Uma barrinha de cereal tem aproximadamente 100 calorias, o equivalente a um lanche rápido entre as refeições. Em sua tabela nutricional há a indicação de cereais, frutas secas e castanhas, um lanche aparentemente saudável.
No entanto, o último guia nutricional do Governo chama a atenção para uma alimentação mais natural possível. Ou seja, entram nessa conta mais frutas e legumes in natura, e menos alimentos “produtos”, aqueles industrializados. Já a barrinha de cereal, dada como exemplo, passa por uma série de processos industriais.
“Não estamos proibindo nada, mas temos recomendações claras de qual alimento priorizar”, destacou o ministro da Saúde, Arthur Chioro em comunicado à imprensa.
Segundo ele, o guia também tem função estratégica dentro do plano global de promoção da saúde e do excesso de peso, que já atinge mais da metade da população brasileira. “A carga de doença associada à obesidade é imensa. Para sair da agenda da doença, precisamos trabalhar pela melhoria da alimentação e incentivar a prática de hábitos saudáveis”.
O Guia Alimentar para a População Brasileira é a atualização da útilma versão lançada em 2006 e foi lançado hoje, dia 5 de novembro. O documento foi produzido pelo Ministério da Saúde em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo.
A nova edição, ao invés de trabalhar com grupos alimentares e porções recomendadas, indica que a alimentação tenha como base alimentos frescos, entram aí frutas, carnes e legumes e minimamente processados, caso do arroz, feijão e frutas secas. Da mesma forma, recomenda evitar alimentos ultraprocessados, como salgadinhos de pacote e refrigerantes.
O documento se dirige às famílias diretamente e, também, a profissionais de saúde, educadores, agentes comunitários. O objetivo é promover uma boa alimentação para combater a desnutrição, em forte declínio em todo o país, e prevenir enfermidades em ascensão, como a obesidade, o diabetes e outras doenças crônicas, como AVC, infarto e câncer.
Alimentação sustentável
Para Carlos Monteiro, professor da USP e coordenador da equipe técnica que elaborou o guia, o documento tem vocação ampla e sustentável. Além de dar recomendações sobre uma alimentação mais saudável, ele se preocupa em relacionar a alimentação mais natural aos seus impactos no meio ambiente. “Hoje a gente sabe que a produção de alimentos em qualquer lugar do mundo corresponde a uma parte importante das agressões ao meio ambiente, aquecimento global e ao uso de recursos naturais”, disse ele em entrevista à Brasileiros.
O guia também dá destaque especial ao ato de comer, valorizando a culinária e a interação social desde o momento do preparo da comida.
“A indústria oferece uma alternativa pronta à nossa alimentação. Só que é uma alternativa que não é adequada nem para a saúde, pois em todo processo de transformação você tira água, fibra e acrescenta sal e açúcar, como também gera impactos no meio ambiente e no uso de recursos naturais”, critica Monteiro. Para ele, o documento compreende a importância mais holística da alimentação, incluindo aí questões culturais.
“Cozinhar é também uma tradição cultural que as sociedades do mundo todo estão abandonando. E os guias de maneira geral não falam isso. Na verdade, a maioria indica um menor consumo de sal, de gordura, mas não diz exatamente o que você tem que fazer. Eles são muito mais prescritivos”, completa.
Outro aspecto importante da versão atualizada diz respeito à produção e distribuição socialmente e ambientalmente sustentável, caso dos alimentos orgânicos e de base agroecológica.
A seguir, confira dez recomendações para uma alimentação mais equilibrada, segundo a nova edição do Guia Alimentar:
1. Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;
2. Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias;
3. Limitar o consumo de alimentos processados;
4. Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados;
5. Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia;
6. Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados;
7. Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias;
8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece;
9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora;
10. Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais
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