6º ministro a deixar o cargo no governo Temer, o agora ex- ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, entregou ao presidente Michel Temer uma carta na qual entregou seu cargo. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa de Geddel.
Com sua demissão, Geddel perderá o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria Geral da República já avalia pedir a abertura de um inquérito contra ele, que já será investigado pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
Geddel foi acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, por tê-lo pressionado a rever decisão do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional que impede a construção de um empreendimento imobiliário onde o ministro da Secretaria de Governo adquiriu apartamento. Em depoimento à Polícia Federal, revelado pela Folha de São Paulo, Calero disse ainda que o presidente Temer o “enquadrou” no intuito de encontrar uma “saída” para obra de interesse de Geddel.
Calero disse aos investigadores da PF ter gravado conversas sobre o assunto com o próprio presidente, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Para que as gravações sejam periciadas e analisadas pela Polícia Federal é preciso que o Supremo Tribunal Federal autorize a abertura de investigação.
No depoimento à PF, Calero narrou ter recebido pressão de vários ministros para que convencesse o Iphan a voltar atrás na decisão de barrar o empreendimento La Vue, onde Geddel diz ter adquirido um apartamento, nos arredores de uma área tombada de Salvador.
“Que na quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”, disse Calero, segundo a transcrição do depoimento enviado ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República.
Em seguida, o ex-ministro da Cultura afirma que Temer encarava com normalidade a pressão de Geddel, articulador político do governo e há mais de duas décadas amigo do presidente da República.
“Que, no final da conversa, o presidente disse ao depoente ‘que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão’”, prossegue Calero.
Na sequência, o ex-ministro afirma que se sentiu “decepcionado” pelo fato de o próprio presidente da República tê-lo “enquadrado” e que sua única saída foi apresentar o pedido de demissão.
Entenda o caso
A saída de Marcelo Calero do Ministério da Cultura, anunciada na última sexta-feira (19), foi o início de uma nova crise no governo de Michel Temer, graças a acusação feita no dia posterior pelo ex-ministro, que colocou sob suspeita o agora ex- ministro-chefe da Secretária de Governo, Geddel, braço direito do presidente nas articulações para a aprovação da PEC de congelamento dos gastos públicos.
Em entrevista a Folha, o ex-ministro da Cultura que foi substituído pelo deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), afirmou ter sido procurado por Geddel, por cinco vezes, para que intercedesse na liberação da construção do condomínio La Vue Ladeira da Barra, embargado pelo Iphan devido ao tombamento de várias edificações históricas em seu entorno.
Segundo Calero, as abordagens do colega de governo, proprietário de uma das unidades do empreendimento, avaliada em R$ 2,4 mi, foram “truculentas e assertivas”. Calero disse ainda que Geddel teria afirmado “se for o caso, eu falo até com o presidente da República”. Apesar de ter confirmado que é proprietário do imóvel em construção, Geddel nega que teria pressionado Calero.
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