Centenas de mulheres estão reunidas neste momento no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, em São Paulo, para mais um protesto contra o estupro. Chamado de Por Todas Elas, o segundo ato contra o estupro foi convocado pelas redes sociais e ocorre em diversas cidades do país, lembrando o caso da adolescente de 16 anos que sofreu estupro coletivo no Rio de Janeiro.
A intenção das mulheres é sair em caminhada, provavelmente até a Praça Roosevelt, no centro da cidade.
A cientista social Paula Kaufmann, 24 anos, que faz parte do coletivo Juntas, um dos movimentos organizadores do ato, disse que a manifestação de hoje é em solidariedade à vítima do estupro coletivo no Rio de Janeiro.
“A ideia desse ato é tanto prestar solidariedade a ela quanto denunciar esse tipo de caso e como existe negligência do Poder Público em tratar a questão da violência contra a mulher com políticas públicas. É preciso pensar em uma maneira de extinguir esse problema, seja por meio da educação, inserindo a educação de gênero e contra a violência nas escolas, ou de acolhimento das mulheres vítimas de violência, mas também de punição desses criminosos que praticaram estupro”, acrescentou Paula.
Além de várias faixas criticando o machismo e o estupro, as mulheres trouxeram um varal com várias roupas femininas penduradas, todas manchadas de sangue. Muitas delas pintaram o rosto com o símbolo feminino. De mãos dadas, elas também fizeram um imenso círculo no vão livre. Em círculo, elas cantaram: “Companheira me ajude, que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor.”
Algumas decidiram tapar a boca com a mensagem O Silêncio Mata. Foi o caso da administradora de mídias sociais Larissa Bortoloso, 25 anos. Larissa foi molestada quando era criança e contou que, na época, a família tentou manter o caso em silêncio.
“Fui silenciada quando aconteceu comigo, aos 12 anos. Isso, de uma forma, quase me matou, porque tentei me suicidar. Várias mulheres que são violentadas ou estupradas também não falam, não denunciam e acabam morrendo. Me enterraram várias vezes”, afirmou.
Larissa perdeu os pais quando tinha 8 anos e foi morar com uma de suas irmãs. “O cunhado dela me molestava enquanto eu dormia. Quando tive coragem de contar, eles levaram uns líderes religiosos em minha casa, fizeram esse pacto e encobriram. Eu não podia contar para ninguém.”
Agora, quando consegue falar sobre o caso, Larissa aconselha as demais mulheres que sofreram violência a não manter o silêncio e denunciar o caso às autoridades competentes. “É preciso ter cuidado em quem vocês vão confiar e fazer um escândalo, sair na rua gritando que você foi estuprada. Porque se você não fizer um escândalo, ninguém vai ajudá-la.”
Além do estupro, as mulheres denunciam outras formas de violência. Um grupo de mulheres que trouxeram seus filhos ao ato, por exemplo, denunciou a violência obstétrica. Foi o caso de Mayra Simon, 22 anos, mãe de Antonela.
“Acho importante trazê-la porque ela é mulher e vai entender algum dia porque estamos aqui. Ela vai sofrer machismo também na pele e achei importante trazê-la. A maior violência que sofri foi no nascimento dela. Fui tratada como um animal em uma cela. Me induziram ao parto normal, que eu tanto queria, mas forçaram com medicação. Fiquei 13 horas sozinha no pré-parto. Não pude ficar com meu marido. Não pude pegá-la no colo quando ela nasceu. Fui levada para a cesárea, porque, com certeza, a indução não deu certo porque não era indicada. Fui cortada ao meio. Não pude amamentar minha filha nas primeiras 12 horas de vida. Isso foi o maior trauma de minha vida”, concluiu Mayra.
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