Dois retratos sobre a crise de água no Estado de São Paulo

"Rita do Queijo" já perdeu a horta e animais desde que começou a faltar água no seu sítio, em Piracaia - Foto: Luiza Sigulem
“Rita do Queijo” já perdeu a horta e animais desde que começou a faltar água no seu sítio, em Piracaia – Foto: Luiza Sigulem

O excesso de moscas alvoroçadas no curral na manhã do primeiro domingo do ano só fez sentido para Rita depois do almoço. Doracy, um dos rapazes que a ajudam no serviço do sítio, lhe avisou que o cheiro do cadáver de Siló, uma das poucas entre as suas 43 vacas que tinha nome, já podia ser sentido na estrada adjacente à sua propriedade, na zona rural de Piracaia, cidade a cerca de 90 quilômetros de São Paulo. Abandonou os afazeres na estufa de queijos e foi, acompanhada do funcionário, ao abrigo dos animais, construído na entrada principal do sítio, orientá-lo sobre o que fazer com o bicho. “Morreu de sede, dona Rita. Não tem água para elas tomarem desde ontem”, disse-lhe, antes de sair em busca de outros ajudantes dispostos a carregar a vaca até uma cova qualquer. Viu-se, então, sozinha com Siló, suja, a boca aberta, os ossos da barriga em evidência e, ao lado do corpo, o barril improvisado de bebedouro preenchido apenas com folhas de árvores e restos de comida.

“Perdi três vacas por falta de água. Até morrer a primeira, a gente não sabia quantos litros de água cada uma toma quando encosta no bebedouro: descobrimos que são 50 litros por vaca. Elas tomam água sempre que sentem sede. Nesse calor, passam quase o dia inteiro comendo e bebendo”, explica Rita, surpreendendo-se com a própria realidade. “Não conseguimos nem aproveitar a carne, porque ficaram tão magras que não sobrou nada. Só deu pra enterrar”, completa.

Antes de a água acabar, a renda mensal da família era constituída pela plantação da horta, pelo comércio informal com os turistas, que agora, com a represa seca, não viajam mais à cidade, e com o leite das vacas. Rita produz queijos artesanais para supermercados e feirantes da região urbana de Piracaia e para compradores avulsos que se aventuram no caminho do sítio apenas para adquiri-los. Ela ainda faz doces de leite, bolos, rosquinhas de nata e biscoitos que também são vendidos ali mesmo, na porta da propriedade; vende puro em garrafas aos moradores dos condomínios de luxo próximos e, por fim, ainda depende da ordenha das vacas para assar os quitutes que oferece semanalmente às crianças das escolas da cidade, em um acordo informal com alguns professores de Piracaia.

Desde junho, quando a horta secou, porém, o leite das vacas se tornou a única fonte lucrativa para Rita. Ainda assim, o trabalho dobrou desde que a crise hídrica no Estado de São Paulo chegou ao seu sítio: para saciar a sede dos animais, ela precisa enviar um funcionário ao sítio vizinho – onde o proprietário gastou cerca de R$ 30 mil para cavar um poço artesiano de 250 metros – para pegar água emprestada em uma baura (espécie de carreta em formato de tonel usada no transporte de água). O trajeto é feito, em média, duas vezes ao dia, podendo chegar a quatro em dias de calor intenso, o que se fez necessário desde que as duas nascentes que ficavam dentro das terras de Rita secaram e que a água que abastecia as torneiras da casa e as bicas do quintal parou definitivamente de chegar. “Tinha um canal ao lado da minha horta e eu irrigava a plantação com a água que vinha de uma dessas nascentes. Como ela secou, eu perdi a horta. Vendia vários legumes e verduras na feira e agora nem dela eu participo”, diz. No final do ano passado, uma das nascentes voltou a verter, e desde então, Rita coleta a água da pedra em baldes que oferece às galinhas no poleiro e aos seus quatro cachorros que passam o dia rodeando o sítio. É a única fonte natural de água que ela ainda possui.

