O Brasil foi o país que registrou maior crescimento entre os 13 principais mercados de fundos de pensão na última década. A informação, que consta no Estudo Global de Ativos dos Fundos de Pensão 2011, foi divulgada pela consultora sênior da Towers Watson Brasil, Alessandra Cardoso, em palestra durante o seminário “Fundos de Pensão”, realizado pela Seminários Brasileiros (SB) no dia 26 de maio de 2011, em Brasília.
No que se refere às taxas de crescimento de cinco anos, em moeda local, a variação entre os países pesquisados oscilou de -3,5% ao ano, no Japão, para 12,1% no Brasil. No período, a média entre os 13 países pesquisados foi de 4,6%. Já no prazo de dez anos, a menor variação também ocorreu no Japão (0,2%) e a maior, no Brasil (14,7%). Na década, a média de todos os países foi de 5,9%, o que reforça o destaque do Brasil na comparação com os demais mercados no período.
“Isso mostra o quanto o nosso mercado é jovem, com um potencial de crescimento muito grande. Mas também temos que reconhecer e grande parte desse crescimento e deve-se ao retorno tranquilo dos nossos investimentos”, justifica Alessandra. “Taxas de juros altíssimas sempre trouxeram para a gente um retorno muito confortável, muito alto, sem precisar correr riscos. Então, o resultado foi obtido juntando essas das coisas: um mercado muito jovem e a rentabilidade alta, fruto de taxas de juros muito altas, não de uma gestão diferente.”
De acordo com o levantamento, os ativos dos fundos de pensão em 13 dos maiores mercados mundiais estavam estimados em US$ 26,5 trilhões no fim de 2010. No ano passado, os fundos brasileiros reuniam um total de ativos de US$ 342 bilhões, o equivalente a 17% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. “A gente ainda tem um caminho muito grande para seguir e crescer”, afirmou Alessandra.
Para a realização do estudo, a Towers Watson colheu dados de fundos de pensões de Austrália, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Hong Kong, Suíça, Grã-Bretanha, Estados Unidos, África do Sul, Japão, Holanda e Irlanda. Entre os países pesquisados, apenas três respondem, juntos, por 80% do total de ativos: Estados Unidos (58%), Japão (13%) e Grã-Bretanha (9%). “Os Estados Unidos ainda são o grande mercado de previdência, ainda muito longe dos outros países, mesmo aqueles com percentual de ativos bastante significativo.”
<b>Queda somente na França e Irlanda em 2010</b>
Em 2010, os fundos registraram crescimento de ativos em 11 dos 13 países consultados. A maior taxa de crescimento foi verificada na África do Sul (28%). Conforme Alessandra Cardoso, no ano passado, os ativos dos fundos caíram apenas na Irlanda, em função da crise da dívida soberana, e na França, parcialmente em função da depreciação do Euro.
Segundo ela, nas 13 nações incluídas no estudo, os ativos equivaliam em 2010 a 76% dos PIBs dessas economias somados. O montante é 12% superior ao de 2009. “É um crescimento bastante significativo para um ano. Ele pode ser explicado pelo bom desempenho dos mercados financeiros de todo o mundo. Porém, apesar desse forte crescimento em 2010, já havia ocorrido um crescimento mais forte ainda, em 2009. Se a gente lembrar, os resultados dos mercados em 2009 foram muito bons, com as moedas se valorizando em relação ao dólar.”
Apesar da forte alta, a relação dos ativos versus PIB, ainda segue abaixo dos 78% de 2007, antes da recente crise econômica que abalou os mercados mundiais. A Holanda teve a maior taxa de ativos de fundos de pensão em relação ao PIB (134%), seguida da Suíça (126%) e dos Estados Unidos (104%).
Em termos de representatividade dentro do universo dos países pesquisados, o Brasil foi o que registrou maior elevação (14,7%) na última década em todo o mundo, considerando-se as moedas locais. Já tomando o dólar como base do estudo, o país também aparece entre os primeiros colocados em termos de crescimento no total de ativos no período (16,5%). Entre os 13 países, a alta na média foi de 12%.
