A pouco mais de um mês da abertura dos Jogos Olímpicos, uma exposição em cartaz na Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio, revela o olhar de ex-moradores de rua sobre o impacto que as obras para o megaevento esportivo vêm causando na vida da cidade. A produção das 37 imagens que integram a mostra Um novo olhar sobre as Olimpíadas foi o trabalho final do curso de fotografia do qual 17 homens, com idade entre 18 e 50 anos, participaram nos meses de abril e maio deste ano.
O curso foi uma iniciativa da Agência Emaús, projeto social do Banco da Providência que promove a reinserção social de moradores de rua do sexo masculino. Localizada em Cordovil, na zona norte do Rio, Emaús acolhe homens adultos, que vivem nas ruas e estão com seus vínculos familiares desfeitos, em grande parte dependentes químicos.
Além do tratamento para a dependência, eles recebem ajuda psicológica, capacitação para o mercado de trabalho e treinam sua autonomia para viver fora das ruas. A metodologia empregada pelo projeto do Banco da Providência, instituição criada em 1959 por dom Hélder Câmara, então bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, procura reconhecer e desenvolver as habilidades de cada acolhido.
Para a realização do trabalho, os participantes do curso fizeram duas saídas fotográficas, sempre orientados pela instrutora do projeto, a educadora e psicóloga Marcelle Gebara. A primeira foi à Avenida Brasil, na altura da passarela 9, para retratar os transtornos que as obras do corredor expresso de ônibus BRT estão causando aos moradores da cidade, e a outra à Vila Autódromo, comunidade da zona oeste nas imediações do Parque Olímpico removida, em sua quase totalidade, pela prefeitura do Rio.
“Esse é um momento histórico para o Brasil e para o Rio de Janeiro e queremos mostrar o descaso, as remoções e as obras intermináveis. É o nosso ponto de vista. Já sentimos na pele o descaso do Poder Público. Espero que todo possam refletir a partir das fotos”, disse um dos participantes do projeto Ivan Charles Mendonça. Durante a cerimônia de formatura do curso, que marcou a abertura da exposição, Ivan também falou sobre o que o projeto tem representado para ele. “Já fui perdido e hoje estou encontrado. Eu já passei por muito sofrimento e hoje estou reconstruindo a minha vida”, afirmou.
Outro aluno do curso Daniel Oliveira saiu de casa aos 12 anos, por questões familiares. “Fiquei fugindo e voltando até que eu tomei gosto pela rua e não quis voltar mais. Já passei por muitos abrigos e muitos não são certos, alguns têm drogas, em outros, os educadores são muito agressivos”, contou. Um dos autores das imagens feitas na Vila Autódromo, Daniel está satisfeito com o acolhimento pelo projeto social. “Estou aprendendo muito lá, aprendendo a correr atrás do meu sonho, amadurecendo”.
Responsável pelas oficinas de comunicação crítica e de fotografia da Agência Emaús, Marcelle Gebara, elogiou o empenho dos alunos e o resultado da iniciativa. “Como instrutora desse projeto, agradeço a cada um que se permitiu criar um vínculo afetivo com a fotografia e com as pessoas através da fotografia”, disse.
A exposição Um novo olhar sobre as Olimpíadas fica em cartaz até o próximo dia 15 e pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 11h às 19h. A entrada é gratuita. A Biblioteca Parque Estadual fica Avenida Presidente Vargas, 1261, no centro do Rio.
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