“Acabou metade da renda que eu tinha por mês, contando com a horta, que, por estar seca, não me permite participar da feirinha em Piracaia e com o movimento menor do pessoal dos condomínios da beira da represa, que vinham até aqui comprar queijo, leite, verdura. Sem água na represa eles não ficam mais aqui na cidade”, lamenta. “Tem dias que só dá vontade de chorar”. Na tarde ensolarada de janeiro em que recebeu a reportagem de Brasileiros em seu sítio, os bebedouros das vacas e das cabras estavam vazios, as plantas da horta estavam mortas, o canal onde outrora vertia água era apenas uma fissura na terra e a torneira da cozinha fazia apenas um falso barulho de pressão quando acionada. Havia água apenas na baura, abrigada embaixo de uma árvore com o que havia sido emprestado pelo vizinho naquela manhã, e em garrafas plásticas que Rita enche nos horários em que o abastecimento volta ao sítio.

A crise no fornecimento e o fim abrupto das várias nascentes e da represa Jaguari-Jacareí, a poucos quilômetros das propriedades rurais de Piracaia, fizeram com que o trabalho informal dos abridores de poços da cidade se valorizasse na mesma intensidade com que lhes passou a ser atribuída a pecha de aproveitadores. Cavar o solo até os lençóis freáticos não custava mais do que R$ 100 por metro de terra tirada até alguns anos atrás, época em que ter um poço à disposição era quase um artigo de luxo. Quando Rita chamou um dos poceiros da região ao sítio, em agosto, para consultá-lo sobre a possibilidade de abrir um buraco em suas terras, o rapaz lhe entregou um esboço de contrato onde estava escrito que, até dez metros, o preço lhe seria de R$ 400 por metro. Senão fosse encontrada água até aquela profundidade, o preço subiria para R$ 500 por metro até achá-la. Em suma: o valor do serviço aumentou cerca de cinco vezes desde que a água começou a faltar. “Antes, construir um poço semi artesiano custava, no máximo, uns R$ 6 mil. Hoje é impossível fazer um por menos de R$ 10 mil. O artesiano, que é melhor, agora é feito por meio de um contrato: o preço vai aumentando enquanto vão cavando a terra. Um dos meus vizinhos pagou quase R$ 30 mil para furar 300 metros do solo até encontrar água. Eu sempre digo ao meu marido que sinto uma inveja dele, porque sempre que eu passo lá vejo aquele poço jorrando”, revela Rita. “O pessoal sempre vai à redação reclamar de que o preço está absurdo, de que estão se aproveitando da situação, mas chega um momento em que não há o que fazer, né? Todo mundo precisa de água”, completa o jornalista Ademir Munhoz, do semanário Piracaia Hoje, principal veículo de comunicação da cidade.

Não há diferenças distantes entre um poço semi artesiano e um artesiano: o primeiro é menos profundo e geralmente necessita da instalação de um equipamento que bombeie a água do lençol freático, ao contrário do segundo, que, por ser mais fundo, jorra a água para fora da estrutura sem nenhum tipo de trabalho humano. “Um rapaz de um sítio próximo precisou de 35 metros pra encontrar água, e depois me disse que descobriram um ribeirãozinho embaixo das terras dele. Está todo feliz o homem”, diverte-se Rita, antes de enrugar o rosto outra vez. “Aqui no meu sítio isso seria impossível. Tem muita pedra aí e estamos em uma parte alta da estrada. Por isso eu nem invisto nisso”.

Rita, conhecida em Piracaia como “Rita do Queijo” por ser a única fornecedora do derivado da cidade, batizada de Maria Rita Silva Brígido, tem 52 anos, 34 deles vividos no mesmo sítio, período em que se casou. Desde então, ela expandiu a venda de verduras e legumes para estabelecimentos comerciais de Piracaia e aumentou a produção de queijos para os turistas de São Paulo. Admite-se a matriarca da casa, onde ainda moram o seu marido, Valdemar, popularmente chamado de Mazinho, e os dois filhos, Adriano, o mais velho, de 29 anos, e Valdemar Júnior, de 25, que passaram a infância e a adolescência brincando nas margens da represa. “Os mais velhos dizem que nunca viram um período de seca como esse na vida. Teve, claro, alguns tempos sem água, mas daí chegavam as chuvas de dezembro, janeiro, e tudo voltava ao normal. A gente teme que nunca mais tenha água como antes aqui”.

