“Inovação significa transformação e isso exige pensar grande”

O presidente da agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Antonio Truzzi-Arbix, que abriu o primeiro painel do seminário “Inovação – o Brasil na Rota do Desenvolvimento Científico e Tecnológico”, havia acabado de retornar de um encontro com representantes dos países nórdicos e asiáticos, e saiu bem impressionado desses encontros. “Notei uma diferença sensível na maneira como o mundo está olhando para o Brasil”, conta.

Para Arbix, muita gente fala em inovação e pouca gente sabe como ela deu um salto, tanto no cenário nacional quanto no internacional. Como a Finep faz parte da estrutura do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), chefiado pelo ministro Aloizio Mercadante, Arbix conta que ele imprime um ritmo forte a seus auxiliares, exigindo rigor no tratamento dos dados, das informações, da transparência. “Muitas vezes, os dados parecem negativos. Mas são absolutamente necessários para se saber onde investir e em que condições”, diz.

O Brasil, segundo Arbix, conseguiu, nos últimos 10 ou 12 anos, unificar três elementos que perseguem o mundo: crescimento, desigualdade e pobreza. “Nós voltamos a crescer e temos menos desigualdade. O Brasil expressa um crescimento mais inteligente. Pelo décimo primeiro ano consecutivo, temos diminuição de desigualdade e de pobreza”, afirma.

E argumenta que o País cresce porque desenvolve uma nova relação entre Estado, sociedade e setor empresarial. “O Brasil desenvolve um novo ativismo de Estado, sem se confundir com o velho desenvolvimentismo, centralizador e dirigista, e também sem se confundir com o Estado da inação, um Estado que deixava muita coisa para fora dele”, diz.

Essa nova síntese entre Estado e sociedade resultou em crescimento com baixa inflação, criação de empregos, desenvolvimento de políticas sociais e investimento significativo em educação, ciência, tecnologia e inovação. A ideia de grandes planos de desenvolvimento ganharam força. “Nós começamos a fazer, em 2007, o primeiro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), orientado para a área de infraestrutura, e, em 2008, vieram o Plano Nacional de Educação e o Plano Nacional de Tecnologia.”

Desde 2003, o Brasil vem criando políticas industriais tecnológicas, afirma Arbix, explicando que, pela primeira vez na história, o foco é na inovação, com uma série de mudanças institucionais e de política científica, tecnológica e de inovação extremamente significativas. A nova estratégia nacional é buscar sintonia entre ciência, tecnologia e economia.

“O Brasil não pode se dar ao luxo de produzir e gerar conhecimento de qualidade e, ao mesmo tempo, esse conhecimento não se transformar, não chegar na economia real e não conseguir fazer andar e movimentar as engrenagens da própria economia”, enfatiza. Arbix avalia que MCTI está procurando ajustar o foco da sua atividade, mantendo um padrão de qualidade de ciência e tecnologia, para atingir as empresas.

“É ali, nas empresas, que ocorre a inovação”, diz. Segundo ele, durante 40 anos, defendeu-se a ideia de que o desenvolvimento com crescimento econômico gerava, de modo automático, tecnologia. Nos anos 1990, essa ideia se transformou na de que o desenvolvimento viria da consolidação da tecnologia como um dos motores do crescimento. E a inovação é a chave para a construção de uma economia baseada no conhecimento. “A empresas brasileiras inovam muito pouco”, avalia Arbix, acrescentando que “pesquisa e desenvolvimento têm de ser pensadas como alavanca e não apenas como resultado do desenvolvimento econômico”.

“Essa transformação não é fácil”, assegura. “É uma transformação estrutural da realidade brasileira, que passa por uma mudança de qualidade do nosso tecido produtivo e de serviços. Cerca de 43% dos nossos mestres e doutores estão nas áreas de humanas e sociais. Precisamos de engenheiros, de químicos e de físicos para construir o país que a gente merece”, afirma.

A evolução dos investimentos da Finep, segundo Arbix, comprova que o País está no rumo certo. Em 2003, a Finep investiu R$ 300 milhões e atingiu 60 empresas. Em 2010, esse valor subiu para R$ 4 bilhões e 2 mil empresas foram beneficiadas. “Neste ano, nós pretendemos investir R$ 6 bilhões, a maior parte destinada a financiar inovação nas empresas”, assegura.

Do total de doutores, 56,8% estão trabalhando nas universidades. Segundo Arbix, isso é positivo, pois melhora a qualidade do ensino. Mas, se comparado com Estados Unidos, Japão, Coreia e China, aparece uma fragilidade das empresas brasileiras, que não contratam esses profissionais. “O Brasil está em um nível intermediário entre os países que fazem apenas parcialmente a sinergia entre a produção de ciência e as empresas”, explica.

A meta prioritária da Finep é diminuir a distância que separa o Brasil das nações mais avançadas no campo da ciência, tecnologia e inovação. Ele enumera: “Foco na inovação empresarial, incentivo a empresas recentes, fortalecimento de parques e incubadoras, atração de centros de pesquisa e desenvolvimento e estímulo ao patenteamento, planos nas áreas de Pré-Sal, etanol, aeroespacial, saúde e defesa”.

Pela primeira vez em 44 anos de existência, a Finep identifica uma mudança de comportamento, de mentalidade e de estratégia das empresas brasileiras. “Em momentos de dificuldade, as empresas sempre abandonavam seu projetos de tecnologia e inovação. Hoje, as empresas mantêm e ampliam. E, quanto maior for o conteúdo tecnológico do projeto, mais apoio terá da Finep”, afirma.

Segundo Glauco Arbix, é preciso “pensar grande, pensar em projetos relevantes. Educação é a chave. Inovação significa transformação. E, para ter uma empresa inovadora, é preciso ter gente qualificada”.


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