Em meio ao clima de solidariedade e tristeza pelas vítimas do massacre que deixou 49 vítimas em uma boate gay, chamada Pulse, nos Estados Unidos, ativistas do movimento LGBT no Brasil destacam que não se pode apagar do ataque a sua motivação homofóbica.
Representante na América Latina da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais,Transexuais e Intersexuais (Ilga), Beto de Jesus disse que a situação não era inesperada, já há um discurso recorrente de ódio aos LGBTs que circula nos Estados Unidos, no Brasil e em outras partes do mundo. “Ninguém nasce homofóbico, ninguém nasce racista e ninguém nasce misógino. A gente aprende a ser e aprende em espaços que não deveriam ensinar isso. Se as escolas fossem espaços de respeito à diversidade em que você pudesse discutir de forma aberta as questões, você não teria ou teria de uma forma muito menor situações como essa, porque o entendimento das diferenças seria algo muito mais fácil”
Coordenador do programa Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento concorda que o debate nas escolas pode ser uma das ferramentas para combater o discurso de ódio. Cláudio pediu que o governo federal incentive a ação de todos os Estados contra esse problema.
Para Cláudio, a discussão da diversidade de gênero nas escolas, a adoção de leis que criminalizem a homofobia e a adoção no resto do País de meios para denúncia, como o Disque Cidadania LGBT, um telefone 0800 que funciona 24 horas por dia no Rio de Janeiro são extremamente necessários. “O governo federal precisa fazer uma grande campanha nos Estados. Ele não pode ficar refém da posição dos fanáticos religiosos, que invadiram a política e querem fazer dela instrumento de seus posicionamentos religiosos.”
Ontem, em pronunciamento na TV, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, informou que o ataque está sendo investigado pelo FBI como um ato de terror. “Vamos aonde quer que os fatos nos levem, o que está claro é que ele (o atirador) era uma pessoa cheia de ódio”, disse o presidente, que destacou que a boate era mais do que apenas uma casa noturna: “era um lugar de solidariedade e empoderamento (para a comunidade gay)”.
Militante dos direitos LGBT, a ativista transexual Indianara Siqueira lembra que o Brasil é um País onde massacres como esse nunca aconteceram, mas que sofre com uma rotina de assassinatos de transexuais e homossexuais. Para ela, ter recebido a notícia no Dia dos Namorados foi especialmente doloroso para os LGBTs brasileiros: “É um dia que é para se comemorar o amor e a população LGBT – que já não tem o direito de comemorar esse dia livremente nas ruas de mãos dadas e demonstrando o amor em público – ainda recebe essa notícia. Foi muito agressivo também pra gente que é ativista e que está sempre sob ataque”, conta ela, que destaca que mesmo dentro dos movimentos LGBT e feminista a população trans é agredida e silenciada.
Estudioso da perseguição a LGBTs na ditadura militar brasileira, Renan Quinalha argumentou que é pertinente entender as outras motivações do ato, como o suposto extremismo religioso, mas não se pode esquecer a homofobia. “O que aconteceu hoje é homofobia em estado puro e bruto. Chamemos as coisas pelo que são, porque tão ruim quanto a violência é sua própria invisibilidade”, escreveu ele, que acrescentou: “Homofobia continuará existindo mesmo se acabarmos com o terrorismo, se destruirmos o fundamentalismo religioso e se banirmos as armas de fogo do mundo. Nesse sentido, a homofobia do atirador é a mesma que mata todos os dias, das mais diferentes formas, em qualquer outro lugar do mundo, ainda que com outras justificativas”.
*Com Agência Brasil
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