Rita despede-se timidamente. Na porta do sítio, Doracy recolhe a baura para mais uma viagem de coleta de água no poço vizinho. O carro avança pela estrada e, na curva seguinte ao cercado do Santa Rita, uma grande placa branca orienta os motoristas a seguirem pela direita. “Diversão às margens da represa”, diz o letreiro, embaixo de uma fotografia de um Jet Ski pulando sobre as águas brilhantes da Jaguari-Jacareí, outrora responsável por 82% do manancial do Cantareira e hoje ancoradouro para duas lanchas quase dominadas pelo mato.

Condomínio Náutico de Piracaia

Quando Marcos Coronato resolveu comprar a pequena lancha Alternativa 600, em 1998, o único lugar onde poderia usufruí-la era em um chalé na beira de uma das represas do Sistema Cantareira, na cidade de Nazaré Paulista, no interior, que ele alugava para passar as férias com a família. Ele descobriria a existência do Condomínio Náutico apenas sete anos depois, em 2005, quando, cansado de ter que pagar uma quantia mensal para deixar o barco em um dos píeres, ouviu os conselhos de um colega de trabalho sobre um lote que estava sendo terraplanado em Piracaia, cidade vizinha a Nazaré. Naquele ano, o condomínio ainda era apenas um conjunto de terrenos recém-inaugurado às margens da represa Jaguari-Jacareí, atraente para os paulistanos de classe média alta que, como ele, estavam desiludidos com a ideia de ter uma propriedade no litoral paulista por causa do trânsito da Rodovia dos Imigrantes ou de ter de ficar em São Paulo e sofrer com o excesso de gente da metrópole. “Esse lugar era o meu paraíso particular”, conta, saudoso, enquanto observa o ocre dos barrancos outrora preenchidos pelo azul de um dos maiores reservatórios de água da América Latina.

Entusiasmado com a segurança do condomínio, a calmaria do interior e a facilidade para chegar a Campinas, onde a companhia aérea em que trabalha como piloto passou a operar a maioria dos seus voos comerciais, Marcos não esperou nem o sobrado em construção ficar pronto para tomar a decisão que todos da família já esperavam e, em 2010, mudou-se definitivamente com a mulher, Rosana Coronato, para Piracaia. “Imaginei que fosse passar os restos dos meus dias aqui quando tomei a decisão de sair de São Paulo”, revela. A lancha, enfim, deixou de ser um desassossego financeiro no píer de Nazaré Paulista para ser o primeiro equipamento visível na garagem da propriedade inacabada, próximo à rampa de acesso às águas da represa que seria o lazer dele, dos filhos e dos amigos pelos anos seguintes.

Pouco tempo depois da mudança, em uma eleição direta dos moradores, Luís Alberto Borges de Oliveira, um dos conhecidos engenheiros de São Paulo, foi escolhido pela primeira vez para ser presidente do Condomínio Náutico com um mandato de dois anos, tendo Marcos como vice-presidente e outro proprietário, conhecido como Zé Miguel, como uma espécie de conselheiro financeiro. No ano passado, o trio foi reeleito para continuar administrando o residencial, desta vez com o desafio da crise hídrica latente pela queda visível da represa. Entre as primeiras decisões que precisaram tomar, então, estavam a polêmica manutenção de um sistema clandestino de bombeamento da água da Jaguari-Jacareí para as mansões do Náutico que, segundo Marcos, sempre teve o consentimento da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), e o aumento da rampa de acesso dos barcos à represa, pois, com a diminuição da água, o antigo caminho de concreto não atingia mais a margem natural.

Marcos e sua esposa, Rosana, lamentam falta de água na represa. "Aqui era meu paraíso particular", conta - Foto: Luiza Sigulem
Marcos e sua esposa, Rosana, lamentam falta de água na represa. “Aqui era meu paraíso particular”, conta – Foto: Luiza Sigulem

Nem Luís nem Marcos nem Zé Miguel imaginavam que, um ano depois, seria possível cruzar todo o vale do que era o maior reservatório do Cantareira guiando um automóvel comum.

