Empreender para incluir

Alessandra França (meio) junto de sua equipe do Banco Pérola
Alessandra França (meio) junto de sua equipe do Banco Pérola. Foto: Reprodução

Aos 16 anos, Alessandra França leu um livro que mudaria não só a sua vida, mas a de centenas de pessoas de Sorocaba, interior de São Paulo. Foi nas páginas do “Banqueiro dos Pobres”, escrito pelo economista e ganhador do Nobel da Paz, Muhammad Yunus, que ela encontrou a inspiração para criar o Banco Pérola.

Criado em 2009, o projeto é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e sem fins lucrativos que tem como objetivo fornecer microcréditos a jovens empreendedores de sua cidade. Com valores de 500 a 15 mil reais, jovens de 18 a 35 anos podem dar início ao grande sonho de terem um negócio próprio ou ainda alavancarem projetos já existentes. Desde a fundação até hoje, o Banco Pérola investiu cerca de R$2 milhões em 400 negócios e se tornou o exemplo para muitos outros jovens.

Mas se a inspiração veio através de um livro, Alessandra encontrou no seu cotidiano o que faltava para levar o projeto adiante. Aos 15 anos a jovem conheceu o Projeto Pérola, Ong que atua em Sorocaba e outras cidades da região que tem como objetivo desenvolver a consciência protagonista dos jovens nas comunidades assistidas. Foi lá, que aprendeu aulas de informática e passou de colaboradora a principal líder do projeto. Foi nessa época que Alessandra percebeu que muitos jovens ansiavam para ter um negócio próprio, queriam empreender, mas havia um empecilho enorme. Jovens, principalmente aqueles de famílias de baixa renda, não tinham acesso aos serviços de financiamento tradicionais.

Mas para criar um banco era preciso de um investimento inicial. Através de um projeto da Artemísia, organização que apoia o desenvolvimento de ideias inovadoras que visam diminuir as desigualdades sociais, Alessandra viu a oportunidade que faltava. Entre 200 projetos, o de Alessandra foi um dos 5 finalistas que recebeu um prêmio no valor de R$ 40 mil. O valor este investido integralmente na criação do banco Pérola.

Com quatro anos de atuação, Alessandra conta que os desafios são imensos. “É um trabalho muito intenso, porque lidamos com as expectativas e sonhos das pessoas e também da família delas. É também nossa responsabilidade fazer com que o negócio deles também dê certo”, conta. Segundo ela, no início a maior dificuldade era convencer investidores a acreditarem no projeto, uma vez que a maioria dos clientes do Banco Pérola são jovens de baixa renda e muitos ainda possuem nome no Serviço de Proteção ao Crédito. “Temos que convencer mostrando resultados positivos”, conta. No entanto, o fato do nome estar inscrito no SPC não significa que o crédito será recusado. Há uma avaliação do perfil do solicitante, da sua capacidade de pagamento e, caso o nome estiver no SPC devido a dívida decorrente a perda do emprego, o crédito ainda sim será oferecido.

Os juros variam de 2,8% a 3,9% da Tabela Price e o pagamento pode ser parcelado em até 12 vezes. O valor do empréstimo concedido pela instituição é de uma média de R$3 mil, mas pode atingir o valor máximo de R$15 mil no caso de um empreendimento para grupos de três pessoas.

A jovem Daiane solicitou um empréstimo ao Banco Pérola para investir em  uma loja virtual de venda de bolsas. Foto Reprodução/Sérgio Ratto
A jovem Daiane solicitou um empréstimo ao Banco Pérola para investir em uma loja virtual de venda de bolsas. Foto Reprodução/Sérgio Ratto

A jovem Daiane Carla Proença Lucio, de 24 anos, já possuía um negócio próprio. Desde os 20 anos ela vende bolsas pela internet e no início de 2013 recorreu ao banco Pérola para melhorar o seu negócio. Com um empréstimo de R$2 mil, Daiane aumentou seu estoque para criar uma nova coleção, começou a vender Ecobags no Flickr – uma rede social de fotos, e o interesse pelo seu trabalho começou a aumentar. Os resultados foram tão positivos que a jovem investiu em novas peças, montou sua loja virtual e hoje, possui um faturamento que fica entre R$3 mil a R$4.500 por mês.

Outra boa notícia é que a taxa de inadimplência do banco é de 2,8% do total de clientes atendidos, uma das mais baixas comparadas a outros empréstimos. O sucesso do empreendimento também é acompanhado pela equipe de França, um total de sete pessoas, que inclui profissionais em Psicologia, Gestão de Qualidade, Agente de Oportunidades e Administração. Quinzenalmente, os jovens empreendedores recebem uma consultoria presencial de um profissional do Banco Pérola.


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