Um ato artístico e cultural ocorreu nesse sábado no Campo do Society, em Manguinhos, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro, para marcar os dois anos do assassinato do jovem Johnatha de Oliveira Lima, então com 19 anos, morto por policiais. A atividade foi organizada pelas Mães de Manguinhos, Fórum Social de Manguinhos, Movimento Mães de Maio, Fórum de Juventudes RJ e Rede de Comunidades contra a Violência, e contou com intervenções de rap, funk, poesia, grafite e a inauguração da placa Nossos Mortos têm Voz.
A mãe de Johnatha, Ana Paula Oliveira, que se tornou ativista após a perda do filho, disse que continua na luta por justiça. “Meu filho não volta mais, mas eu estou nessa luta pela vida, a minha e de todas as pessoas que estão na favela, não só nessa, mas em todas. Por mais que falem que não vai dar em nada, eu tenho certeza que a luta traz resultados, sim, pode até demorar, mas os resultados chegam”.
De acordo com ela, a união de forças na denúncia contra a violência de Estado que “mata preto, pobre e favelado” ajuda a superar a dor, como o apoio recebido pelo Movimento Mães de Maio, de São Paulo.
“Mês das mães é um mês bem difícil para a gente: uma mãe que teve um filho arrancado dessa forma tão covarde, tão injusta. Nós estivemos em São Paulo, com as Mães de Maio, são mães que estão há dez anos na busca de alguma justiça. Há dez anos resistindo, lutando, a gente tem aprendido muito com elas também”, afirmou Ana Paula.
“Esta união das mães é muito importante, são vozes que engrossam o coro no grito por justiça, o grito pela vida. Elas mostrando toda essa resistência para gente, e a gente, mais novas com essa dor, chegando com mais gás e mais vontade e dividindo esse gás com elas também”, completou.
Ana Paula diz que o caso de Johnatha foi investigado, “o que é um grande avanço”. O processo está no Tribunal de Justiça e os movimentos pedem que ele vá para juri popular. Integrante do Fórum Social de Manguinhos, Fransérgio Goulart disse que, com a proximidade dos Jogos Olímpicos, as operações policiais nas favelas aumentaram. Segundo ele, desde abril já foram três mortos por policiais só em Manguinhos.
“A gente denuncia a violência de Estado, institucional, não só em Manguinhos, mas todas as favelas do Rio de Janeiro vêm sofrendo desde sempre. E com a chegada da Olimpíada, isso tem sofrido um processo de potencialização das ações policiais a qualquer hora do dia; não tem hora, horário escolar, chegada do trabalho. As operações policiais vêm acontecendo direto e vitimizando, como sempre, as pessoas que moram aqui na Favela de Manguinhos”.
A placa Nossos Mortos têm Voz homenageia oito jovens, entre 12 e 29 anos, negros mortos desde 2013. “A história continua se repetindo, o racismo prevalece dentro das favelas na operação policial”, disse Fransérgio.
De acordo com os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), de janeiro a março deste ano ocorreram 76 homicídios decorrentes de intervenção policial na capital. No primeiro trimestre de 2015 foram 110. No estado todo, foram 202 no mesmo período de 2015 e 160 em 2016.
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