O fim da represa trouxe problemas quase inadministráveis para os líderes do Náutico, como o sumiço dos proprietários que antes passavam quase todos os finais de semana no condomínio, a queda vertiginosa nos preços de venda e aluguel de imóveis e o uso descontrolado de água de alguns moradores alheios à situação, comportamento que Marcos tenta, com medidas obrigatoriamente autoritárias, combater. “Os donos das casas mandam os serviçais deles encherem as piscinas com água da mangueira. Aí quando eu chego lá para conversar, eles dizem que a culpa é dos rapazes. Dizem: ‘eu vou dar uma bronca no meu funcionário. Não sabia que ele estava fazendo isso’. Mas é claro que a ordem partiu exatamente deles. Aconteceu um caso assim recentemente e eu não tive alternativa se não fechar o registro do condomínio. Não tem cabimento ver todo mundo economizando água e o cara enchendo a piscina”, revela Marcos.

O Sistema Cantareira entrou em 2015 operando com 5,1% da sua capacidade, o menor nível desde 1974, ano em que foi inaugurado pelo governo paulista após dez anos de planejamentos e pequenas crises de fornecimento de água em bairros periféricos de São Paulo. Oito anos depois, em maio de 1982, o então governador Paulo Maluf entregou a última obra do conjunto de reservatórios: as barragens dos rios Jacareí e Jaguari – ambos pertencentes à bacia do Rio Piracicaba – que, juntos, passaram a despejar suas águas para a nova represa, com capacidade para um bilhão de metros cúbicos, às margens das cidades de Piracaia, Bragança Paulista, Nazaré Paulista e Joanópolis. No início dos anos 1990, a especulação imobiliária passou a explorar o vasto espaço de terra nas margens das represas para a construção de condomínios residenciais de luxo e para o fortalecimento do turismo náutico de alto custo, com pousadas e chalés estruturados para o manuseio de barcos, como o Condomínio Náutico, construído nessa época. De acordo com corretores de Piracaia, existem atualmente de dez a quinze empreendimentos de classe média alta nas margens da represa apenas nos limites geográficos do município, o menor dos quatro, com cerca de 25 mil habitantes.

A Jaguari-Jacareí está quase vazia: em espaços onde antes era água, hoje é um vasto matagal habitado por marimbondos, duas lanchas brancas abandonadas em meio à terra seca e um número desconhecido de píeres e boias náuticas engolidas pelos arbustos. No horizonte, as montanhas antes escondidas pela água e as rampas cegas que, em outros tempos, serviam para precipitar os barcos nas pequenas ondas da represa, são as únicas provas de que ali existiu um reservatório.

“Eu cansei do Brasil. Vou comprar uma casa em Miami [costa leste dos Estados Unidos] e ir embora desse País. Olha essa casa, toda voltada para a parte náutica”, diz Marcos, apontando para a lancha sozinha no galpão do andar de baixo. “O que eu vou fazer com tudo isso aqui? Quem me garante que daqui a cinco anos vai ter uma represa aqui na frente da minha casa de novo?”, questiona, debaixo da concordância de sua mulher, que aproveita para exibir uma fotografia da época em que a água era abundante. “Ela era limpinha, cristalina, você tinha que ver. Era fantástico esse lugar”, relembra.

O imóvel, ainda sem pintura externa e com pequenos reparos, está à venda desde o final do ano passado. “Quero US$ 700 mil [cerca de R$ 2 milhões] nela, mas até agora nem sinal de um interessado em comprar”. A lancha deve ter o mesmo destino, apesar de ele já ter se conformado que não vai recuperar o preço que pagou no equipamento anos atrás. A última vez em que a usou foi há dez meses, quando um casal de amigos passou um fim de semana na residência, em uma prática comum de Marcos e Rosana desde a mudança para Piracaia  “Ele não vale mais nada aqui. Se eu conseguir pegar uns R$ 30 mil nesse barco estou feliz”, reclama, antes de olhar pela última vez para o que era a felicidade dos seus dias. “Se tiver um furacão parecido com aquele que aconteceu em New Orleans [Katrina, em 2005], talvez volte a ser o que era. Senão, tudo está acabado”, vocifera, para depois nos servir uma jarra de água mineral gelada.

