Em depoimento na condição de delação premiada, o consultor Júlio Camargo, disse à Justiça Federal, nesta quinta-feira (16), que foi pressionado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a pagar US$ 10 milhões em subornos relacionados a dois contratos de US$ 1,2 bilhão de navios-sonda, acordados pela Petrobras entre 2006 e 2007. Ainda de acordo com Camargo, Eduardo Cunha pediu US$ 5 milhões pessoalmente a ele. As informações são do jornal O Globo.
“Chamei o Fernando novamente e disse: ‘Fernando, realmente nós estamos com um problema’. Estamos com um problema por quê eu estou sendo pressionado violentamente inclusive pelo deputado Eduardo Cunha. (…) Eu estarei a disposição para conversar com o deputado Eduardo Cunha e explicar a ele o que está acontecendo. Ele falo: ‘Júlio, ele não quer conversar com você, ele quer receber’”, disse Júlio Camargo em depoimento.
Em entrevista ao jornal carioca, o presidente da Câmara dos Deputados negou veementemente as acusações e chamou o delator de “mentiroso”. Cunha também disse que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,“obrigou” o delator a mentir em seu depoimento. Em nota oficial, Cunha desafiou Júlio Camargo a comprovar suas acusações.
O peemedebista também informou que pretende manter seu pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão nesta sexta-feira (17). Cunha pretende fazer um balanço de seus primeiros seis meses a frente da presidência da Câmara dos Deputados. O deputado informou ao Globo que não vai regravar o vídeo, que já está pronto para ser divulgado, em função dos novos fatos.
Para Procuradoria Geral, Cunha é autor de requerimentos suspeitos
Ainda segundo O Globo, a Procuradoria Geral da República (PGR) avançou na obtenção de provas referentes a Eduardo Cunha. Para a PGR, Cunha é o verdadeiro autor de requerimentos parlamentares suspeitos de terem sido utilizados para fazer pressão na empresa Mitsui e obrigá-la a pagar suborno.
Depois da apreensão de registros nos computadores da Câmara dos Deputados, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, deu mais fôlego a investigação contra Cunha e o aproximou mais ainda de uma denúncia formal no STF. Vale lembrar que o doleiro Alberto Youssef, delator na Operação Lava Jato, afirmou que Cunha apresentou requerimentos, por meio de políticos aliados, para pressionar a empresa de seguros a pagar propina.
Os contratos citados por Youssef podem ser relacionados à atual prefeita de Rio Bonito e aliada de cunha, Solange Almeida (PMDB-RJ). Em 2011, Solange ocupava a posição de deputada e protocolou dois requerimentos na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara que pleiteavam informações, ao Ministério de Minas e Energia, sobre os contratos da Mitsui com a Petrobras, e outro pedido para o Tribunal de Contas da União fazer uma auditoria nos acordos. Os arquivos eletrônicos da Câmara apontam “Dep. Eduardo Cunha” como o verdadeiro autor dos requerimentos.
Cunha promete romper com Governo
Após a vasta repercussão do depoimento de Júlio Camargo sobre Cunha, o presidente da Câmara disse que anunciará nesta sexta-feira (17) o rompimento com a base governista. “É tudo vingança do governo. Parece que o Executivo quer jogar a crise no Congresso”, disse Cunha em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Segundo o jornal, Cunha conversou com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), após a divulgação das notícias. O deputado comunicou então que vai defender o rompimento com o governo.
Confira o depoimento em que Júlio Camargo fala sobre Eduardo Cunha, a partir dos 6 minutos:
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