“Pequenas ações podem resolver grandes problemas”

São José do Rio Preto, no noroeste do Estado de São Paulo é um município de 420 mil habitantes com seis universidades, detendo a exclusividade de sediar duas unidades da Faculdade de Tecnologia (Fatec) e ser referência na área de transplantes de rim, coração, pâncreas e fígado, além de contar com indústrias de alta tecnologia, como a Braile Biomédica, que produz válvulas cardíacas e exporta para mais de 40 países. No ensino público, destaca-se o campus da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (Unesp), com seu Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), e a Faculdade de Medicina (Famerp).

No comando da cidade há dois anos e oito meses, o prefeito Valdomiro Lopes da Silva Júnior apresenta uma visão política sobre o uso democrático da ciência como agente de transformação. Usa como referência a excelência da Embrapa: “Essa empresa é ouro em pó, e eu acho que se investe muito pouco nela. O nosso negócio é o agronegócio. E o negócio da Embrapa é produzir mais, cada vez mais, na mesma quantidade de terra”, diz.

Ao lembrar do período em que frequentava o grupo escolar, como era chamado o ensino básico, o prefeito alertou para a necessidade de “voltar no tempo” e resgatar a qualidade da educação pública. “Na minha época, também existia escola particular, mas só iam para essas escolas os alunos que não conseguiam entrar na escola pública, que era muito mais difícil. O nível era outro”, arremata.

Depois de três mandatos como deputado, Lopes assumiu a prefeitura de Rio Preto disposto a mudar os índices negativos da cidade. Uma de suas primeiras ações foi a criação de um parque tecnológico – ParTec Rio Preto – onde antes funcionava o Instituto Penal Agrícola. O local, com 264 mil metros quadrados, vai abrigar um novo distrito industrial, que receberá cerca de 50 empresas de tecnologia nos próximos dez anos. Embora seja referência no ensino superior, principalmente na área médica, o município, explica Lopes, enfrentava graves problemas na educação e na saúde pública. “Havia muitas crianças pedintes na ruas. Descobrimos que essas crianças vinham da periferia da cidade”, relata, explicando que Rio Preto não tem favelas, mas cerca de 70 mil pessoas viviam em loteamentos irregulares, onde a Prefeitura estava legalmente impedida de realizar investimentos até que fossem regularizados. A solução foi o governo comprar essas áreas. “Hoje, estamos atingindo mais ou menos 60% dessas pessoas”, diz.

O grande projeto educacional implantado no município foi a construção de superescolas, chamadas de Núcleos da Esperança. “Cada núcleo é um conjunto de duas escolas, uma infantil e outra de ensino fundamental. E, entre as duas escolas, temos uma infraestrutura esportiva com piscina, campo de futebol e quadra poliesportiva”, diz.

Lopes explica que, por enquanto, são só quatro superescolas porque o investimento é 100% municipal. Cada Núcleo da Esperança exige um investimento inicial de R$ 20 milhões. “A principal reclamação das crianças era que o lugar onde elas moravam era horrível, feio, não tinha nada. Nem a estrada era asfaltada. Com recursos do governo do Estado, conseguimos asfaltar as principais estradas”, conta o prefeito.

E, agora, com os Núcleos da Esperança, onde os estudantes vão permanecer do ensino infantil até o fundamental, o prefeito afirma acreditar que haverá uma transformação na realidade das crianças e dos adolescentes da periferia de Rio Preto.

Os problemas na área de saúde pública também foram atacados em paralelo. Para Lopes, muitas vezes, pequenas ações, com o uso de tecnologia comum, podem resolver grandes problemas na vida das pessoas. “Nós tínhamos uma faculdade de medicina top, médicos de excelente qualidade e a saúde pública pessimamente avaliada”, relata o prefeito.

Segundo estatísticas de 2009, a espera por um atendimento para clínica médica era de três a quatro meses, e 15 mil pessoas haviam sido atendidas. O índice de absenteísmo (pacientes que não compareciam à consulta) era de mais de 35%. “Esse absenteísmo acontecia por três motivos: quem precisava da consulta ou já tinha morrido ou sarado ou procurado outros meios”, exagera.

Outro levantamento da Prefeitura mostrou que havia 1 milhão de prontuários médicos nos postos de saúde. Comparando com o número de habitantes, chegou-se à conclusão de que havia prontuários duplicados e até quadruplicados, o que fazia crescer, e muito, os gastos com saúde pública. O prefeito exemplifica: “A pessoa fazia exame de hemograma num posto de saúde, ia para outro, e o médico, como não sabia que ela já tinha feito o exame, pedia de novo”.

A solução encontrada, com “tecnologia simples”, salienta Lopes, foi o adotar o sistema de overbooking utilizado pelas empresas aéreas, marcando consultas a mais, e um sistema de agendamento com hora marcada. Resultado: as consultas passaram de 15 mil para 33 mil. Para resolver o problema dos prontuários, usou-se a biometria. Com isso, diz o prefeito, melhorou a qualidade e a assistência para as pessoas.

Em sua palestra no seminário, o prefeito Valdomiro Lopes da Silva Júnior citou o neurocientista Miguel Nicolelis, orador da abertura do painel: “O bom político, aquele que quer fazer a boa política, é como o cientista: deseja mudar o mundo para que as pessoas tenham mais oportunidade, educação e uma vida melhor”.


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