O sumiço da água

Em outubro do ano passado, a Nasa divulgou duas fotografias que um dos seus satélites tirou da represa Jaguari-Jacareí em períodos distintos. Na primeira imagem, de agosto de 2013, o reservatório – repleto de afluentes e pequenas bacias – aparece dominando o cenário verde das cidades ao redor. Em outra, de agosto do ano passado, já é possível observar praias extensas beirando o azul mais claro da represa, em um sinal claro de que a profundidade dela havia diminuído. Segundo a Sabesp, empresa responsável pelo gerenciamento da Jaguari-Jacareí, o manancial tem capacidade para 808 bilhões de litros de água e é responsável pelo abastecimento das zonas norte, central, parte da leste e oeste de São Paulo e dos municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul, além de parte de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André. No final de janeiro, a companhia estipulou horários para a diminuição de pressão nas torneiras dessas regiões, com períodos que chegam a 18 horas em alguns locais. No entanto, a empresa e o governador Geraldo Alckmin negam que a medida seja parte de um racionamento.

Hoje, a Jaguari-Jacareí tem 36 bilhões de litros disponíveis, ou seja, 4,45% do total que já teve um dia.

O nível do reservatório começou a cair em outubro de 2013, ainda quando ninguém imaginava que faltaria água em São Paulo. Foi nesta mesma época que Marcos Coronato decidiu, em conjunto com os colegas da administração do Condomínio Náutico, investir cerca de R$ 150 mil reais na construção de dois poços artesianos em um espaço vazio da propriedade, e que Rita do Queijo soube que seu filho mais velho estava praticando suas atividades físicas matutinas em uma faixa de terra onde ela costumava nadar quando era jovem.

No final de fevereiro, a represa estava operando com 10,7% da sua capacidade, beneficiada pelas chuvas do mês, que corresponderam às expectativas dos institutos de meteorologia. Uma situação distinta do que era há quatro anos, quando a Sabesp precisou liberar comportas de barragens para não causar inundações nas áreas ribeirinhas de todo o Sistema Cantareira. Na Jaguari-Jacareí, por exemplo, choveu 492,7 milímetros em dezembro de 2010, segundo, segundo dados da companhia. O nível do Cantareira atingiu, então, 97,5% da sua capacidade, o maior volume de chuva registrado desde que o sistema existe. Naquele ano, alguns bairros ribeirinhos de cidades como Piracaia e Bragança Paulista foram inundados por afluentes do reservatório e a Defesa Civil chegou a colocar algumas regiões ao redor da represa em alerta.

Piracaia tinha na Jacareí-Jaguari sua única fonte de turismo, tanto com os condomínios de luxo como com os visitantes paralelos interessados nas pequenas praias da beira do reservatório. Todas as placas que, ainda na estrada, indicam a direção do município, também mostram o caminho para o manancial e, já dentro da cidade, banners com pousadas e chalés nas margens da represa são encontrados por toda a parte. “Diminuiu tudo: a busca por imóveis para comprar, para alugar, a frequência de quem passava os finais de semana na rede hoteleira, quem vinha usar o barco, enfim. O que a gente nota ainda é que alguns proprietários de casas de luxo vêm pra cá, mas usam os imóveis de outra maneira”, conta Cássio Rodrigues, corretor de uma das poucas imobiliárias locais.

Sobre a coleta irregular de água da represa Jaguari-Jacareí para os domicílios do Condomínio Náutico revelada por Marcos Coronato, a Sabesp informou, em nota, que “o uso da água diretamente da represa – não tratada – é uma questão que compete ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e à ANA (Agência Nacional de Águas), que são os órgãos reguladores do setor e que disciplinam o uso da água in natura. A Sabesp só pode atuar no uso ilegal de água tratada, retirada sem permissão da rede através de gatos ou fraudes”. Questionadas sobre a resposta da companhia paulista de fornecimento de água, a DAEE afirmou que “não encontrou em seu banco de dados quaisquer outorgas em nome do Condomínio Náutico Piracaia para captação de água na represa Jaguari-Jacareí, no município de Piracaia” e que “o local será incluído na programação de fiscalizações. Sendo constatada a irregularidade, os proprietários serão autuados conforme a legislação de recursos hídricos e orientados a cessar a captação imediatamente”. Procurada, a ANA não respondeu as solicitações.


Comentários

Uma resposta para “Dois retratos sobre a crise de água no Estado de São Paulo”

  1. Avatar de joão batis ferreira
    joão batis ferreira

    tem cabimento isso?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.