O governo federal pretende combater com mais rigor a entrada ilegal de haitianos no Brasil. Além de tomar medidas internas no que diz respeito à segurança e à fronteira, o intuito é negociar com países vizinhos para que haja um enfrentamento mais drástico às organizações criminosas que atuam no transporte dos haitianos para o Brasil.
Nos próximos dias, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vai visitar o Peru, Equador e a Bolívia com o objetivo de construir soluções conjuntas para evitar que a migração ocorra de forma ilegal. Segundo ele, os chamados “coiotes” – pessoas que prestam serviço de atravessar fronteiras ilegalmente – “colocam os haitianos no Brasil de forma ilegal, trazendo sofrimentos e riscos” a eles.
Depois de se reunir com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e com o governador do Acre, Tião Viana, no Palácio do Planalto, Cardozo falou em um “enfrentamento duro” aos criminosos, após conclusão que o governo não tem ainda “a medida certa para enfrentar” o problema. Além disso, segundo ele, há uma necessidade de melhorar a coordenação para que os demais estados, além do Acre, passem a acolher os haitianos de “forma harmoniosa”.
De acordo com Tião Viana, a imigração ilegal já gerou um gasto de R$ 25 milhões, soma dos últimos quatro anos, dos quais R$ 11 milhões foram gastos pelo governo do Acre e R$ 10 milhões pelo governo federal. Para Cardozo, os haitianos são as vítimas e não os vilões desse processo, que envolve inclusive a cobrança de altos custos para a travessia.
“Eles poderiam pagar passagem aérea com o que pagam com os coiotes”, disse o ministro. O governador do Acre concorda que a “grande solução está no Haiti”, com campanhas que estimulem a migração legal dos haitianos para o Brasil.
Acre
O porta-voz do governo do Acre, Leonildo Rosas, disse que somente chegaram mais 220 imigrantes ao abrigo do Estado nos últimos dias. Ele citou o dado para explicar que a suspensão do deslocamento dos estrangeiros para São Paulo vai fazer com o problema continue concentrado no estado acriano. “Houve entendimento com governo de São Paulo e o Ministério da Justiça para que a suspensão ocorresse neste momento, embora saibamos que nós, aqui, vamos continuar sofrendo.”
Rosas destacou que o Acre trabalha com o governo federal em uma transição desde abril, para que a responsabilidade sobre o acolhimento dos imigrantes deixe de ser estadual. “Todo dia chega gente, e a nossa capacidade de pessoal, financeira e de material se exauriu. Nos últimos quatro anos, o governo do Acre já gastou, de recurso próprio, mais R$ 10 milhões para abrigar haitianos e irmãos de outros países”, declarou.
Segundo o porta-voz, esse esgotamento ocorre mesmo com o recebimento de recursos federais. Desde o final de 2010, o Estado acolheu quase 40 mil estrangeiros, informou Rosas. O aumento do fluxo para São Paulo se deve ao fato de que os haitianos estavam aglomerados no Acre – aqueles que não tinham condições de custear a própria passagem para outros estados.
“Só em maio, cerca de 500 imigrantes foram para outros estados por conta própria. Segundo nossa ficha de identificação, a maioria deles foi para São Paulo. Essas pessoas têm condição de comprar passagens e ir para os seus destinos sem procurar os abrigos públicos. Esse fluxo migratório nunca parou para essas pessoas”, explicou. Esse traslado gratuito, do Acre para outros Estados, foi interrompido por um período por falta de recursos. “A empresa que fornecia o transporte parou de fazer, porque não tínhamos o recurso do governo federal”, justificou.
Ele explicou que os haitianos são livres para escolher o estado de destino, pois a maioria não deseja ficar no Acre. Dados das fichas de identificação feitas no abrigo acriano revelam que 95% optam por São Paulo. Enquanto o deslocamento estiver suspenso para a capital paulista, será possível, no entanto, viajar até outro estado. “Eles escolhem para onde querem ir e o governo procura dar encaminhamento a esta demanda.”
Sobre o fato da prefeitura de São Paulo não ter sido avisada sobre a chegada de grande número de haitianos, Rosas nega qualquer conflito ou cisão, seja com o governo federal ou com o governo da capital paulista. “Prefiro olhar para frente. A partir desta conversa da equipe do [prefeito Fernando] Haddad, nosso governo e do governo federal, se houve algum ruído na comunicação, que seja reparado, para que a prefeitura não diga novamente que foi pega de surpresa”, apontou. Ele informou que, caso algum ônibus siga para outros estados, os governos serão comunicados via articulação com o Ministério da Justiça.
*Com Agência Brasil
Deixe um comentário