A palavra “homofobia” nem deveria se referir ao ódio contra gays. Sua tradução do grego é “medo de iguais”, apenas isso, explica o psicanalista Francisco Daudt em artigo para o jornal Folha de S.Paulo. Para o especialista, o preconceito contra homossexuais se deve à formação da identidade masculina desde a infância e ao horror ao diferente, presente, principalmente, em quem não é um heterossexual verdadeiramente convicto.
Daudt explica que a rejeição aos gays começa com a rejeição ao feminino, quando os meninos se juntam em um clube do Bolinha em que “menina não entra”. “Quem se comportar ‘diferente’ vai ser chamado de ‘mulherzinha’, ‘mariquinha’. Veja bem: não é ‘viadinho’. Não, o errado é parecer menina.”
Com o tempo, a relação de fidelidade entre os homens aumenta, um “amor silencioso” que só muda no “pileque”: “Aí seus afetos tornam-se explícitos e sentimentais”. No restante do tempo, os amigos vivem se patrulhando.
Para o psicanalista, “existem 50 tons de cinza” entre um hétero absoluto e um gay absoluto. “De modo que não é incomum um hétero entrar em crise com sua identidade masculina” depois de tamanha patrulha quanto a qualquer atração “incorreta”: “Essa é a hora da ameaça, véspera do ódio. Como um islâmico inseguro de sua fé, que precisa matar os infiéis por isso, o ‘abalado’ sai à caça do seu novo inimigo: está inaugurado o homofóbico perigoso”, diz.
Continua o estudioso: “Ele quer matar fora algo que mora dentro de si: a suspeita de amor ‘errado’, capaz de destruí-lo como o ‘homem’ que ele se concebeu ser. É quando homofobia retorna ao seu sentido original: medo de iguais. Pois não existem homofóbicos entre héteros absolutos. Eles não estão nem aí…”
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