A crise política e econômica pela qual o Brasil atravessa reflete a crise política e social, mas também a recessão mundial. A análise é do jurista Fabio Konder Comparato, um dos palestrantes no Ato Pela Legalidade Democrática no Tuca, teatro sediado na Pontifícia Universidade Católica PUC-SP. Para o jurista, a doença vivida pelo Brasil se assemelha à contraída em 1964. “Vivemos uma fase histórica notável por suas consequências, como a substituição do capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro em que bancos não produzem riqueza alguma e ganham rios de dinheiro com a especulação financeira, como acontece no Brasil”.
Em entrevista à Brasileiros, Rui Falcão, presidente nacional do PT, classificou como exemplo de Estado de exceção no País a divulgação do grampo de uma conversa entre o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff. “É um fato de extrema gravidade. O grampo e o vazamento do grampo de uma conversa sem nenhum significado. Isso comprova que há a criação de um Estado de exceção dentro do Estado de direito. A conversa só mostra que ela [Dilma] quer que ele [Lula] assine o termo de posse [da Casa Civil]. O resto é ilação”, disse.
Já o biógrafo Fernando Morais afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “pode pintar-se de ouro, colocar um par de asas nas costas que, mesmo assim, a mídia sem vergonha vai persegui-lo até o último dia”. Morais também defendeu que a crise institucional que hoje assola o País tem filiações que historicamente afrontaram o Estado Democrático de Direito. “Há muito tempo conhecemos essa gente. São os mesmos de 1945, os mesmos de 1950, os mesmos que levaram Getúlio ao suicídio, em 1954, os mesmos que tentaram impedir a posse de Juscelino Kubitschek, os mesmos que levaram Jânio à renúncia, em 1961, e os mesmos que deram o golpe em 1964. Nós sabemos bem quem são eles e sabemos que os interesses são os mesmos”, afirmou Morais.
Na sequência, o jurista Fabio Konder Comparato, avaliou que o atual quadro de recessão econômica no País é também reflexo da recessão das grandes potencias mundiais. “Estamos sofrendo uma doença muito grave, semelhante àquela que acometeu o País em 1964. Diante de uma doença é preciso superar a análise do sintoma e verificar sua causa. A primeira causa de nossa situação econômica periclitante não é culpa do governo, mas um reflexo da crise mundial. A China, por exemplo, teve o menor crescimento dos últimos 25 anos. Também vivemos uma fase histórica notável por suas consequências, como a transformação do capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro em que bancos não produzem riqueza alguma e ganham rios de dinheiro com a especulação financeira, como acontece no Brasil”.
Comparato também enfatizou mazelas históricas que continuam a dividir o País: “É preciso entender que num país que teve quase quatro séculos de escravidão legal o desprezo pelos pobres, sobretudo os negros, dificilmente acabará. Acontece que Lula foi o primeiro político oriundo da classe proletária que assumiu a chefia do estado, em toda historia de República, e o preconceito é muito forte. Nossa revolução tem que ser ética. É preciso renunciar cada um de nós ao egoísmo que é a marca registrada da sociedade capitalista”.
Em breve discurso, o economista Luiz Gonzaga Belluzo afirmou: “Vou falar uma coisa muito simples e rápida porque não quero aborrecer vocês. Só quem perde a democracia sabe valorizá-la. Eu perdi com 21 anos de idade. A perda da democracia foi uma coisa muito dolorosa para mim, porque meu pai era getulista, mas era democrata, juiz direito. Ainda bem que ele morreu, pois acho que ele morreria de amargura diante das barbaridades que vemos hoje”.
Vagner Freitas, presidente da CUT, também fez severas críticas ao vazamento de grampo telefônico da presidenta Dilma Rousseff. “O que aconteceu hoje é mais um atentado à democracia. Mas vamos cerrar a fileira da resistência, derrotar os golpistas na rua e defender a democracia. Sou um representante dos trabalhadores e sei que eles só têm direito na democracia. Não é possível que se possa, impunemente, grampear o telefone de uma presidente da república.”
O ato, que reúne artistas, intelectuais, juristas e representantes de movimentos sociais, está sendo mediado pelo ator Sergio Mamberti, que em seu discurso de abertura afirmou: “Nesta noite, forças e gerações se somam na luta contra o golpe e contra o ódio dos que não aceitam a legalidade democrática no Brasil. Não se combate a corrupção corrompendo a Constituição”.
O ato segue no TUCA e está sendo transmitido ao vivo, por streaming, pela rede TVT. Assista.
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