferirem em seu desempenho. O Fenômeno também não perdoou. “Realmente fiquei decepcionado com o Pelé. Ele é brasileiro, um ídolo nosso. Acho que ele foi um oportunista barato. As coisas estão complicadas, mas não esperava isso dele, de falar da minha vida pessoal. O Pelé tem família, tem os problemas dele para resolver, para se preocupar. Bem que podia me deixar em paz”. Foto: CBF
PRA QUE PROTESTAR? – No calor das manifestações de junho de 2013, Pelé participou de um evento de um de seus patrocinadores em São Paulo. Questionado sobre os protestos, disse que era preciso “pensar na organização” da Copa. “Agora faltam dez meses para começar a Copa do Mundo. Então não vai dar para quebrar todos os estádios e devolver o dinheiro. Infelizmente não vai dar. Então vamos aproveitar este tempo que nós temos para arrecadar dinheiro para que o Brasil faça um turismo muito grande e recompense o dinheiro que foi roubado nos estádios”. Foto: Mídia Ninja
ELE JÁ SABIA – Pelé, assim como Neymar, foi garoto-propaganda da Volkswagen no Brasil e na Alemanha, país de origem da montadora de carros. Lá, o vídeo publicitário gravado pelo ex-jogador mostrava ele ministro do Esporte brasileiro e pedia que a equipe do técnico Joachim Löw “pegasse leve” durante a Copa para dar mais chances para a Seleção. “Nós brasileiros estamos aguardando o torneio mais importante de futebol no mundo, em nosso País. Já imaginaram o que seria para nós não ganhar esse torneio? Então, minha solicitação é a seguinte: joguem um pouquinho menos. Em meu nome, quero agradecer a sua compreensão e desejo uma boa sorte para vocês em 2018”. A propaganda pegou muito mal quando chegou. Foto: Reprodução
MORTE NORMAL – Em abril desse ano, após a morte do trabalhador Fabio Hamilton Cruz, enquanto trabalhava na construção da Arena Corinthians, em Itaquera, palco da abertura da Copa, Pelé disse que o fato “era normal”. “Pode acontecer, mas a minha maior preocupação é quanto à estrutura, os aeroportos, porque no Brasil sempre dá-se um jeitinho”, disse, ressaltando novamente a preocupação com os aeroportos. “Voltei recentemente para o Brasil e o aeroporto está um caos. Essa é minha preocupação”. Foto: Reprodução/ TV RECORD
PRECIPITAÇÃO? A última pérola de Pelé foi sobre o assunto que está em debate no Brasil: o racismo. Depois de sucessivos episódios de intolerância racial, como o que sofreu Tinga em um jogo no Peru e um juiz de futebol em Caxias, no sul do País, o ex-jogador foi questionado sobre as ofensas contra o goleiro Aranha, do Santos, que foi chamado de “macaco” por torcedores do Grêmio, em uma partida em Porto Alegre. “Acho que o Aranha se precipitou um pouco em querer brigar com a torcida. Se eu fosse parar o jogo cada vez que me chamasse de macaco ou crioulo, não tinha jogo”, afirmou. “O torcedor, dentro de sua animosidade, grita. Acho que temos que coibir o racismo, mas não é em um lugar público que vai coibir. O Santos tinha Doval, Mengálvio, Pelé… Só o Pepe era branco. Iríamos jogar na Bahia, no interior, e nos xingavam de tudo quanto é nome. Quanto mais atenção der para isso, mais vai aguçar. Tem que coibir o racismo. Com pobre, há discriminação também”. Foto: Santos FC
Deixe um comentário