Instaurado inquérito para apurar denúncia de tortura praticada por PM

Foto: Divulgação/Polícia Civil
Foto: Divulgação/Polícia Civil

Foi aberto inquérito policial e também investigação policial militar para apurar a denúncia de tortura envolvendo o sargento Charles Otaga. O policial militar foi preso em flagrante nessa terça-feira (20), após um suspeito relatar que havia passado por maus-tratos antes de chegar à delegacia. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo, até a tarde de hoje (21) o policial permanecia preso no Presídio Romão Gomes.

Afonso Trudes foi detido pelo sargento Otaga e mais dois policiais após roubar uma loja de calçados, em Itaquera,  na zona leste de São Paulo. Ele usou uma arma de brinquedo para render a dona da loja, levando um celular e R$ 60. Segundo o relato de Trudes, registrado no boletim de ocorrência, ele foi colocado em uma viatura e levado para um terreno baldio, onde recebeu choques e sofreu ameaças. Antes de chegarem à delegacia, ainda de acordo com o boletim,  os policiais levaram o suspeito para a casa dele e para a de um suposto comparsa, em busca de outras provas que ajudassem a incriminá-lo.

O exame de delito confirmou que o suspeito sofreu lesão corporal leve, com ferimentos no rosto, costas, membros e órgãos genitais. A perícia não indicou, no entanto, a presença de queimaduras típicas de choques elétricos. Em depoimento na delegacia, o sargento Otaga alegou que Trudes se machucou quando era levado à delegacia. De acordo com o policial, a bicicleta do suspeito também foi colocada na viatura e acabou causando os ferimentos.

Com a notícia da prisão do colega, vários policias militares a paisana foram ao 103º Distrito Policial para protestar contra a decisão do delegado Raphael Zanon, responsável pelo caso. “Eles saiam do batalhão, tiravam a farda e iam lá para hostilizar. Intimidando o trabalho”, disse o deputado estadual Antonio Olim (PP), também delegado, que foi ao local como presidente da comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de São Paulo. “O delegado teve que sair de lá escoltado”, acrescentou o deputado sobre a situação.

Com a repercussão do caso, o delegado Zanon passou a ser ameaçado pela internet. “Já puseram em todas as redes sociais quem é a namorada dele, onde ela trabalha. Eles querem impor a baderna, a violência”, criticou Olim. A presidenta da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Marilda Aparecida Pinheiro, disse que a organização vai auxiliar Zanon a tomar as medidas legais contra os autores das intimidações. “Ele e a namorada receberam algumas ameaças. Nós vamos auxiliá-lo a tomar as medidas legais. Nós somos legalistas, agimos dentro da legalidade”.

Marilda também condenou a atitude dos PMs. “A gente não poderia supor que um exercício de um operador do Direito pudesse ter uma consequência tão nefasta: um delegado de polícia sendo escoltado de uma delegacia porque está sendo ameaçado por outros policiais. Estou estarrecida”, ressaltou.

O deputado estadual coronel Adriano Telhada (PSDB) também esteve na delegacia durante o tumulto. Para o parlamentar, que é policial militar reformado, o delegado autuou injustamente o sargento envolvido na ocorrência. “Sargento Otaga foi indevidamente autuado em flagrante por tortura e agressão contra um bandido preso por roubo, baseando-se o delegado apenas nas palavras do ladrão”, ressaltou em nota postada em sua página no Facebook.

De acordo com Telhada, o delegado desconsiderou informações importantes, como os registros do localizador por satélite da viatura. “Infelizmente delegados mal preparados como esse denigrem a imagem da Polícia Civil perante a sociedade e principalmente perante a Polícia Militar”, reclamou.


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