“É hora de escolher entre o ‘vácuo’ e ‘fama’”, afirma o presidente do Ipea

Abrindo o primeiro painel do Seminário Brasileiros – Brasil 2020 Rumos da Economia, que acontece nesta sexta-feira, dia 4, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcio Pochmann fez uma comparação entre o atual momento do país com o vivido pela Argentina e pelo Canadá no final do século 19, e ressaltou os caminhos que o país pode tomar a partir deste ponto.

“Temos duas vias a seguir. O da economia da ‘fama’: das commodities, da fazenda e da mineração; e a economia do ‘vácuo’: com uma economia diversificada, de produtos de alto valor agregado e investindo em conhecimento”, afirmou. O economista Luiz Gonzaga Beluzzo, que também participou da mesa, citou ainda o exemplo dos Estados Unidos. “Neste período os EUA tinham uma economia basicamente agrária, e por causa dela conseguiu desenvolver seu parque industrial e se tornar a economia mais importante do século 20”, pontuou.

Belluzzo ainda lembrou que vivemos um momento de transição geopolítica e geoeconômica. “É um terremoto muito parecido com o daquele período, quando os Estados Unidos solapou a Alemanha e a Inglaterra. Hoje vemos a ascensão da China, e o Brasil está muito bem preparado para enfrentar este terremoto”.

“Temos hoje um deslocamento do centro econômico e político dos Estados Unidos para uma relação global multipolar, com a Ásia assumindo um papel de preponderância”, concordou Pochmann, que ressaltou.  “O Brasil sempre viveu mudanças importantes em momentos de crise global. Foi assim na depressão do final do século 19, que derrubou o Império e a escravidão, foi assim na Grande Depressão de 1929. Estamos vivendo outro momento crucial da nossa história”.

O presidente do Ipea ainda lembrou dos desafios que o país ainda enfrenta no campo social, mesmo com o crescimento da última década. “Podemos terminar esta segunda década do século 21 como a quarta economia do mundo, mas ainda temos 16,2 milhões de pessoas que vivem com menos de dois reais por dia. É até difícil para muita gente pensar em como viver com essa quantia”.