Jundiaí: a cidade paulista que não sofre com a falta d’água

Represa municipal de Jundiaí completamente cheia. Cidade não sofre com a crise hídrica - Foto: Luiza Sigulem
Represa municipal de Jundiaí completamente cheia. Cidade não sofre com a crise hídrica – Foto: Luiza Sigulem

A história reúne três homens em torno da água e começa nos anos 1950, com Vasco Antonio Venchiarutti, duas vezes prefeito de Jundiaí: 1948-51 e 1956-59. Foi ele quem desenhou um plano diretor para a cidade e construiu uma represa nas adjacências da cidade. Em 1969, outro prefeito, Walmor Barbosa Martins, também com duas gestões no cargo municipal (1969-73 e 1989-92), criou, no início do primeiro mandato, a Divisão de Água e Esgoto (DAE), órgão municipal que ficaria responsável pela captação de água do rio Jundiaí-Mirim. Apesar das melhorias, a distribuição de água, no entanto, tinha problemas econômicos e geográficos pela dificuldade na instalação de dutos para regiões distantes. Mas as obras não pararam.

Quando Ibis da Cruz chegou à prefeitura da cidade, em janeiro de 1973, sua primeira missão foi levar água para todo mundo. “Entrei no gabinete com a ideia de que ter água armazenada era a mesma coisa do que ter ouro”, diz ele. Mais de 40 anos depois, Jundiaí é uma das poucas cidades do Estado de São Paulo que não sofrem com a crise hídrica, que começou no ano passado e ainda preocupa grande parte da população. Mas lá em Jundiaí o fornecimento de água não foi interrompido, o reservatório municipal está com quase 100% de sua capacidade e, se todos os rios que passam pela região secassem, a represa sozinha abasteceria a população por dois meses inteiros.

O sucesso é ainda mais evidente quando a cidade é comparada às suas vizinhas, como Campinas e Itu. A primeira é considerada o maior município do interior do Brasil, com mais de um milhão de habitantes, e capta água da Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que também está afetada pela crise. No pior momento da seca, em novembro último, metade da população de Campinas ficou sem abastecimento e, em alguns bairros periféricos, o fornecimento chegou a ser interrompido por seis dias seguidos.

Em Itu, a situação foi pior. A empresa privada Águas de Itu, contratada pela prefeitura para distribuir água aos moradores, ficou 45 dias sem abastecer alguns bairros, enquanto as contas continuavam a chegar aos habitantes que, revoltados, foram para as ruas protestar. “Isso acontece porque a administração pública no Brasil é horrorosa. Olha o exemplo de Campinas: uma cidade daquele tamanho e não tem um reservatório próprio. É um absurdo”, afirma Ibis.

Ibis da Cruz, ex-prefeito de Jundiaí, recebe a reportagem de Brasileiros em seu apartamento - Foto: Luiza Sigulem
Ibis da Cruz, ex-prefeito de Jundiaí, recebe a reportagem de Brasileiros em seu apartamento – Foto: Luiza Sigulem

Para o ex-prefeito, no entanto, apenas uma represa não basta para resolver o problema da água. É preciso criar um sistema em que funcionem o tratamento e o armazenamento em pontos estratégicos do território. Foi o que diz ter feito durante a sua gestão. Como a vazão do rio Jundiaí-Mirim era pequena, ele percebeu que, com o aumento populacional, seria preciso buscar água em outros lugares. “A primeira coisa que fiz foi chamar gente capacitada para brigar na Justiça e planejar tecnicamente as melhorias. Não tinha um tostão na prefeitura, então aumentei o imposto para financiar as obras. Quase me mataram, mas hoje não fica um sem me agradecer.”

Com o aumento da receita pública, Ibis comprou um terreno no município vizinho, Atibaia, e construiu nela uma estação de captação e 39 km de dutos, fazendo a ligação do Rio Atibaia até a cabeceira do Jundiaí-Mirim. O resultado foi o aumento da capacidade do principal manancial de Jundiaí. Deu tão certo que, meses depois do início das operações, começou a sobrar água. “Eu não poderia desperdiçar o que sobrava e, como já tinha uma represa pequena por ali, aumentei a profundidade dela e armazenei o excedente, quase como uma poupança”, explica.

Com a captação e o represamento da água em funcionamento, Ibis projetou uma rede de dutos, responsável por levar a água do Jundiaí-Mirim para os bairros distantes, onde o fornecimento ainda era falho. “Uma represa não garante nada. Se não captar a água corretamente, fazer o tratamento, represar o excedente e distribuir para as caixas d’água da cidade, não adianta”, reafirma.

Pedido de socorro

O atual prefeito de Jundiaí, Pedro Bigardi (PCdoB), conta que, no final do ano passado, o governo do Estado de São Paulo solicitou que a cidade colaborasse com Campinas. “O governador Geraldo Alckmin pediu para diminuir a captação de água da barragem do Rio Atibaia para que aumentasse a vazão para Campinas. Fizemos essas reversões na nossa estação várias vezes. A gente foi controlando o nível da represa, mas não tivemos problemas com o abastecimento de Jundiaí”. No final do ano passado, a capacidade do reservatório da cidade chegou a 58% da sua capacidade, um nível considerado bom.

Mesmo sem racionamento, o consumo de água na cidade diminuiu nos últimos meses. De acordo com a DAE, a concessionária teve uma redução de 15% na arrecadação. “Temos multa por uso indevido de água, mas não por uso excessivo. Mesmo assim, as pessoas ouvem na televisão que está faltando água no Estado, ficam sabendo dessa crise em outras cidades, e começam a economizar aqui também para cuidar da água que temos. Mas nunca precisamos multar ninguém”, diz Bigardi.

Pedro Bigardi, prefeito de Jundiaí, teve que liberar água para Campinas - Foto: Luiza Sigulem
Pedro Bigardi, prefeito de Jundiaí, teve que liberar água para Campinas – Foto: Luiza Sigulem

Por outro lado, Jundiaí já começou a sentir os efeitos da crise no aumento de sua população. A prefeitura não tem dados oficiais, mas informalmente o Executivo acredita que o município está recebendo novos moradores constantemente, a maioria atraída pela existência de água. “As imobiliárias já fizeram pesquisas informais e constataram que tem gente vindo para cá por causa da água e outras que estão pensando em vir. Isso preocupa, porque temos uma capacidade limitada. Vamos, inclusive, colocar esse tema no plano diretor”, afirma o prefeito. “O mercado em Jundiaí está aquecido, mesmo com o aumento dos preços dos imóveis. As vendas até chegaram a diminuir, mas as locações cresceram bastante, principalmente de pessoas que trabalham em São Paulo”, completa Maria Cristina Galvão, proprietária da Galvão Corretora, uma das maiores da cidade.


Comentários

2 respostas para “Jundiaí: a cidade paulista que não sofre com a falta d’água”

  1. Avatar de Maria Silva
    Maria Silva

    Então acho que meu condomínio não faz parte da cidade de jundiaí porque aqui a falta de água é constante não se passa uma semana se quer que falte água pelo menos um dia. O nosso bairro esta crescendo muito rápido e vindo vários condomínios e isto acaba prejudicando quem veio em busca de sossego e tranquilidade que é o meu caso. Sai de são paulo a 13 anos atras e vem em busca de qualidade de vida, mas a falta de água me assusta muito.

  2. Gostaríamos de alertar sobre um dos fundamentos do jornalismo chamado contra ponto, que infelizmente a matéria não teve o cuidado buscar.

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