Filha de Malcolm X em São Paulo: “Obama baixou a guarda dos brancos nos EUA”

"Eles viram a família Obama, uma representação bonita de família negra, que não tinha nada a ver com a imagem do negro marginalizado. Eles ficaram confusos" - Foto: EBC
“Eles viram a família Obama, uma representação bonita de família negra, que não tinha nada a ver com a imagem do negro marginalizado. Eles ficaram confusos” – Foto: EBC

Convidada a participar de um encontro com a juventude negra paulista, a filha do ativista americano Malcolm X, Malaak Shabazz, lamentou nesta quinta-feira (19) a força do racismo depois de tantos anos desde a morte do pai. Ela comemorou, no entanto, a força que o negro ganhou nos Estados Unidos depois que Barack Obama assumiu a presidencia. O problema é que a islamofobia não para de crescer por lá.

Mallak, que também é ativista, se reuniu com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, na manhã desta quinta-feira (19). “Meu pai costumava dizer que não importa se o negro é cristão, judeu ou muçulmano, quando ele sai na rua o branco o tacha como negro”, afirmou ao se referir a Malcolm, assassinado em 1965 durante um discurso no Harlem, em Nova York.

Haddad a questionou sobre a questão racial nos Estados Unidos. Ela afirmou que a maior discriminação nos Estados Unidos atualmente é a islamofobia. “Deixou de ser o racismo. Há um movimento negro mais forte, em posições mais altas. Quando Obama se tornou presidente, a velha guarda dos brancos que queriam os negros por baixo simplesmente não conseguiu lidar com um presidente negro. Eles viram a família Obama, uma representação bonita de família negra, que não tinha nada a ver com a imagem do negro marginalizado. Eles ficaram confusos. Obama conseguiu como nunca antes ter mais brancos para votar nos negros. Então, as coisas estão melhorando, mas ainda há muito o que fazer”, disse Shabaaz ao prefeito.

Segundo ela, os movimentos negros estão mais fortes e as mídias sociais são cada vez mais utilizadas para denunciar e expor violações. Haddad e Shabazz também conversaram sobre a importância das políticas de afirmação para a garantia de direitos e combate à discriminação.

Para a ativista, ações afirmativas são absolutamente necessárias, mas enfrentam muita resistência e, nos Estados Unidos, foram criadas para todas as minorias, que englobam mulheres, latinos e negros. “O problema é que 67% das pessoas beneficiadas por ações afirmativas nos Estados Unidos são mulheres brancas”, explicou, lembrando da criação dos chamados Historically Black Colleges, instituições de ensino superior voltadas para a comunidade negra americana. “Foi muito importante para estudantes que não conseguiam ingressar em universidades como Yale, Harvard e Columbia. Não queríamos ficar só chorando, por isso nós criamos as nossas próprias universidades”, contou. Atualmente há 215 Black Colleges no território americano, onde 98% dos estudantes são negros.

Malaak Shabazz chegou a São Paulo nesta quarta-feira e fica na cidade até sábado (21). Depois do encontro com o prefeito, ela foi visitar o bairro de Cidade Tiradentes. Nesta tarde, ela participa de encontro com a juventude negra de São Paulo na Galeria Olido, onde divide mesa com os rappers Rappin’Hood e Dexter.

Esta é a primeira vez que ela vem ao Brasil. “Minha mãe vinha todos os anos para o Brasil. Ela trabalhava muito e vir para cá era o jeito que ela tinha de respirar, de descansar. Eu sempre quis vir, estou muito feliz de estar aqui e sei que vou voltar”, disse a ativista.


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