A ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu na madrugada de quinta-feira, 2, em São Paulo, aos 66 anos. A esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha hipertensão e estava internada no Hospital Sírio Libanês desde o dia 24 de janeiro após sofrer um AVC.
A notícia foi divulgada para jornalistas na noite de quarta, 1º, pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, que chefia o grupo de especialistas que a acompanhavam, no hall de entrada do hospital Sírio Libanês. Ele disse que Marisa apresentou uma piora do estado cerebral desde o final da tarde da terça-feira e que seu quadro era irreversível.
Segundo Kalil, ela chegou ao hospital consciente e sobreviveu bem, mas as consequências do AVC foram muito profundas. Ele informou que aparelhos que a mantinham com vida estavam ligados e os medicamentos sendo dados. Os médicos não estavam seguindo o protocolo de morte cerebral. “É questão de horas”, disse Kalil.
O cardiologista, que é amigo pessoal do ex-presidente e de Marisa Letícia, disse ainda que Lula esteve otimista o tempo todo. Lula e familiares estavam no centro médico. Amigos como o ex-prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o professor Luisinho, do PT, chegavam no começo da madrugada.
A família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou os preparativos para a doação de órgãos da esposa Marisa Letícia. Na manhã desta quinta-feira (2), foi realizado um exame Doppler transcraniano e identificado a ausência de fluxo cerebral. Diante do resultado, foram iniciados procedimentos para doação de órgãos.
A página oficial de Lula no Facebook postou a seguinte mensagem: “A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos”.
Biografia
O casamento com Lula durou 43 anos. Mais que testemunha ocular de um período da história contemporânea brasileira, Marisa Letícia viu essa história ser construída dentro da própria casa. A ex-primeira-dama presenciou reuniões que culminaram na primeira grande greve do ABC paulista, em pleno regime militar, outras que traçaram as estratégias de luta pelas Diretas-Já e, principalmente, viveu todo o processo de luta sindical que culminou com a criação do Partido dos Trabalhadores (PT).
A primeira bandeira do PT foi feita por Marisa, quando ainda eram realizados encontros em sua casa para definir os rumos do futuro partido.
“Eu tinha um tecido vermelho, italiano, um recorte guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca sobre o pano vermelho. Ficou lindo. A gente não tinha núcleo, não tinha nada. Minha casa era o centro. Começamos a estampar camisetas para arrecadar fundos. Vendíamos uma para comprar duas. Estampava a estrelinha e comprava mais. Foi assim que começou o PT”, contou Marisa.
Filha de Antonio João Casa e Regina Rocco Casa, descendentes de italianos, a ex-primeira-dama teve 15 irmãos, três dos quais morreram ao nascer. Aos 9 anos, a paulista de São Bernardo começou a trabalhar.
Foi pajem dos filhos de Jaime Portinari, um dentista conhecido, sobrinho do pintor Cândido Portinari. Luiz Inácio Lula da Silva é o segundo marido de Marisa. Aos 19 anos, ela conheceu Marcos, um motorista de caminhão que transportava areia, com quem logo se casou.
Como queria comprar uma casa, Marcos fazia bicos, com o táxi do pai à tarde, nos fins de semana. Quando estava com quatro meses de gravidez, Marisa recebeu a notícia do assassinato do marido, num assalto enquanto trabalhava. Numa de suas idas ao Sindicato dos Metalúrgicos para receber o benefício do INPS, Marisa, já viúva, conheceu Lula.
Entre 1978 e 1980, com o fortalecimento dos movimentos sindicais, Marisa viu personalidades como Frei Betto, Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Suplicy e o atual arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, frequentando constantemente sua casa.
Quando, em 1980, Lula e outros líderes sindicais foram presos no DOPS paulista pelo regime militar, Marisa não hesitou em organizar uma passeata só de mulheres e crianças para denunciar a prisão dos maridos à sociedade.
“Os homens queriam o nosso apoio, mas nós dissemos não e saímos. Fizemos só com as mulheres. Botei as crianças na rua, meus filhos no meio daquela multidão, polícia para tudo quanto é lado”, revelou.
Marisa era mãe de quatro filhos, três com Lula e um com o primeiro marido.
*Com Agência Brasil
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