<b>Grandes países perdem em dez anos</b>
Considerando a representatividade de cada um dos mercados dentro do universo de países pesquisados, apenas duas nações registraram queda nos últimos 10 anos. No fim de 2000, os Estados Unidos representavam 63,4% do total. Hoje, respondem por 57,8%. Já o Japão caiu de 15,1% para 13,1% no período. O Brasil, por sua vez, cresceu de 0,5% para 1,3%. “Apesar de ter crescido, o mercado norte-americano perdeu representatividade exatamente pelo crescimento dos outros países”, justifica Alessandra.
A Austrália saltou de 70% para 103% na relação ativos dos fundos em comparação com o PIB, com um crescimento de 33 pontos percentuais. Neste quesito, o Brasil registrou um crescimento bem mais modesto, saltando de 12% do PIB em 2000 para 17% em 2010 (alta de cinco pontos percentuais). Mas, de acordo com a consultora, os índices de crescimento do País no período têm impacto na análise desse aspecto. “É preciso levar em conta o crescimento do PIB brasileiro”, afirma Alessandra.
Além da Austrália, outros países eu se destacaram nesse quesito foram África do Sul (alta de 21 pontos percentuais), Hong Kong (20), Grã-Bretanha (16) e Japão (12 pontos percentuais). Por outro lado, o Canadá foi o mercado com maior decréscimo do percentual de ativos na relação com o PIB (menos 19 pontos percentuais), de 92% em 2000 para 73% em 2010.
<b>Planos de contribuição definida</b>
Nos últimos 10 anos, os ativos dos planos CD (contribuição definida) cresceram na taxa de 7,5% ao ano, enquanto os ativos dos chamados planos BD aumentaram em índice muito menor (cerca de 2,9% ao ano). Atualmente, os ativos dos planos CD representam cerca de 44% dos ativos totais dos fundos de pensão, comparados a 40% em 2005 e 35% em 2000. “Isso mostra a grande tendência de crescimento e estabelecimento dos planos CD em todo o mundo,” afirma Alessandra. “Se a gente falar de Brasil, o percentual de ativos de planos CD ainda é muito mais alto.”
Os mercados com maior proporção de planos CD são Austrália (81%), Suíça (60%) e Estados Unidos (57%), ao passo que o Japão é um mercado formado basicamente por planos BD (98%). “A Holanda, que, historicamente, é formada em sua grande maioria por planos BD, sempre trouxe modelos inovadores de gestão e governança, exatamente porque é um mercado gigante de fundos de pensão, que representam mais de 100% do seu PIB”, comenta Alessandra. “Mesmo assim, é um país que tem migrado para os planos CD. O número de planos CD na Holanda tem aumentado sensivelmente nos últimos 10 anos.”
Com relação à alocação de ativos, no fim de 2010, a média dos sete principais países foi de 47% em ações, 36% em renda fixa, 31% em cash e cerca de 19% em outros ativos, como imóveis e private equity, entre outros. A Grã-Bretanha (55%) é o país com maior percentual de alocação de ações, seguido por Austrália e Estados Unidos (ambos com 49%). A média global de alocação em ações é de 47%. Japão (56%) e Holanda (50%) são as duas nações com maior percentual de alocação em títulos.
O estudo da Towers Watson apontou sinais claro de redução da tendência de investimento em ações domésticas. Conforme a pesquisa, o mercado americano de fundos de pensão ainda é o mais dependente de ações domésticas, com cerca de 70% do total investidos em seu próprio mercado. Em 2000, esse nível era de 80%. Apesar da excelente fase pela qual atravessam os fundos de pensão em território nacional, Alessandra Cardoso chama a atenção sobre a busca de foco no longo prazo. “Por mais que a gente esteja vivendo um momento de alta de taxa Selic, de alta dos juros, exatamente pelo aquecimento da economia e da alta da inflação, o que a gente vê nas taxas de longo prazo, é que elas continuam muito mais baixas do que no passado. Então, o nosso desafio se mantém”, afirma a consultora. “Apesar do momento de alta da Selic, que dificulta as pessoas olharem para o longo prazo, nosso grande desafio na gestão dos investimentos de fundos de pensão é o foco no longo prazo: como a gente vai continuar tendo crescimentos significativos dos nossos ativos?”
Deixe um comentário