Consideradas as grandes marcas da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), as ciclovias aliviam o trânsito, permitem uma alternativa sustentável e são uma tendência mundial para o transporte público. Como reconhecimento, a prefeitura foi eleita uma das vencedoras da 10ª edição do Sustainable Transportation Award (Prêmio Transporte Sustentável) por conta 150 km de ciclovias e mais de 460 km de faixas exclusivas para ônibus. A premiação, organizada pelo Institute for Transportation and Development Policy (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), aconteceu no inicio do ano, em Washington, nos Estados Unidos.
Segundo a doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Meli Malatesta, a ciclovia representa um marco para a cidade e uma quebra de paradigmas em relação ao transporte. A urbanista também criticou uma dependência excessiva do automóvel: “Muitos têm dependência dele não só pela mobilidade, mas também por uma questão psicológica que envolve o automóvel. Mesmo que seja para ir à esquina comprar pãozinho, ele vai de carro”. Em entrevista à Brasileiros, ela destaca a importância de se conquistar um espaço exclusivo na principal avenida da cidade de São Paulo e compara às cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.
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Brasileiros – Qual é a importância da ciclovia da Av. Paulista?
Meli Malatesta – Se um dia alguém escrever a história dos espaços públicos de São Paulo, vai perceber o “antes e depois” da ciclovia da Paulista porque ela é um marco para a cidade. Seria mais ou menos como aconteceu na Times Square, em Nova York. É uma data importante e eu sou totalmente favorável. Não é só mais uma ciclovia, é uma quebra de paradigmas, uma mudança de comportamento para mostrar às pessoas que há vida fora do automóvel.
Devemos abolir a dependência do automóvel então?
Não é questão de abolir o carro de vez, porque é necessário para algumas situações. Muitos têm dependência dele não só pela mobilidade, mas também por uma questão psicológica que envolve o automóvel. Mesmo que seja para ir à esquina comprar pãozinho, ele vai de carro. É uma necessidade de ficar dentro de uma caixa de aço ocupando espaço público que é dividido entre várias pessoas. Ele não consegue sair da zona de conforto, nem que para isso ele sacrifique parte do dia dele preso em um congestionamento. A ciclovia da Paulista significa outra forma de vida, uma espécie de liberdade, um resgate dos espaços públicos da cidade de São Paulo que foram aos poucos tirados das pessoas e destinados ao tráfego motorizado de maneira geral.
Qual é a diferença entre a cidade de São Paulo e outras cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que foram premiadas recentemente por avanços em mobilidade urbana?
O Rio de Janeiro já tinha uma vocação cicloviária bem anterior a São Paulo. É covardia não ter uma ciclovia lá porque cidade de praia já nasce com uma. As pessoas instintivamente já procuram uma bicicleta. São espaços públicos de circulação e fica muito mais fácil de ser absorvido. Belo Horizonte é uma cidade que tem alguns espaços públicos interessantes, mas do ponto de vista da mobilidade cicloviária ainda está bem no começo.
E quanto a Brasília que possui a maior extensão de ciclovias do País?
Brasília é uma cidade de grandes extensões. É setorizada, tem aquelas avenidas que mais parecem rodovias com grandes canteiros centrais. Então, por essa característica não dá para comparar com Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte. Brasília é uma cidade fruto das diretrizes do urbanismo moderno. Eu considero Brasília extremamente desumana e dificulta muito a relação entre as pessoas. O urbanismo daquela cidade é ultrapassado, não é nada sustentável, pois envolve um grande espraiamento da cidade. Cidade sustentável é outra coisa.
Além da sustentabilidade, o que mais representa a ciclovia da avenida Paulista?
Ela significa uma vitória da mobilização da sociedade. Se formos pensar, as pessoas que usam bicicleta – comparados às outras que usam outros transportes na cidade- estão em um número menor. Elas tiveram poder de mobilização e articulação na sociedade tão grande ao ponto de conseguirem ganhar espaço exclusivo em uma avenida que é um ícone da cidade.
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