Ibirataia, animação à moda antiga

Foto: Diogo Reyes
Foto: Diogo Reyes

“A Festa de São João daqui não é uma festa para turistas”, explica um morador que educadamente se aproxima quando chegamos à Ibirataia, no interior da Bahia. “É uma coisa mais local”, prossegue. Nada de megaproduções nem de grandes espetáculos. Lá, impera a tradição. E a diversão acontece em volta da fogueira. “Um visita a casa do outro, troca quitutes, toca música e estoura bombinhas”, conclui o simpático cidadão.

Nesta época do ano, a pequena cidade de 25 mil habitantes, localizada a, aproximadamente, 300 km de Salvador, recebe quase 100 mil pessoas durante os quatro dias de festança. A charmosa festa junina local – uma das mais animadas e tradicionais do Nordeste – atrai principalmente moradores dos municípios vizinhos. Mas também vem gente de longe e até de outros Estados. “A Festa de São João na Bahia é menor que a de Pernambuco ou da Paraíba, mas está crescendo”, afirma o diretor de Cultura da Secretaria de Educação de Ibirataia, Chafick Luedy. E é bem original. Ele conta que o forró pé de serra, aquele criado por Luiz Gonzaga e que deu identidade à Festa de São João nordestina, está voltando. E isso Ibirataia tem de sobra.

Apesar de a cidade dispensar grandes produções, ela é conhecida por “exportar” para outros municípios belos adereços juninos. No dia em que nossa reportagem estava em Ibirataia, dois bonecões gigantes, de Maria Bonita e Lampião, com 4 m de altura seguiam em um enorme caminhão para a capital baiana. Quem vai em busca das raízes da Festa de São João pode encontrá-la em Ibirataia.

A alta temperatura do evento não se limita às festanças ao redor das muitas fogueiras. A economia local também aquece. É o que conta Telma Calheira que há 16 anos prepara a decoração de Ibirataia e também de outras festas, inclusive o São João do Pelô, em Salvador. “Além dos bonecões gigantes, produzimos balões e bandeirolas coloridas e todo tipo de adereços para festa junina”, diz ela.

Neste ano, sua fábrica também está atendendo Piritiba, cidade da região da Chapada Diamantina. Para dar conta da demanda, Telma mantém 50 funcionários. Somente para o São João, ela produz aproximadamente 500 peças. O trabalho é tanto que decidiu terceirizar parte da produção. “Depois de cortarmos, outro grupo trabalha na separação, dobra e costura.” O empreendedorismo de Telma abre portas para outros profissionais, como serralheiros, pintores e artesões. “Envolvemos toda a cidade”, afirma. Só para a produção das bandeirolas, são utilizadas duas toneladas de plástico. “Tudo reciclável”, ressalta.

Com temas nordestinos e personagens inspirados na Literatura de Cordel, ela produz ainda uma peça chamada Vitrine Nordestina, composta por diferentes bonecos de pano, além de 100 balões iluminados e 100 bandeirolas gigantes. Ela confecciona esse tipo de peça para decorar o centro histórico do Pelourinho, em Salvador.

Na festa de Ibirataia, a empresária monta também a gigantesca vitrine nordestina na praça onde são realizados os shows. Uma das principais atrações deste ano é o cantor Sérgio Reis, que se apresenta na noite de sábado, 25. “Só neste dia, a festa deve atrair por volta de 30 mil pessoas”, estima Luedy. Entre os destaques locais, ele cita os grupos Mão de Pilão, Duda Perkata de Couro e Netinho do Forró.

A cidade tem fama de acolhedora. “É comum turistas alugarem casas durante a temporada da festa”, diz ele. Existe também a chamada hospedagem solidária, em que famílias abrem as portas de suas casas, sem cobrar nada, para hospedar os visitantes.
Sem hotéis, Ibirataia conta com poucas pousadas. Uma apenas, de fato, merece esse título. É a Pousada Eucaliptos. Um pouco afastada do centro, é mais voltada ao turismo ecológico. A pousada é bem pequena, mas muito elegante. Pergunto ao proprietário, Judson de Oliveira, quem assina a decoração. “Eu mesmo”, responde de imediato. Impressionado, pergunto se ele é arquiteto. “Nada”, rebate. Ele conta que não possui formação alguma e que construiu a pousada durante a crise da praga vassoura de bruxa que assolou a produção de cacau, que movia a economia regional no final da década de 1980. “Na dificuldade, o jeito foi experimentar novos negócios.” E completa: “Lagartixa no aperto mija fogo, meu amigo”.


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