O amor, no dia seguinte! Evento marcou ação colaborativa em São Paulo

No último sábado, cerca de três mil cidadãos foram à Avenida Paulista para manifestar indignação com o resultado das eleições e defender o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Entre as lideranças de extrema-direita que discursaram para a multidão estiveram na marcha o roqueiro Lobão, o professor Bene Barbosa, presidente da ONG Movimento Viva Brasil, que defende o direito ao porte de armas, e o recém-eleito deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP).

Filho do também deputado federal Jair Bolsonaro (PP – RJ), Eduardo – que é policial federal e, portanto, possui porte – carregava uma pistola automática na cintura, como é possível verificar no vídeo divulgado ontem, 02.11, pelo ativista Caio Castor (assista)

Mas outras “armas” dos indignados com a derrota no segundo turno também chamaram a atenção. No vídeo de Castor, é possível notar manifestações de ódio, pessoas contrárias à marcha sendo hostilizadas e, o mais alarmante, cidadãos defendendo a volta do regime militar, meio século após ter início o pesadelo de 21 anos que ceifou vidas, esfacelou outras e amordaçou toda uma geração de brasileiros (leia sete reportagens especiais sobre o golpe civil-militar de 1964).

Se o sábado foi de ódio e aversão a princípios democráticos, na Paulista, no domingo, a cidade foi palco de uma manifestação de fraternidade e celebração ao convívio pacífico. Organizada pelo grupo Calefação Tropicaos uma festa, gratuita, com o propósito de ocupar espaços públicos e promover encontros entre a juventude paulistana, foi realizada na Praça Waldir Azevedo, amplo espaço verde, também conhecido como Mirante da Lapa, no Alto da Lapa, zona Oeste da cidade.

O evento foi organizado de forma colaborativa, com autorização da Prefeitura de São Paulo, e reuniu centenas de pessoas, de todas às idades, entre as 14h e às 22h. Durante oito horas, a festa foi embalada por música brasileira, jamaicana e dos balcãs, com a participação dos DJ’s Julião Pimenta, Pita Uchoa e a dupla Venga Venga, formada por Deny Azevedo e Ricardo Don.     

Além da programação musical, a produção do evento também espalhou redes pela praça, colocou adereços em árvores, disponibilizou um pêndulo humano e bambolês, formando um mosaico multicolorido em um espaço cotidianamente fadado ao abandono. Na raiz de algumas árvores, era possível ver dezenas de pequenos vasos com flores artificiais para as pessoas levarem de recordação. Em meio aos jovens não foram poucas as famílias com crianças, cães e casais de idosos que, percebendo a movimentação, saíram de suas casas para também aproveitar o domingo na praça que leva o nome do autor do choro Brasileirinho.

No final, outro exemplo de civilidade foi deixado pelos participantes do evento, que chegaram a levar dezenas de garrafas pet com água de reuso para utilizar nos banheiros: apesar do domingo atípico, com a praça tomada por uma multidão, não havia sequer vestígios do lixo produzido durante a festa.

Àqueles que amam a cidade e prezam a democracia resta torcer que a São Paulo que foi para a Paulista no sábado seja urgentemente contagiada pelo espírito fraternal dessa metrópole que foi ontem ao Mirante da Lapa. Os dois temas tratados aqui podem parecer díspares, mas ninguém há de discordar que a mentalidade progressista pode tornar São Paulo uma cidade muito melhor.    

No próximo dia 30 de novembro a Calefação Tropicaos realizará outro evento gratuito, na Casa das Caldeiras. Confira os detalhes.

Todas as fotos da matéria foram gentilmente cedidas pelos participantes do evento. 


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